Após 12 anos em silêncio, a colossal central de Kashiwazaki-Kariwa volta ao jogo com segurança reforçada, sete reatores gigantescos e potência suficiente para abastecer 16 milhões de casas
Imagine uma única usina com potência suficiente para abastecer mais de 16 milhões de residências ao mesmo tempo. Esse é o poder de Kashiwazaki-Kariwa, o colosso nuclear japonês que está prestes a voltar a funcionar após mais de uma década de paralisação. Com seus 7 reatores de água fervente e capacidade instalada de 8.200 megawatts elétricos (MWe), essa central não é apenas a maior do Japão — é a maior do mundo em produção nuclear contínua. E agora, tudo indica que ela vai rugir novamente.
O que é Kashiwazaki-Kariwa e por que ela foi desligada?
Localizada na pacata cidade de Niigata, ao norte de Tóquio, essa gigantesca estrutura é operada pela Tokyo Electric Power Company (TEPCO), a mesma responsável pela usina de Fukushima Daiichi. Após o desastre de 2011, que marcou profundamente a confiança da população japonesa na energia nuclear, a NRA (Autoridade Reguladora Nuclear do Japão) suspendeu a licença de operação da Kashiwazaki-Kariwa.
Desde então, a central virou símbolo do impasse entre a necessidade energética do Japão e o trauma de um acidente que ainda ressoa na memória coletiva. A usina permaneceu intocada, com seus reatores silenciados — mas não esquecidos.
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Segurança máxima: inspeções e novas regras
Em dezembro de 2023, um marco importante foi alcançado: a NRA suspendeu oficialmente o veto que impedia o retorno das atividades, após mais de 4.000 horas de inspeções técnicas nas instalações. A TEPCO demonstrou que reformulou completamente seus sistemas de segurança, com reforços estruturais, protocolos de emergência atualizados e tecnologias mais modernas de resfriamento e contenção.
Segundo a própria NRA, as novas diretrizes incorporam lições diretas do desastre de Fukushima. Um relatório publicado pela Nuclear Safety Authority confirma que a central recebeu melhorias compatíveis com padrões internacionais.
Por que o Japão precisa da energia nuclear de volta?
O Japão enfrenta uma equação difícil: alta demanda energética, poucos recursos fósseis e metas climáticas rígidas. Desde 2011, o país teve que importar grandes volumes de gás natural e carvão para manter sua matriz energética. A consequência? Conta de luz mais cara e aumento nas emissões de carbono.
De acordo com dados da Agência Internacional de Energia, o Japão busca diversificar suas fontes com foco em renováveis e energia nuclear, considerada pelo governo uma alternativa confiável e de baixo carbono.
Em abril de 2023, o Parlamento japonês aprovou uma nova legislação que permite estender a vida útil de usinas nucleares para além dos 60 anos, desde que se comprovem seguras. Isso destrava uma série de reatores que estavam parados, incluindo o imponente complexo de Kashiwazaki-Kariwa.
Estado de alerta em Niigata: quem dá a palavra final?
Apesar do aval federal, a retomada da operação depende ainda do sinal verde do governo regional de Niigata, responsável pela avaliação final do plano de segurança e evacuação em caso de emergência. A decisão, no entanto, parece ser apenas uma formalidade. Segundo o jornal japonês The Asahi Shimbun, autoridades locais têm mostrado uma postura colaborativa com a reativação, especialmente frente à promessa da TEPCO de investir em medidas comunitárias e programas educacionais sobre energia nuclear.
Enquanto isso, a empresa já deu início ao processo de reabastecimento dos reatores, solicitando autorização para inserir novamente as barras de combustível, etapa que marca o início efetivo da reativação.
Quanto é 8.200 MWe, na prática?
Para se ter uma ideia do tamanho do retorno: Angra 1, a usina nuclear brasileira, gera cerca de 640 MWe. A central japonesa equivale a mais de 12 vezes isso. Em comparação com hidrelétricas, Kashiwazaki-Kariwa é quase tão potente quanto Itaipu, que tem 14.000 MW instalados, mas divide sua produção com o Paraguai.
A reconciliação nuclear japonesa está só começando
Com 12 reatores atualmente operando, 2 em construção e outros 27 prontos para avaliação técnica, o Japão parece estar reencontrando seu caminho na energia nuclear. O novo cenário aponta para uma era híbrida, onde a energia atômica — agora mais segura — divide protagonismo com solar, eólica e hidrogênio.
Como declarou o ministro da Indústria, Yasutoshi Nishimura, em entrevista à NHK News:
“A energia nuclear não é mais um tabu, mas uma necessidade. Temos o dever de usar o que temos com responsabilidade, segurança e transparência”.
A reativação da maior usina do planeta não é apenas uma decisão técnica. É um gesto simbólico de que o Japão quer voltar a ocupar espaço no debate energético global — com responsabilidade, mas sem medo.