Cientistas holandeses propõem uma megaestrutura de diques para proteger a Europa da elevação do mar. Uma obra de engenharia sem precedentes, com custos e impactos monumentais.
A engenharia humana poderia transformar o mar em uma represa? Um cientista holandês planeja represar o Mar do Norte, criando um reservatório colossal. Esta construção demandaria diques de centenas de quilômetros, bilhões de toneladas de materiais e um custo de US$ 600 bilhões. Embora pareça impossível, os envolvidos afirmam ser viável. Mas por que essa imensa construção seria necessária?
A emergência climática e a ideia da grande barreira marítima
A principal razão é a elevação do nível do mar, que subiu mais de 20 cm desde 1880. Impulsionada pelas mudanças climáticas, essa elevação pode atingir 2 metros até 2100, inundando comunidades costeiras e afetando milhões. A ONU alerta para uma catástrofe mundial. A barragem isolaria o Mar do Norte e o Báltico, protegendo 15 países, incluindo Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, e grandes cidades como Londres e Amsterdã.
A anatomia da gigantesca construção proposta
O projeto chama-se Barragem de Cercamento do Norte da Europa (NEED), idealizado por Shoy Groscamp e Joaquim Kelsen. Publicado em 2020, o plano prevê dois paredões: Nid Sul e Nid Norte. O Nid Sul ligaria Inglaterra à França por 161 km, superando em muito qualquer dique existente. Nem a soma dos maiores diques (Saemangeum, 33 km; Afsluitdijk, 32 km) e da maior ponte marítima (Hong Kong-Zhuhai-Macau, 55 km) se igualaria à sua extensão. O Nid Norte seria ainda maior, com 476 km, estendendo-se da Escócia à Noruega. A construção totalizaria mais de 600 km de obras.
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Viabilidade técnica e financeira em debate
Groscamp considera a construção “substancial, mas sustentável”. As barragens teriam 50 m de largura no topo e se elevariam 20 m acima do mar, feitas de areia, pedra e argila. Seriam necessárias 50 bilhões de toneladas de areia, volume atualmente coletado globalmente em um ano. Aumentando a coleta em 10%, o material seria estocado em uma década. A profundidade é outro desafio: mais de 100 m para o Nid Sul e 300 m para o Nid Norte. Contudo, bases de plataformas petrolíferas já foram feitas em profundidades similares. O custo de US$ 600 bilhões, dividido entre 15 países por 20 anos, representaria menos de 0,5% do PIB combinado anual dessas nações.
Comércio e ecossistemas em risco com a construção
A construção impactaria o comércio, aprisionando navios de portos como Roterdã e Hamburgo. Comportas seriam lentas, afetando a economia. Ambientalmente, bloquearia correntes, nutrientes e vida marinha, devastando ecossistemas e populações de cetáceos. A água doce de rios diluiria o reservatório, tornando o Mar do Norte 10 vezes menos salgado em 100 anos, prejudicando a vida marinha e a pesca.