Combinando sensores e ciência avançada, o mundo aperfeiçoa a detecção de testes nucleares e fortalece a vigilância contra ameaças invisíveis
A detecção de testes nucleares é uma das prioridades da segurança global. Mesmo quando realizados em locais remotos, os rastros físicos deixados por essas explosões são cada vez mais fáceis de identificar. Isso se deve ao uso combinado de tecnologias como sismologia, infrassom, espectrometria e sensoriamento remoto.
Em janeiro de 2016, por exemplo, uma explosão nuclear na Coreia do Norte gerou um terremoto de magnitude 5,1.
O tremor foi detectado até no Tocantins, do outro lado do planeta. Para especialistas em geologia, a intensidade foi moderada. Já para analistas políticos, a mensagem era clara: um alerta ao mundo.
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Tecnologia contra o silêncio
O físico brasileiro Luciano Ricco, pós-doutorando na Universidade de Reykjavík, na Islândia, explicou como os testes nucleares podem ser detectados. Segundo ele, é praticamente impossível esconder uma explosão desse tipo hoje em dia.
“Hoje em dia é muito difícil passar desapercebido com um teste nuclear, porque a física deixa os seus rastros através de mecanismos distintos, como ondas sísmicas, infrassom e partículas radioativas”, disse Ricco em entrevista ao TechTudo.
Ele também destacou os avanços que vêm sendo feitos nesse campo e apontou a importância de combinar tecnologias diferentes.
Rede global de vigilância
A partir da assinatura do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT), em 1996, o mundo se mobilizou para criar uma estrutura global de monitoramento.
A entidade responsável por isso, a CTBTO, mantém uma rede com mais de 300 estações espalhadas pelo planeta.
Essas estações utilizam quatro métodos principais de detecção: sísmico, infrassônico, hidroacústico e radionuclídico.
A combinação dessas técnicas permite não só detectar explosões, como também confirmar sua origem com alto grau de precisão.
A Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) também participa do processo, verificando dados técnicos relacionados a programas nucleares, tanto civis quanto militares.
“O uso de modelos físicos e a combinação entre tecnologias diferentes permitem identificar explosões nucleares com um nível de confiança muito alto”, explicou Ricco.
Testes nucleares: O som do subsolo
Explosões nucleares subterrâneas emitem ondas sísmicas. Elas se espalham de forma diferente dos terremotos naturais.
Enquanto os terremotos liberam energia lateralmente, as explosões nucleares produzem ondas que se espalham em todas as direções.
“No caso de um terremoto, você tem uma ruptura geológica que libera energia em forma de ondas laterais. Já uma explosão nuclear subterrânea produz um espalhamento radial, como o de uma pedra jogada na água”, explicou o físico.
Com estações sismográficas de alta precisão, é possível detectar vibrações a milhares de quilômetros. Isso permite diferenciar entre eventos naturais e explosões nucleares com bastante rapidez.
O som que ninguém ouve
No caso das explosões atmosféricas, o infrassom é a chave. Esse tipo de onda sonora tem frequência muito baixa e não pode ser ouvida por humanos.
Mas microbarômetros extremamente sensíveis conseguem captá-la com precisão.
“O infrassom é eficaz porque suas ondas atravessam obstáculos como montanhas e edifícios sem perder intensidade”, observou Ricco.
A forma dessas ondas de pressão é única, o que permite distinguir explosões nucleares de outros fenômenos, como meteoros ou tempestades.
Com sensores bem posicionados e cruzamento de dados, a detecção se torna ainda mais confiável. Esse sistema global, segundo os especialistas, continua evoluindo. E a vigilância sobre os testes nucleares fica cada vez mais precisa.
Com informações de Tech Tudo.