Inaugurada em 2011, a Ponte Rio Negro não é apenas a maior ponte estaiada do Brasil em extensão, mas um marco da engenharia que redefiniu a Amazônia, com uma história marcada por recordes e controvérsias.
No coração da Amazônia, uma monumental estrutura de concreto e aço rasga a paisagem e conecta duas margens que, por séculos, foram separadas pelas águas escuras do Rio Negro. A Ponte Jornalista Phelippe Daou, conhecida como Ponte Rio Negro, se consolidou como a maior ponte estaiada do Brasil, um símbolo da capacidade da engenharia nacional de superar desafios extremos.
De acordo com o Consórcio Rio Negro, responsável pela obra, a ponte foi um projeto de grande complexidade. A história da construção da maior ponte estaiada do Brasil, que durou quatro anos, é a crônica de uma antiga aspiração popular que se tornou uma obra de desenvolvimento, mas que também enfrentou questionamentos sobre seus custos e impactos, consolidando-se como um dos mais importantes e debatidos projetos de infraestrutura do país.
A necessidade de conectar Manaus ao seu interior
Antes da ponte, a travessia entre a capital Manaus e os municípios da outra margem do Rio Negro, como Iranduba, era feita por um sistema de balsas lento e precário. Em 18 de junho de 2003, uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Amazonas, motivada por reclamações de moradores, deu o pontapé inicial para o projeto.
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O movimento ganhou força com um abaixo-assinado que, a partir de novembro de 2003, reuniu 120 mil assinaturas. A obra foi concebida pelo Governo do Estado do Amazonas como um projeto para induzir o desenvolvimento da Região Metropolitana de Manaus, integrando dezenas de municípios à capital.
A construção de um colosso: a engenharia e os desafios amazônicos (2007-2011)
Após a conclusão dos estudos de viabilidade, a ordem de serviço para o início das obras foi emitida em 3 de dezembro de 2007. A construção ficou a cargo do Consórcio Rio Negro, formado pela Construtora Camargo Corrêa (hoje Mover) e pela Construbase.
Um dos maiores desafios foi a acidez das águas do Rio Negro, que acelera a corrosão. Para garantir a durabilidade da ponte, os engenheiros utilizaram um concreto especial, com adição de pozolana, um material que aumenta a resistência da estrutura ao ataque químico.
O que é o concreto protendido? A tecnologia que tornou a ponte possível
A construção de uma ponte com um vão livre de 400 metros sobre o principal canal de navegação do rio só foi possível graças a uma tecnologia específica: o concreto protendido. Ele é a alma da estrutura que hoje é a maior ponte estaiada do Brasil.
Diferente do concreto armado comum, o protendido utiliza cabos de aço de alta resistência que são tensionados (esticados) dentro da estrutura. Essa técnica cria uma compressão interna no concreto, tornando-o capaz de vencer vãos muito maiores e de suportar mais peso com uma estrutura mais leve e esbelta.
A inauguração em 2011 e as controvérsias sobre o custo
A ponte foi oficialmente inaugurada em 24 de outubro de 2011, no aniversário de Manaus. A cerimônia contou com a presença da então presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O custo final da obra foi de R$ 1,099 bilhão, financiado pelo Governo do Amazonas (R$ 513 milhões) e pelo BNDES (R$ 586 milhões). O valor, no entanto, foi alvo de controvérsias e de um inquérito do Ministério Público Federal, que apontou que itens essenciais, como a iluminação e as defensas de proteção dos pilares, não estavam no contrato original.
O legado da maior ponte estaiada do Brasil
A Ponte Rio Negro é a maior ponte estaiada do Brasil em extensão total, com seus 3.595 metros. Seu vão central de 400 metros também detém o recorde de maior vão estaiado com tabuleiro de concreto da América Latina.
Seu legado é inegável. A ponte catalisou um boom imobiliário no município de Iranduba e facilitou o escoamento da produção agrícola e extrativista da região. No entanto, também gerou profundas transformações sociais, como o fim do trabalho dos balseiros, mostrando a dupla face das grandes obras de infraestrutura na Amazônia.