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A IA pode substituir os cantores? Serviços de streaming estão sendo invadidos por música gerada por Inteligência Artificial

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 26/06/2025 às 09:18
música, IA
Foto: Reprodução
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Inteligência artificial (IA) já compõe músicas inteiras, inventa bandas e engana ouvintes nas principais plataformas de streaming, sem que muitos percebam a diferença.

A revolução silenciosa da música gerada por IA já começou. E muita gente nem percebeu.

Nos últimos meses, uma nova tendência tem chamado atenção de quem consome música online. Canais no YouTube e perfis em plataformas como Spotify e Apple Music estão sendo inundados com faixas instrumentais, bandas desconhecidas e histórias cativantes — mas tudo isso pode ser mentira.

Músicas “estranhas” e contas novas

Foi assim que tudo começou. Uma playlist LoFi no YouTube, com batidas suaves e um nome de artista jamais ouvido antes.

O canal era novo, a música não era ruim, mas algo parecia fora do lugar. Ao verificar a descrição, a revelação: música feita por IA.

Essa experiência, que parecia pontual, se repetiu. Em pouco tempo, canais inteiros estavam publicando horas de músicas “novas” por semana — tudo feito com inteligência artificial.

Essas faixas costumam ser instrumentais e genéricas. Mas nem sempre. Entre as criações estão nomes como Concubanas e Phantasia, bandas que supostamente existiriam desde os anos 1970, misturando salsa, rumba e jazz congolês.

As descrições falam de origens multiculturais, carreiras interrompidas e fusões sonoras inovadoras. Só que nada disso é real. Nem as bandas, nem as histórias, nem a música.

Álbuns falsos, som verdadeiro

A “banda” Concubanas, por exemplo, tem um álbum chamado Rumba Congo. Não parece um experimento falho — o som é agradável, coeso e bem produzido.

Já o grupo Phantasia, apresentado como um nome de culto que “entrou em silêncio” em 1976, entrega faixas que poderiam facilmente tocar em qualquer playlist de jazz.

Esses projetos demonstram o potencial estético da IA. Mas por trás disso há também muito dinheiro. Um caso nos Estados Unidos mostrou como a inteligência artificial já virou negócio bilionário.

Um homem na Carolina do Norte foi acusado de criar centenas de milhares de músicas falsas e distribuí-las em serviços de streaming. Com nomes como “Zygotic Washstands” e “Calvinistic Dust”, essas faixas acumularam milhões de reproduções e geraram US$ 10 milhões — segundo os promotores.

E esse é apenas um caso. A CISAC (Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores) estima que a receita da música gerada por IA vai saltar de US$ 100 milhões em 2023 para US$ 4 bilhões até 2028.

Isso significa que, em poucos anos, a IA pode responder por 20% de todo o mercado de streaming musical.

O som perfeito para estudar

O fenômeno não se restringe a bandas fictícias. A influência da IA já chegou até mesmo nos clássicos canais de LoFi, como o famoso “LoFi Girl”.

Esse canal transmite batidas suaves, acompanhadas da imagem animada de uma garota lendo ou estudando. Com 15 milhões de inscritos, virou símbolo do estilo.

No entanto, segundo o influenciador musical Derrick Gee, do TikTok, o canal pode ser quase inteiramente gerado por IA.

Gee levanta evidências e mostra que diversos canais semelhantes, com visuais idênticos e músicas parecidas, também podem ser fruto de inteligência artificial. Alguns desses canais indicam isso nas descrições. Outros não.

Falta de regras e transparência

A ausência de uma política clara em relação ao uso da IA nas músicas levanta preocupações. O YouTube exige que criadores identifiquem conteúdos alterados ou sintéticos.

Porém, essa indicação fica escondida na descrição e nem sempre aparece nos dispositivos móveis. Quando há violação, o YouTube pode rotular ou até remover o conteúdo. Mas a aplicação dessa regra é inconsistente.

No Spotify, a situação é ainda mais nebulosa. A plataforma não exige nenhum tipo de rotulagem. O copresidente da empresa, Gustav Söderström, já afirmou que a IA é um “facilitador criativo” e que o foco está apenas nas questões legais, como os direitos autorais. Não há qualquer menção sobre a necessidade de informar se a música foi feita por máquinas.

Artistas reais invisíveis

Esse cenário levanta críticas entre usuários e músicos. Muitos se sentem enganados. Um usuário do Reddit expressou sua frustração, dizendo que artistas de verdade terão mais dificuldade para ganhar visibilidade, já que os ouvintes não conseguem mais distinguir o que é humano e o que é artificial.

A música da IA não apenas compete com a música real — ela pode vencê-la com facilidade, graças a algoritmos, automação e falta de regulação.

E isso levanta uma pergunta incômoda: será que conseguimos, hoje, reconhecer uma música feita por humanos?

Muito além da música

O que acontece com a música é parte de um fenômeno maior. A IA já está presente na escrita, nas imagens, nos vídeos e em outras formas de arte. Os deepfakes, por exemplo, desafiam a confiança nas imagens online.

Agora, a música gerada por IA desafia nossa relação com o som e com os artistas. O que antes era criação humana pode agora ser simulado por máquinas — com resultados cada vez mais convincentes.

Por outro lado, nem tudo é negativo. Quando usada com ética e transparência, a IA pode ser uma aliada. Artistas podem utilizá-la para criar, remixar ou testar ideias.

Projetos de cocriação entre humanos e máquinas estão sendo explorados em diversos países, com resultados interessantes. O problema está na falta de regras claras. Sem isso, ouvintes são enganados e artistas ficam ofuscados.

Criações falsas, sucesso real

O canal que criou Concubanas e Phantasia é relativamente pequeno. Tem cerca de 40 mil inscritos e menos de um ano de atividade. Ainda assim, já publicou mais de uma dúzia de projetos musicais “fictícios”, com nomes, estilos e histórias elaboradas.

Cada álbum tem sua identidade e até mesmo artes visuais próprias. O canal informa que tudo é “ficção” e inclui o aviso de “conteúdo sintético”. Mas também deixa um recado provocativo:

“Você não vai acreditar no que está ouvindo! Tudo o que acontece neste canal é ficção. Mas qual é a verdade? F*da-se, só ouça!”

E agora?

A grande pergunta que fica é simples: importa mesmo se a música foi feita por humanos? Para alguns, sim. Para outros, talvez não. Mas uma coisa é certa: essa discussão está longe de acabar.

A inteligência artificial já é parte do presente da música — e, gostemos ou não, será parte do seu f

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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