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Com 1,2 km de diâmetro e 525 metros de profundidade, a mina de diamantes Mirny, na Rússia, é uma das maiores crateras já escavadas pelo homem, com uma história de desafios de engenharia, desastres e um futuro bilionário.
No coração da inóspita Sibéria, uma cicatriz colossal na paisagem conta a história de uma das mais ambiciosas empreitadas de engenharia do século XX: a mina de diamantes Mirny. Esta cratera gigantesca, operada pela estatal russa ALROSA, não foi apenas uma fonte de riqueza, mas um pilar estratégico que sustentou a economia soviética e, mais tarde, a russa.
Descoberta em 1955, em plena Guerra Fria, a mina de diamantes Mirny enfrentou desafios extremos, desde a escavação em solo congelado até uma inundação catastrófica que paralisou suas operações em 2017. Em 2025, o futuro da mina está sendo reescrito com um novo e bilionário projeto para explorar suas reservas mais profundas, um movimento estratégico que busca reafirmar a dominância da Rússia no mercado global de diamantes.
A descoberta de 1955: a corrida soviética pelos diamantes durante a Guerra Fria
A história da mina de diamantes Mirny começou com uma busca de alta prioridade. Após a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética precisava urgentemente de uma fonte doméstica de diamantes, tanto para uso industrial quanto para gerar divisas e competir com o Ocidente.
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O momento decisivo veio em 13 de junho de 1955, quando uma equipe de geólogos soviéticos descobriu uma chaminé de kimberlito, a rocha vulcânica que hospeda os diamantes, na remota República de Sakha (Yakutia). A descoberta, batizada de “Mir” (Paz), foi de tamanha importância estratégica que seus descobridores receberam o Prêmio Lenin, uma das maiores honrarias da URSS. Para apoiar a mina, a cidade de Mirny foi fundada do zero no mesmo ano, um projeto monumental para atrair trabalhadores para um dos lugares mais inóspitos do planeta.
Engenharia no gelo: os desafios de cavar a mina de diamantes Mirny no permafrost
Desenvolver a mina de diamantes a céu aberto a partir de 1957 foi uma batalha contra o próprio gelo. Os engenheiros enfrentaram sete meses de inverno rigoroso, com temperaturas que chegavam a -40°C, congelando o solo, os pneus dos caminhões e o óleo dos motores.
Para vencer o permafrost, os soviéticos usaram métodos brutais e criativos. Motores a jato de aviões desativados eram usados para derreter a superfície congelada, e onde isso não era suficiente, usava-se dinamite para explodir o solo. Durante 44 anos, esse esforço esculpiu uma das maiores crateras artificiais do mundo, com 525 metros de profundidade e 1,2 quilômetros de diâmetro. A mineração a céu aberto foi encerrada em 2001, quando se tornou inviável continuar.
A tragédia de 2017: a inundação que parou a mineração subterrânea
Com o fim da mineração de superfície, a operação migrou para o subsolo. Uma nova mina subterrânea foi oficialmente comissionada em 2009 para alcançar os depósitos mais profundos. No entanto, a antiga cratera, que acumulou um enorme volume de água ao longo dos anos, tornou-se um perigo iminente.
Em 4 de agosto de 2017, o passado da mina de diamantes veio cobrar seu preço. O imenso lago que se formou na cratera abandonada rompeu a barreira de rocha que o separava das galerias subterrâneas. Uma inundação catastrófica tomou conta dos túneis, matando oito trabalhadores e destruindo a operação moderna com os restos de seu próprio legado.
O projeto “Mir-Profundo” e a reabertura da mina
Após anos de incerteza, a estatal russa ALROSA iniciou um dos mais ambiciosos projetos de mineração do mundo para reviver o gigante adormecido. O projeto “Mir-Gluboky” (Mir-Profundo) prevê a construção de uma mina subterrânea totalmente nova, projetada para contornar os riscos que levaram ao desastre de 2017.
Com um investimento estimado em mais de US$ 1,2 bilhão, a construção começou em 2023. O cronograma prevê o início da produção entre 2032 e 2034. O objetivo é extrair reservas estimadas em mais de 170 milhões de quilates, com uma produção anual de cerca de 3 milhões de quilates, garantindo a importância da mina por mais 30 anos.
O impacto ambiental e a lenda do “vórtice de helicóptero”
A história da mina de diamantes Mirny é também uma de profundo impacto socioambiental. Sua exploração, especialmente na era soviética, causou contaminação química e até nuclear na bacia do rio Viliui e desestruturou o modo de vida do povo indígena Sakha.
A escala da mina também alimentou mitos. O mais famoso é o de que a cratera cria um ‘vórtice’ poderoso o suficiente para derrubar helicópteros. A realidade científica é que a diferença de temperatura entre o ar frio da superfície e o ar quente do fundo da mina cria fortes correntes de ar e turbulência, tornando o voo a baixa altitude perigoso. A zona de exclusão aérea sobre a mina, no entanto, é uma prática de segurança padrão em qualquer grande operação de mineração, e não por causa de um vórtice.
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