A Muralha de Adriano marcou o limite do Império Romano por séculos, revelando vestígios de guerra, vida cotidiana e resistência no norte da Inglaterra
A Muralha de Adriano marcou por 300 anos o limite mais setentrional do Império Romano. Ela se estende por cerca de 118 quilômetros no norte da Inglaterra, entre Bowness-on-Solway, a oeste, e Wallsend, a leste.
A construção começou por volta de 122 d.C., logo após a visita do imperador Adriano, que governou entre 117 e 138 d.C.
Seu objetivo era consolidar as fronteiras do Império. Inglaterra e País de Gales estavam sob domínio romano desde 61 d.C., após a derrota da rainha Boudica. Já a Escócia resistiu, graças aos caledonianos, que impediram a ocupação permanente.
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Essa resistência levou Adriano a criar uma barreira defensiva, separando o sul romanizado do norte ainda independente.
Estrutura e dimensões da muralha
Soldados das legiões II, VI e XX construíram a muralha com materiais locais. A parte leste, de pedra, media 65 km de comprimento, 3 metros de largura e cerca de 4,4 metros de altura. Depois, foi estendida até Wallsend.
A parte oeste, feita de turfa, se estendia por 47 km até Bowness-on-Solway. Sua largura chegava a 5,9 metros. Segundo o pesquisador Nic Fields, a escolha da turfa indicava pressa em concluir essa seção.
Ao norte da muralha, havia um fosso em formato de V. Ao sul, foi construído o “vallum”, outro fosso ladeado por grandes montes de terra, funcionando como defesa adicional.
A cada milha, havia um “castelo de milha”, com um pequeno portão e capacidade para alguns soldados. Entre eles, duas torres eram erguidas. Fortalezas maiores apareciam a cada 11 km, com até 9 acres de área e formato retangular.
Essas fortalezas incluíam prédios como a principia (quartel-general), o pretório (residência do comandante) e celeiros (horrea). Os quartéis e outras estruturas ocupavam as áreas dianteira e traseira.
Mulheres na fronteira
Escavações no forte de Vindolanda revelaram centenas de tábuas de madeira com inscrições latinas. Elas mostram que alguns comandantes viviam com suas esposas, como Sulpícia Lepidina e Cláudia Severa, que trocavam cartas.
Essas mensagens tratavam de assuntos cotidianos, como convites para visitas. Cláudia, por exemplo, convidou Sulpícia para seu aniversário, dizendo que a presença da amiga tornaria o dia mais agradável.
Soldados de patentes inferiores não podiam se casar oficialmente, mas muitos mantinham esposas e filhos em assentamentos próximos, mesmo contrariando as regras.
Vestígios do cotidiano
Vindolanda também preservou milhares de artefatos de couro. Foram encontrados painéis de tenda, selas, bolsas e principalmente sapatos de homens, mulheres e crianças, provando que a vida militar incluía famílias.
No forte de Magna, arqueólogos encontraram sapatos equivalentes ao tamanho 14 masculino nos EUA. Eles podem indicar soldados muito altos ou o uso de camadas extras para enfrentar o frio e a umidade.
Além disso, surgiram espadas de brinquedo, possivelmente usadas por filhos de soldados, e evidências de percevejos que infestavam os acampamentos.
Mudanças ao longo dos séculos
Após a morte de Adriano, seu sucessor Antonino Pio abandonou a muralha e avançou para o norte, construindo a Muralha de Antonino na Escócia. Essa conquista durou pouco e, ao fim de seu reinado, a Muralha de Adriano foi retomada.
Houve modificações importantes, como substituir trechos de turfa por pedra e construir uma estrada militar ao sul. Com o tempo, as torres foram desativadas e os portões estreitados.
No século IV, sob maior pressão militar, alguns portões foram bloqueados totalmente.
Declínio e reutilização
Com o colapso do Império Romano no século V, a muralha perdeu função estratégica. Suas pedras foram reaproveitadas para castelos medievais.
Um ponto icônico da muralha era o Desfiladeiro dos Sicômoros, com uma árvore centenária que atraía visitantes. Em 2023, ela foi derrubada ilegalmente, e os responsáveis responderam por danos à árvore e à própria muralha.
Muralha de Adriano: um símbolo histórico
Ao longo dos séculos, a Muralha de Adriano deixou de ser apenas uma estrutura militar para se tornar um símbolo da presença romana na Grã-Bretanha.
Mesmo com partes destruídas ou reaproveitadas, ela continua atraindo pesquisadores, turistas e curiosos, preservando histórias de resistência, adaptação e vida cotidiana no limite do Império.
Com informações de Live Science.