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A mina de ouro que parou o Brasil pode voltar à ativa: ex-garimpeiros lutam para reabrir Serra Pelada depois de três décadas de silêncio

Publicado em 10/11/2025 às 13:24
Reabertura da mina de ouro de Serra Pelada mobiliza mineradores no Brasil e recoloca América Latina no debate.
Reabertura da mina de ouro de Serra Pelada mobiliza mineradores no Brasil e recoloca América Latina no debate.
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A mina de ouro que parou o Brasil nos anos 1980 ainda mobiliza antigos trabalhadores, que defendem a volta das atividades mesmo após três décadas de paralisação e em meio a disputas internas e exigências ambientais.

A mina de ouro de Serra Pelada, no Pará, marcou a economia e o imaginário brasileiro ao reunir cerca de 100 mil trabalhadores em seu auge e se tornar um dos maiores garimpos a céu aberto da América Latina. Hoje, mais de 30 anos depois do fechamento, ex-garimpeiros articulam a reabertura da área e sustentam que ainda há potencial econômico, mas o processo é cercado de obstáculos legais, ambientais e de governança. O movimento revela que o episódio não ficou apenas na memória: ele ainda é visto por muitos como oportunidade de retomada social e financeira.

Ao mesmo tempo, a reativação de uma mina de ouro desse porte exige outro nível de controle do que o visto na década de 1980. A região amazônica está submetida a normas ambientais mais rígidas, a antiga infraestrutura está deteriorada e as próprias organizações que representam os garimpeiros acumulam dívidas e disputas internas. A volta de Serra Pelada, portanto, não depende apenas de vontade política ou de memória histórica, mas de capacidade técnica e institucional para operar uma atividade de alto impacto.

Serra Pelada ainda é referência para o garimpo brasileiro

Serra Pelada foi o símbolo da febre do ouro no país. A atração de uma maré humana em busca de enriquecimento rápido transformou o local em um núcleo econômico improvisado, com circulação intensa de pessoas, mercadorias e serviços.

O diferencial dessa mina de ouro era justamente o volume de trabalhadores e o fato de a operação ser predominantemente manual, o que aumentava o risco e, ao mesmo tempo, o fascínio sobre o garimpo.

Décadas depois, a lembrança permanece entre antigos trabalhadores que viveram a escalada do ouro e hoje se organizam em cooperativas.

Personagens que atuaram no garimpo seguem defendendo que a mina de ouro pode voltar a produzir e que essa retomada seria também uma forma de reparação histórica para quem arriscou a vida no barranco.

Organização dos ex-garimpeiros enfrenta entraves internos

Apesar da mobilização, as cooperativas que reúnem antigos garimpeiros esbarram em problemas de gestão, disputas judiciais e falta de recursos.

A fragmentação institucional impede que exista um projeto único e tecnicamente robusto que possa ser apresentado como proposta de reabertura. Sem unidade, a pauta avança pouco.

Outro ponto sensível é o passivo financeiro. Dívidas acumuladas e questionamentos sobre a administração atual tornam difícil captar investimento ou estruturar parcerias.

Em mineração moderna, especialmente quando se trata de uma mina de ouro de grande porte, é indispensável demonstrar governança, transparência e capacidade de cumprir as exigências de órgãos fiscalizadores. Esse ainda não é o cenário plenamente consolidado em Serra Pelada.

Normas ambientais hoje são mais rígidas

Reativar a mina de ouro na Amazônia não é o mesmo que operá-la nos anos 1980. A exploração mineral precisa comprovar que não haverá contaminação de solo e de cursos d’água, sobretudo pelo uso de substâncias que, no passado, deixaram marcas ambientais.

A região de Curionópolis, que viveu a explosão populacional e o improviso de infraestrutura, conhece bem o custo social de uma atividade que cresce mais rápido do que o poder público consegue acompanhar.

Por isso, uma eventual reabertura teria de ser planejada dentro de parâmetros de sustentabilidade. Isso significa recuperar áreas degradadas, instalar equipamentos de segurança, garantir controle de efluentes e definir com clareza quem é responsável por cada etapa da operação.

Sem licenciamento ambiental adequado, a mina de ouro não volta a funcionar.

Infraestrutura deteriorada aumenta o custo de qualquer retorno

Passados mais de 30 anos de paralisação, a estrutura física que existia não atende mais aos padrões de segurança. Escadas, acessos e maquinário foram desgastados pelo tempo e pelas condições climáticas da região.

Em mineração, esse tipo de cenário representa risco direto ao trabalhador e também à operação como um todo.

Isso significa que, mesmo havendo interesse econômico, a reativação exigiria investimentos altos apenas para colocar o local em condição mínima de operação. Em garimpos manuais do passado, era comum improvisar. Em uma reabertura hoje, isso não é mais aceitável.

A mina de ouro precisaria operar com critérios técnicos comparáveis aos de empreendimentos regulares do setor mineral.

Impacto social continua sendo um fator decisivo

Serra Pelada não foi apenas um ponto de extração. Ela formou uma comunidade inteira em torno da promessa do ouro, concentrou pessoas em condições de vulnerabilidade e provocou uma reconfiguração rápida do território.

Na época de auge, Curionópolis conviveu com superlotação, precariedade sanitária e aumento de problemas sociais.

Qualquer retorno da atividade precisaria considerar esse componente. Uma mina de ouro desse porte volta a atrair trabalhadores e famílias, pressiona serviços públicos e aumenta a circulação de dinheiro na economia local. Sem planejamento urbano e social, o risco de repetir o cenário de desordem permanece.

Reabrir é desejo de memória, mas depende de viabilidade

O que mantém viva a pauta de reabertura é a memória coletiva. Para muitos ex-garimpeiros, Serra Pelada foi o momento mais forte de ascensão econômica e de protagonismo social. Retomar a mina de ouro seria, para esse grupo, a chance de transformar lembrança em renda novamente.

Mas, na prática, a equação envolve três elementos difíceis de conciliar: exigência ambiental, segurança operacional e organização institucional.

Enquanto esses três pilares não estiverem equilibrados, a proposta de reativação tende a permanecer no campo das tentativas e articulações.

Serra Pelada continua sendo uma das histórias mais marcantes da mineração brasileira e ainda mobiliza quem viveu o auge do garimpo.

A possibilidade de reabrir a mina de ouro existe mais como projeto de memória e de reconstrução social do que como operação imediata, porque depende de licenças, recursos e união das próprias entidades de ex-garimpeiros.

Para você, diante do histórico ambiental e social da região, a reativação de Serra Pelada deveria avançar ou o capítulo desse garimpo já deveria ser encerrado?

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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