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A ilha de outro país mais próxima do Brasil: localizada a 350 km da costa amazônica, as temidas Ilhas do Salut serviram ao império francês como colônia penal por mais de 100 anos (1852–1953)

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 19/10/2025 às 17:16
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A apenas 350 km do litoral do Brasil, as Ilhas do Salut formam o território estrangeiro mais próximo do país e guardam um passado sombrio: entre 1852 e 1953 funcionaram como prisão brutal do império francês

Poucos brasileiros sabem, mas existe um pedaço da Europa a menos de 400 quilômetros da costa do Brasil. Em pleno Atlântico tropical, ao norte do país, um pequeno arquipélago guarda ruínas de prisões lendárias, histórias de fuga, tragédias coloniais e belezas naturais quase intocadas.

São as Ilhas do Salut — conhecidas em francês como Îles du Salut — um conjunto de três pequenas ilhas vulcânicas que pertencem à França e que formam o território estrangeiro mais próximo do território brasileiro.

Um pedaço da França na América do Sul

As Ilhas do Salut estão localizadas a cerca de 350 quilômetros da foz do rio Oiapoque, no Amapá, e aproximadamente 14 quilômetros da costa da Guiana Francesa, território ultramarino francês na América do Sul.

Por pertencerem administrativamente à comuna de Kourou, a mesma onde está o famoso Centro Espacial Guianês, elas fazem parte integral do território francês — o que significa que, tecnicamente, quem pisa lá está em solo europeu.

O arquipélago é composto por três ilhas principais:

  • Île Royale – a maior e mais visitada, com infraestrutura turística e trilhas naturais.
  • Île Saint-Joseph – conhecida por abrigar celas de isolamento para prisioneiros considerados perigosos.
  • Île du Diable (Ilha do Diabo) – a mais temida, envolta em lendas e palco de histórias marcantes de exílio e fuga.

Apesar do nome “Ilhas da Salvação”, sua história foi tudo menos acolhedora. Durante mais de um século, elas funcionaram como um dos complexos prisionais mais temidos do mundo.

O inferno tropical do império francês

As Ilhas do Salut começaram a ser usadas como colônia penal em 1852, por ordem do imperador Napoleão III, que buscava um local remoto para enviar condenados da França.

A ideia era duplamente estratégica: afastar criminosos e opositores políticos do continente e, ao mesmo tempo, consolidar a presença francesa na América do Sul.

O isolamento natural, o clima hostil e a forte corrente marítima tornavam o arquipélago praticamente inescapável. Para os condenados, era uma sentença de morte em vida.

Estima-se que mais de 50 mil prisioneiros tenham passado por lá até o fechamento do presídio em 1953. Muitos não resistiram às doenças tropicais, ao calor sufocante, aos maus-tratos e à fome.

Entre os episódios mais marcantes está o caso do capitão Alfred Dreyfus, oficial judeu injustamente acusado de traição e enviado à Ilha do Diabo em 1895.

Sua condenação gerou um dos maiores escândalos judiciais da história francesa, o chamado Caso Dreyfus, que dividiu a opinião pública e expôs o antissemitismo presente nas instituições do país.

Outro episódio lendário envolve Henri Charrière, o prisioneiro que alegou ter fugido das Ilhas do Salut e cuja história inspirou o famoso livro e filme “Papillon”.

Embora haja controvérsias sobre a veracidade de seu relato, a obra imortalizou a fama sinistra do arquipélago.

Entre ruínas e natureza exuberante

Hoje, as Ilhas do Salut deixaram para trás a imagem de prisão infernal e se tornaram um dos destinos turísticos mais curiosos e históricos da América do Sul.

As celas e muros tomados pela vegetação ainda podem ser visitados, permitindo aos viajantes caminhar pelos mesmos corredores onde viveram — e morreram — milhares de prisioneiros.

A Île Royale é a principal porta de entrada para os visitantes. Nela, há trilhas ecológicas, pequenas praias de águas claras e até uma pousada simples instalada nas antigas instalações administrativas do presídio. O contraste entre o passado sombrio e a paisagem paradisíaca cria uma experiência singular: um museu a céu aberto em meio a coqueiros e pássaros tropicais.

Já a Île Saint-Joseph mantém um clima mais introspectivo. As ruínas das celas de isolamento e o cemitério dos prisioneiros lembram o lado mais brutal da colonização e do sistema penal francês.

Em contraste, a Ilha do Diabo, ainda cercada por fortes correntes marítimas, não é aberta ao público por razões de segurança, mas pode ser observada de longe em passeios de barco.

Importância científica e geopolítica

Além do valor histórico e turístico, as Ilhas do Salut têm grande importância estratégica. Por estarem em território ultramarino francês, elas ampliam a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) da França no Atlântico Sul, reforçando a presença europeia em uma região dominada por países sul-americanos.

A proximidade com a Base Espacial de Kourou também transforma o arquipélago em ponto de apoio para missões científicas e monitoramento ambiental. A fauna local inclui diversas espécies de aves marinhas, tartarugas e golfinhos, e o ambiente é usado para estudos sobre ecossistemas insulares tropicais.

O elo mais próximo entre Brasil e Europa

Para os brasileiros, as Ilhas do Salut representam uma oportunidade rara de conhecer a história colonial europeia sem sair do continente.

Em algumas horas de viagem a partir de Oiapoque (AP) ou de Cayenne, capital da Guiana Francesa, é possível caminhar por um território europeu com moeda, idioma e leis francesas — tudo isso a menos de 400 km da Amazônia.

Mais do que um destino turístico, o arquipélago é um símbolo do passado colonial, das contradições do sistema penal do século XIX e da presença europeia ainda viva na América do Sul.

As Ilhas do Salut são um lembrete silencioso de que a história global está muito mais próxima do Brasil do que muitos imaginam — às vezes, a apenas algumas horas de barco do nosso litoral.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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