França na Amazônia: maior fronteira terrestre francesa é com o Brasil; ponte de R$ 130 mi (1997–2017), visto de 60 euros e decisão de 1900 moldam Oiapoque.
A maior fronteira “da França” não é com a Alemanha, a Espanha ou a Bélgica. Ela fica na Amazônia e conecta o Brasil à Guiana Francesa, um território ultramarino que funciona como extensão direta da União Europeia. Na prática, essa faixa de terra é uma porta europeia dentro da floresta, com custos, vistos e regras que impactam milhares de brasileiros.
Segundo o pesquisador e divulgador Matheus Boa Sorte, que documentou a realidade local, a fronteira é marcada por desigualdades e integrações ao mesmo tempo: enquanto brasileiros precisam pagar 60 euros por visto e taxas veiculares adicionais, franceses entram no Brasil sem burocracia significativa.
Onde fica a maior fronteira “da França”
O município de Oiapoque, no Amapá, é o ponto brasileiro dessa ligação singular.
-
Ex-empregado é condenado a pagar indenização de R$ 5 mil após enganar clientes e prejudicar empresa de eventos
-
Maior prefeitura do Brasil controla mais dinheiro que muitos países e enfrenta desafios gigantes para administrar quase 12 milhões de habitantes
-
O veículo mais pesado já construído pela humanidade: 3.000 toneladas, 625 litros de diesel por km, mais que 40 caminhões juntos, apenas 1 km/h de velocidade, e funciona só por uma hora
-
Brasileiro de 8 anos desafia a lógica da educação: com QI 140, torna-se o mais jovem do país a entrar na Mensa International e é considerada uma das pessoas mais inteligentes do mundo; caso ocorreu em 2021
Atravessando o rio Oiapoque, está a cidade francesa de Saint-Georges.
Ali, placas em francês dividem espaço com o português, e o comércio depende em quase 100% da presença de turistas e consumidores da União Europeia.
A BR-156, estrada que conecta Macapá a Oiapoque, é descrita por Boa Sorte como “um asfalto que aparece e desaparece”, reflexo da dificuldade logística da região.
São 578 km de percurso, dos quais 158 km ainda não têm pavimentação, prejudicando a integração.
Quanto custa cruzar essa fronteira
Boa Sorte registra que a ponte binacional sobre o rio Oiapoque custou cerca de R$ 130 milhões e só entrou em operação em 2017, após duas décadas de atrasos.
O uso da ponte é assimétrico: franceses cruzam com liberdade, enquanto brasileiros enfrentam vistos de 60 euros e seguros a partir de 95 euros para veículos.
Sem condições de pagar, muitos recorrem aos catraeiros, que mantêm a travessia diária de canoa entre Oiapoque e Saint-Georges.
O preço gira em torno de 4 euros, cerca de R$ 30 ida e volta, o que mantém viva uma tradição que resiste mesmo diante da ponte internacional.
Quem vive e trabalha na faixa de fronteira
O Itamaraty estima que cerca de 91,5 mil brasileiros vivam na Guiana Francesa, o que corresponde a aproximadamente 30% da população do território.
Muitos atuam na construção civil, no comércio e em serviços, atraídos pelos salários que podem ultrapassar 1.700 euros mensais.
Do outro lado, franceses atravessam para aproveitar preços mais baixos em alimentos, restaurantes e lazer em Oiapoque.
Essa economia de contraste mantém uma circulação constante entre os dois países, reforçando a interdependência transfronteiriça.
Por que essa fronteira é estratégica
A Guiana Francesa é mais que um território isolado: ela abriga a base espacial de Kourou, peça-chave para a União Europeia em lançamentos bilionários.
Além disso, concentra recursos naturais como ouro, bauxita e áreas florestais de relevância global.
Historicamente, o limite atual foi fixado em 1900, após uma disputa territorial conhecida como Conflito do Amapá.
A decisão arbitral na Suíça garantiu ao Brasil o domínio do rio Oiapoque, definindo a fronteira que vigora até hoje.
Vale a pena conhecer Oiapoque e a região?
Para Boa Sorte, a região oferece experiências únicas.
O ecoturismo é forte, com o Parque Nacional do Cabo Orange, o Parque Montanhas do Tumucumaque e atrações como a cachoeira Grã-Rochê (Maripá).
A bioeconomia do cacau também ganha destaque, com chocolates artesanais que exploram sabores amazônicos como o cumaru.
Apesar das dificuldades logísticas, Oiapoque se tornou vitrine da mistura cultural Brasil-França, onde euros e reais circulam lado a lado, e tradições amazônicas convivem com costumes europeus.
A maior fronteira “da França” é também uma das mais peculiares do mundo: une a União Europeia ao Brasil em plena Amazônia, mas cria barreiras que impactam o bolso e a vida de quem depende dessa travessia.
Entre vistos caros, salários mais altos do lado europeu e preços mais baixos no lado brasileiro, a desigualdade e a integração caminham juntas.
E você, já conhecia essa realidade da maior fronteira “da França”? Acha justo que brasileiros paguem vistos e taxas altas enquanto franceses entram sem barreiras?
Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive ou já passou por essa experiência.
Onde está a Lei de Reciprocidade???
Eu moro em Oiapoque e também em Kourou, as travessias de catraia que duram cerca de 15 minutos não é 30 reais e sim 50 reais ou 10 euros tanto a ida quando a volta, recentemente houve um acordo dos dois países para os brasileiros não precisarem de visto pra entrar na Guyana, mas até agora não tivemos esse direito, pra conseguir um visto é uma dificuldade porque a burocracia é grande e eles dificultam o máximo pro brasileiro não entrar, tem sempre barreiras na estrada de Saint Georges para Cayenne e se eles pegarem sem documentos dão logo a expulsão de no mínimo 03 anos, cerca de 80% dos brasileiros aprontam muito aqui na Guyana, assaltos, roubos, brigas, ****, badernas, tudo isso de peso que os brasileiros fazem e reflete em todos os brasileiros que não tem nada haver com quem apronta, por isso somos muitos má vistos, já os franceses quando eles atravessam para o Oiapoque eles sabem que vão e voltam, fazem o dinheiro girar na região, eles não vão com intenção de morar no Brasil ou fazer badernas, eles vão pra passeio, pra conhecer os pontos turísticos, a gastronomia, etc… e os banheiros quando conseguem entrar na Guyana eles não vão pra turistar e sim morar, então por isso que o acesso é difícil.
O Itamarati deveria promover a igualdade de tratamento na entrada e saída dessa fronteira. As agências de turismo não exploram nas grandes capitais brasileira uma propaganda e incentivo de visita, o que é lamentável.