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A mina de terras raras de investidores dos EUA em Goiás que vendeu toda a sua produção para a China e tem contrato até 2027

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 26/06/2025 às 13:36
Atualizado em 28/06/2025 às 21:20
A "Mina de Ouro" de Goiás: A História da Serra Verde, a Mina de Terras Raras do Brasil que Vende sua Produção para a China
A “Mina de Ouro” de Goiás: A História da Serra Verde, a Mina de Terras Raras do Brasil que Vende sua Produção para a China
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Financiada por capital ocidental para quebrar a dependência da China, a maior mina de terras raras do Brasil se tornou, por ironia, uma fornecedora estratégica para a indústria de seu principal concorrente.

No sertão de Goiás, uma nova e estratégica mina de terras raras entrou em operação e já nasce no centro de um paradoxo geopolítico. A Serra Verde Mineração, em Minaçu, foi financiada por investidores dos Estados Unidos e do Reino Unido com um objetivo claro: criar uma nova fonte de minerais críticos fora da China. No entanto, a realidade do mercado se impôs de forma implacável.

A empresa confirmou que vendeu a maior parte de sua produção inicial para compradores chineses, em contratos que vão até, pelo menos, 2027. A história da mina Serra Verde é um caso exemplar de como a China joga o xadrez dos minerais críticos e de como boas intenções podem, na prática, acabar fortalecendo o domínio do seu maior rival estratégico.

O que é a mina Serra Verde? Um ativo estratégico no coração de Goiás

A mina Pela Ema, operada pela Serra Verde em Minaçu (GO), é um ativo único. Trata-se do maior depósito de terras raras de argila iônica conhecido fora da China. Essa característica geológica é sua maior vantagem, pois permite uma mineração de baixo custo e com menor impacto ambiental, muito similar à que os chineses dominam.

O produto da mina é um concentrado rico nos quatro elementos de terras raras mais valiosos para a indústria de tecnologia: neodímio, praseodímio, térbio e disprósio. Eles são essenciais para a fabricação de ímãs de alta performance usados em motores de carros elétricos, turbinas eólicas e sistemas de defesa.

Capital ocidental para um projeto “pró-China”

A mina de terras raras de investidores dos EUA em Goiás que vendeu toda a sua produção para a China e tem contrato até 2027

O projeto da Serra Verde foi impulsionado por um consórcio de grandes investidores ocidentais, incluindo a Denham Capital (EUA) e a Vision Blue Resources (Reino Unido). O objetivo estratégico era claro: criar um campeão ocidental na produção de terras raras para diversificar a cadeia de suprimentos e reduzir a dependência da China.

O projeto recebeu, inclusive, o endosso da Minerals Security Partnership (MSP), uma aliança de 14 países liderada pelos EUA, que visa exatamente fortalecer as cadeias de minerais críticos. A contradição não poderia ser maior: o projeto emblemático do Ocidente para se contrapor à China tornou-se, na prática, um fornecedor de matéria-prima para a indústria chinesa.

A muralha da China: por que a Serra Verde vende suas terras raras para os chineses?

A decisão da Serra Verde de vender sua produção para a China não foi uma escolha, mas uma necessidade. A razão é simples e brutal: a China controla cerca de 90% de toda a capacidade mundial de refino e separação de terras raras, o elo mais complexo e lucrativo da cadeia.

O CEO da Serra Verde, Thras Moraitis, foi direto ao ponto ao justificar os acordos: os chineses “eram o único cliente que poderia processar o produto e separá-lo”. O Ocidente, ao longo de décadas, terceirizou essa capacidade industrial e agora paga o preço. Mesmo com uma nova mina, não há refinarias aliadas em escala para processar o material.

Os acordos de venda: um compromisso até 2027

A mina de terras raras de investidores dos EUA em Goiás que vendeu toda a sua produção para a China e tem contrato até 2027

Embora a data exata do anúncio do acordo seja incerta, a realidade contratual é clara. A empresa confirmou que já possui contratos de venda para a “maior parte da produção planejada” com processadores na China, e fontes do setor afirmam que esses acordos se estendem até, pelo menos, o ano de 2027.

A mina, que iniciou a produção comercial no começo de 2024, tem uma capacidade de 5.000 toneladas por ano e já estuda uma expansão que pode dobrar esse volume. Toda essa produção inicial está, portanto, contratualmente destinada a fortalecer a indústria chinesa.

Um xeque-mate chinês com terras raras

O caso da Serra Verde expõe a grande falha na estratégia ocidental. Não adianta financiar novas minas em países amigos se não existem fábricas aliadas para processar o minério. O resultado é uma dependência ainda mais complexa: o Ocidente agora depende do Brasil para a matéria-prima, e ambos dependem da China para os produtos de alto valor.

Para o Brasil, o acordo garante receita e a consolidação como um grande produtor. No entanto, o país se mantém na posição de mero exportador de commodity, capturando apenas uma fração do valor da cadeia. Para a China, a jogada é um xeque-mate: ela não apenas garante o fornecimento de terras raras de alta qualidade, como o faz usando o capital de seus próprios concorrentes, reforçando seu domínio global sobre os metais do futuro.

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Infante
Infante
27/06/2025 18:36

Aqui ficas contaminação, o buraco e a pobreza. Ufanismos …

Marilia
Marilia
27/06/2025 12:10

É porque o nosso governo não faz nada pra mudar isso? Nosso país é rico, mas os brasileiros continuam sendo explorados, porque não temos governantes que se importem em fazer nossas riquezas se tornarem fontes de prosperidade para todos os brasileiros… uma vergonha isso!

Horacio Rocha
Horacio Rocha
Em resposta a  Marilia
27/06/2025 17:07

Isso não é o governo, é o interesse industrial
O governo aqui não se envolve diretamente em interesse industrial como é na china a China tem outra cultura empsarial e nisso nós perdemos e todos os países de regime democrático perde da china.

Cláudio
Cláudio
Em resposta a  Marilia
01/07/2025 15:43

Oxe. Tu acha que os EUA não queriam ter refinaria de terras raras tbm não? Se fosse fácil todo mundo dominava.

Paulo Silva
Paulo Silva
27/06/2025 11:56

Em 1995 eu disse a um gerente nosso, em uma rodada de negócios envolvendo uma delegação chinesa; Vamos alimentar um dragão que lá na frente vai nos engolir… Me disseram; Acorda, se não, você será engolido agora, pela Globalização. Então inicialmente começamos trazer materia prima, (ajudamos os chineses a quebrar nossos fornecedores), depois passamos a importar o produto acabado, achando que tínhamos inventado a roda. Resultado; a empresa que trabalhávamos fechou em 2003, nossos clientes (grandes redes varejistas) foram comprar na China, estas redes acharam por sua vez que tinham inventado a roda, aí o tempo passou, a China veio com os APPs de venda direta ao consumidor ou sites que se especializaram em fazer o chamado Dropshipping, eu chamo de fraude fiscal e aí nossos varejistas quebram praticamente todos. A globalizão dos negócios sem a globalizão das regras iguais a todos não é justa e não pode ser aceita. Eu disse em 1995 e hoje reafirmo; Alimentamos o dragão e ele nos engoliu. Um detalhe, este dragão cresceu tanto que hoje é uma ameaça também a nível militar ao mundo todo…

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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