Com quase R$ 10 trilhões investidos no mundo, a Noruega criou o maior fundo soberano do planeta e poderia pagar R$ 1,8 milhão a cada cidadão.
Poucos países no planeta conseguiram transformar recursos naturais em prosperidade de forma tão eficiente quanto a Noruega, uma nação de apenas 5,5 milhões de habitantes que hoje é considerada o país mais rico per capita do mundo. Graças a uma combinação de planejamento econômico, transparência e uma política de longo prazo voltada à sustentabilidade, o país escandinavo acumulou um fundo soberano superior a 2 trilhões de dólares, o equivalente a quase R$ 10 trilhões na cotação atual.
Esse valor monumental é administrado por uma instituição pública chamada Norges Bank Investment Management (NBIM) e está espalhado por mais de 70 países, aplicado em ações de 9 mil empresas, títulos públicos e investimentos imobiliários de alto padrão. Na prática, a Noruega é dona de 1,5% de todas as ações negociadas nas bolsas mundiais — algo inédito para uma nação de seu porte.
Se essa riqueza fosse dividida igualmente entre os noruegueses, cada cidadão receberia cerca de R$ 1,8 milhão, o que ilustra o tamanho da fortuna construída ao longo de pouco mais de três décadas de disciplina econômica.
-
Casal limpa o quintal e encontra por acaso pedra com escritura misteriosa, FBI é acionado e o artefato coincide com uma peça dada como desaparecida de Museu na Itália
-
Com 19 anos esse jovem abandonou a faculdade e arrecadou US$ 2,6 mi para turbinar memória da IA e chama atenção de executivos da OpenAI e Google
-
O Teatro Amazonas, em Manaus, foi uma obra faraônica do ciclo da borracha, construído com mármore da Itália e vidros da França
-
A nova Ponte de Guaratuba, uma das obras mais aguardadas do Sul, terá mais de 1,2 km de extensão sobre o mar, vai acabar com as longas filas da antiga balsa e promete revolucionar o turismo no Paraná
A origem do tesouro norueguês: petróleo e prudência
O segredo do sucesso norueguês começou a ser escrito nos anos 1960, quando foram descobertas enormes reservas de petróleo e gás natural no Mar do Norte.
Ao contrário de outros países que desperdiçaram receitas do petróleo em gastos imediatos, a Noruega adotou uma postura de extrema cautela.
Em 1990, o governo criou o Fundo Global de Pensão do Governo (Government Pension Fund Global – GPFG), com uma missão clara: investir os lucros do petróleo no futuro das próximas gerações.
A lei proibia o uso irrestrito dos rendimentos para despesas públicas, permitindo apenas uma retirada anual limitada a 3% do valor total do fundo — uma espécie de “dividendo nacional” usado para financiar saúde, educação, infraestrutura e políticas ambientais.
Com o tempo, a riqueza cresceu de forma exponencial. Os preços internacionais do petróleo, somados à estratégia de investimento em ações e títulos estrangeiros, transformaram o fundo em uma das maiores reservas financeiras já criadas por um país.
Como o fundo é administrado e onde está o dinheiro
Diferente de fundos estatais em outros países, o fundo norueguês é conhecido pela transparência e governança exemplar.
Gerido pelo NBIM, braço do Banco Central da Noruega, ele publica relatórios trimestrais com todos os detalhes de seus investimentos incluindo empresas, valores e lucros obtidos.
Em 2024, a carteira do fundo era composta por:
- 72% em ações globais, distribuídas em mais de 9 mil empresas;
- 26% em títulos públicos e privados;
- 2% em imóveis e energia renovável.
A Noruega é acionista de gigantes como Apple, Microsoft, Amazon, Nestlé, Toyota, Google, Shell e Petrobras.
Só o lucro obtido com dividendos e valorização de ativos rendeu mais de US$ 200 bilhões em 2023, um valor maior que o PIB de muitos países desenvolvidos.
Um fundo que pertence ao povo
O mais impressionante é que o fundo não pertence ao governo, mas ao povo norueguês.
Cada centavo é considerado patrimônio nacional, e a administração é supervisionada pelo Parlamento, pelo Ministério das Finanças e por auditores independentes.
O objetivo declarado é simples e poderoso: garantir o bem-estar das futuras gerações, mesmo após o fim do petróleo.
Enquanto o Brasil e outras economias dependentes de commodities enfrentam ciclos de alta e queda, a Noruega construiu um sistema capaz de gerar renda estável e previsível por décadas.
A estratégia também funciona como um escudo contra crises globais — quando o preço do petróleo cai, os rendimentos de ações e títulos compensam as perdas.
Riqueza sem ostentação e foco em qualidade de vida
Apesar da fortuna trilionária, a Noruega é um exemplo de modéstia e equilíbrio econômico. O país evita gastos desnecessários e mantém uma das menores taxas de desigualdade social do planeta.
Nas ruas de Oslo, não há ostentação de luxo: os recursos do fundo são direcionados para educação gratuita de excelência, sistema público de saúde universal e investimentos em energia limpa.
O modelo norueguês é considerado por economistas uma “lição de humildade macroeconômica”. Em vez de transformar o petróleo em riqueza efêmera, o país transformou-o em educação, bem-estar e segurança econômica duradoura.
Um exemplo que o mundo inteiro observa
O Fundo Soberano da Noruega é frequentemente citado em relatórios do FMI, Banco Mundial e OCDE como o modelo mais eficiente e transparente de gestão pública de recursos naturais.
Outros países tentaram seguir o mesmo caminho como Catar, Emirados Árabes e Chile —, mas nenhum alcançou a combinação de estabilidade política, controle fiscal e ética pública norueguesa.
Hoje, o fundo está avaliado em mais de US$ 2 trilhões, o que equivale a cerca de R$ 10 trilhões, e continua crescendo. O rendimento médio anual supera 5% ao ano, o suficiente para sustentar as próximas gerações mesmo que a exploração de petróleo fosse encerrada amanhã.
Um país pequeno, um fundo gigantesco e uma grande lição
Com uma população equivalente à da cidade do Rio de Janeiro, a Noruega conseguiu o que poucas nações ousaram tentar: transformar uma fonte finita (petróleo) em riqueza permanente.
O fundo soberano é hoje maior que o PIB de países como Brasil, Canadá ou Rússia, quando ajustado à proporção per capita. É a demonstração clara de que planejamento, transparência e visão de longo prazo podem fazer de um país pequeno um gigante global.
Se há um exemplo de como administrar a abundância com sabedoria, é a Noruega — um país que literalmente poderia pagar R$ 1,8 milhão a cada cidadão e ainda manter bilhões em reservas para o futuro.