A compra da Siderúrgica do Pecém consolidou a ArcelorMittal como a maior siderúrgica do Brasil, mas a empresa, assim como suas rivais, enfrenta uma batalha contra a “avalanche” de aço importado que derrubou os lucros do setor.
O setor de aço no Brasil vive um momento de profunda transformação. De um lado, movimentos estratégicos de aquisição redefiniram o cenário competitivo, consolidando a ArcelorMittal como a maior siderúrgica do Brasil. Do outro, uma crise causada por uma onda recorde de importações pressionou os lucros de todas as empresas e forçou uma reação do governo.
A história recente da siderurgia brasileira é uma de guerra comercial, reorganização de gigantes e uma nova e bilionária corrida pela sustentabilidade. No centro de tudo, a ArcelorMittal se destaca, não apenas pelo tamanho, mas por uma aposta estratégica no futuro do “aço verde”.
A consolidação da maior siderúrgica do Brasil: a compra da Siderúrgica do Pecém
A ArcelorMittal cimentou sua posição de líder do mercado com um movimento audacioso. Em março de 2023, a empresa concluiu a aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará, em um negócio de US$ 2,2 bilhões.
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A compra, que antes era uma joint venture entre a Vale, a sul-coreana Dongkuk e a Posco, adicionou 3 milhões de toneladas à capacidade da ArcelorMittal, elevando seu potencial total para 15,5 milhões de toneladas por ano. Os números de 2024 confirmaram a liderança: a empresa produziu 15,3 milhões de toneladas de aço bruto em suas operações brasileiras.
A reorganização do mercado: a resposta das concorrentes
A expansão da ArcelorMittal, maior siderúrgica do Brasil, provocou uma reação em cadeia. A Ternium, outra gigante do setor, executou seu próprio movimento estratégico. Em julho de 2023, a empresa assumiu o controle acionário da Usiminas, criando uma nova e formidável força no mercado de aços planos.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por sua vez, respondeu aos desafios com um ambicioso plano de modernização. A empresa anunciou um programa de investimentos de R$ 7,9 bilhões até 2028 para revitalizar sua principal usina, em Volta Redonda (RJ), e aumentar sua capacidade de produção.
A “avalanche” de aço chinês: a crise das importações em 2024
Apesar da força das empresas, o setor enfrentou uma crise severa em 2023 e 2024. O motivo foi uma “avalanche” de aço importado, principalmente da China, que inundou o mercado brasileiro. Em 2024, as importações atingiram um recorde de 5,9 milhões de toneladas.
Esse volume massivo derrubou os preços no mercado interno e criou um paradoxo: mesmo produzindo e vendendo mais, as siderúrgicas viram suas receitas e lucros despencarem. O lucro da ArcelorMittal, por exemplo, caiu quase 40% em 2024, mesmo com aumento na produção.
A proteção do governo e a promessa de investimentos
Diante da crise, a indústria, representada pelo Instituto Aço Brasil, se mobilizou. Em resposta, em meados de 2024, o governo brasileiro agiu. Foram estabelecidas cotas de importação para 11 tipos de produtos de aço, com a aplicação de uma tarifa de 25% sobre o que exceder esses limites.
Logo após a medida protecionista, a indústria anunciou um plano de investimentos de R$ 100,2 bilhões até 2028. O objetivo é claro: usar a proteção comercial para investir em modernização, competitividade e, principalmente, em descarbonização.
O futuro do aço: a corrida pela siderurgia verde
A sustentabilidade se tornou a nova fronteira da competição. A maior siderúrgica do Brasil, a ArcelorMittal, já lidera esse movimento. A empresa aposta no potencial do Ceará para se tornar um hub de hidrogênio verde.
O plano é usar essa nova fonte de energia limpa para descarbonizar a produção na usina do Pecém, criando um “aço verde” de alto valor agregado. Essa estratégia, que também está sendo seguida por suas concorrentes, definirá a liderança do setor nas próximas décadas.