Em Campinas, a mais sofisticada ferramenta científica do Hemisfério Sul está operando a todo vapor. Conheça o Sirius e descubra como ele está permitindo avanços em novas drogas, baterias e até no agronegócio.
Em abril de 2025, a engenharia de petróleo brasileira ganhou um aliado de poder sem precedentes. Pesquisadores da Petrobras, em colaboração com o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), anunciaram o sucesso dos primeiros testes em uma estação experimental dedicada a analisar rochas do pré-sal com um nível de detalhe nunca antes visto. A ferramenta que tornou isso possível foi o Sirius.
Mas o que é essa máquina monumental, considerada a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no Brasil? Longe de ser apenas um experimento de física teórica, o acelerador de partículas Sirius Brasil é uma ferramenta de vanguarda que está, neste exato momento, abrindo caminhos para inovações que impactarão a indústria, a saúde e a energia do país.
O que é o Sirius? Desvendando o ‘super microscópio’ de luz
Esqueça a imagem de cientistas colidindo partículas para recriar o Big Bang. O Sirius opera com um princípio diferente e muito mais prático. A melhor analogia é pensar nele como um “super microscópio” que, em vez de lentes, usa um tipo especial de luz para revelar a estrutura íntima dos materiais.
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Essa luz, chamada luz síncrotron, é extremamente brilhante – mais brilhante que o Sol – e focada. Ela funciona como uma lanterna de “super raio-x”, capaz de penetrar na matéria e gerar imagens detalhadas de suas moléculas, átomos e das ligações entre eles. É a ferramenta definitiva para entender do que as coisas são feitas em seu nível mais fundamental.
A engenharia da luz: como funciona a máquina mais complexa do país?
Construído a um custo de R$ 1,8 bilhão, o Sirius é uma maravilha da engenharia. Seu funcionamento, embora complexo, pode ser entendido em três grandes etapas:
Aceleração: tudo começa com um canhão que dispara elétrons. Essas partículas passam por dois aceleradores iniciais que as elevam a uma velocidade próxima à da luz (99,999999% da velocidade da luz).
Geração da luz: os elétrons em altíssima velocidade são injetados em um anel de armazenamento principal, com 518 metros de circunferência. Nesse anel, mais de mil ímãs superpoderosos forçam os elétrons a fazer curvas fechadas. Ao fazerem essas curvas, os elétrons perdem energia, emitindo-a na forma de luz síncrotron de altíssimo brilho.
Análise: essa luz é então desviada do anel principal e canalizada por longos túneis, chamados de “linhas de luz”. No final de cada linha, há uma estação de pesquisa onde cientistas colocam suas amostras (de rochas, proteínas, ligas metálicas, etc.) para serem bombardeadas pela luz e analisadas por detectores de alta precisão.
Do átomo ao agronegócio: para que serve o Sirius na prática?
É aqui que a ciência de ponta encontra o mundo real. Entender a estrutura atômica dos materiais permite inovações revolucionárias. As descobertas do projeto Sirius já estão impactando diversas áreas:
Saúde: ao decifrar a estrutura 3D de proteínas de vírus e bactérias, cientistas podem desenhar medicamentos que se “encaixam” perfeitamente nelas para desativá-las, acelerando a criação de novas drogas.
Energia: pesquisadores analisam materiais para criar baterias mais duráveis e eficientes, desenvolvem catalisadores para a produção de hidrogênio verde e estudam a porosidade de rochas do pré-sal para otimizar a extração de petróleo.
Agronegócio: é possível entender como os nutrientes de fertilizantes interagem com as raízes das plantas no nível molecular, permitindo a criação de produtos mais eficazes e sustentáveis.
Indústria: o Sirius permite o desenvolvimento de novos materiais, como ligas metálicas mais leves e resistentes para a aviação, polímeros mais duráveis e vidros especiais.
O futuro é brilhante: o impacto do Sirius para a indústria brasileira
O CNPEM em Campinas opera o Sirius como uma instalação aberta. Isso significa que empresas e universidades de todo o Brasil podem submeter projetos para usar suas linhas de luz. Antes do Sirius, um pesquisador brasileiro precisava esperar meses ou anos na fila de um síncrotron no exterior.
Ao democratizar o acesso a essa tecnologia de ponta, o Sirius funciona como um hub de inovação nacional. Ele acelera o ciclo de pesquisa e desenvolvimento, permitindo que o Brasil não apenas participe da ciência global, mas também crie patentes, produtos e tecnologias próprias, gerando um ciclo virtuoso de avanço tecnológico e competitividade industrial para as próximas décadas.
Na sua opinião, qual área da indústria brasileira tem mais a ganhar com as descobertas do Sirius? E qual o próximo grande projeto científico que o Brasil deveria encarar?