Fazenda Pombo, em Uberlândia, adota programa da ADM e supera média estadual com 73 sacas por hectare mesmo sob calor extremo, sinalizando nova era na produção rural
A Fazenda Pombo, localizada em Uberlândia (MG), adotou em novembro de 2023 o programa da Archer Daniels Midland (ADM) focado em agricultura regenerativa, registrando resultados promissores. Com 1,1 mil hectares de soja incluídos no projeto, a propriedade atingiu uma produtividade de 73 sacas por hectare, mesmo diante de ondas de calor severas no fim do ano. A média estadual, segundo a Conab, foi de 57 sacas por hectare, uma queda de 10,4% em relação ao ciclo anterior.
O produtor Júlio César Pereira Júnior, dono da fazenda, relatou que não precisou alterar significativamente suas práticas, já que trabalha com plantio direto desde 1993 e outras técnicas sustentáveis como agricultura de precisão e uso de bioinsumos. O novo modelo representou um “ajuste fino” no manejo, com ganhos visíveis de resiliência nas áreas com mais cobertura de palha.
Mesmo com leve recuo frente à safra passada, que teve 79,5 sacas por hectare, a lavoura regenerativa se destacou em um cenário desafiador. Toda a produção de soja já foi colhida e a propriedade agora foca na safrinha de milho, atualmente em fase de enchimento de grãos.
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Modelo regenerativo busca aliar produtividade, gestão financeira e sequestro de carbono
Além dos ganhos no campo, Pereira reforça que a rentabilidade da produção agrícola foi mantida graças à gestão estratégica. A fazenda contratou consultorias tributária e financeira e antecipou a venda de 70% da safra de 2023/24 ainda em abril do ano anterior, garantindo preços mais vantajosos.
A ADM, por sua vez, posiciona a Fazenda Pombo como um caso de sucesso em agricultura regenerativa no Brasil. O programa, lançado em novembro do ano passado, já conta com 20 produtores em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul, abrangendo 20 mil hectares. A meta é atingir 200 mil hectares nos próximos cinco anos, com possível expansão para São Paulo, Goiás e Mato Grosso.
Segundo André Germanos, diretor de negócios de carbono e agricultura regenerativa da ADM, os resultados no Brasil devem avançar tão rapidamente quanto nos Estados Unidos, onde a empresa já opera com mais de 2 milhões de acres sob o modelo regenerativo.
Agricultura regenerativa pode sequestrar até 2 toneladas de carbono por hectare
Embora ainda não exista um prêmio financeiro direto pago aos produtores por essa soja diferenciada, a ADM busca viabilizar esse incentivo com as indústrias de alimentos. O programa oferece assistência técnica e avaliação de mais de 60 indicadores, como plantio direto, culturas de cobertura, fixação biológica de nitrogênio e uso racional de insumos químicos e biológicos.
O foco central é o sequestro de carbono. Conforme Germanos, cada hectare de soja pode capturar até 2 toneladas de CO₂ por ano, a depender das práticas adotadas. Em média, a capacidade é de 0,5 tonelada. A ADM afirma estar preparando a cadeia produtiva para exigências futuras de rastreabilidade e pegada de carbono, que devem ganhar força em mercados internacionais.
Para mensurar esse impacto em outras culturas, como o milho, a empresa aguarda a finalização de uma calculadora de emissões desenvolvida pela Embrapa e Bayer. A previsão é que lavouras de milho entrem no programa em breve.
Custos iniciais são compensados por ganhos a médio e longo prazo no campo
De acordo com os especialistas da ADM, o custo da agricultura regenerativa varia conforme o nível de adoção atual das práticas na propriedade rural. Nos primeiros três anos, pode haver aumento de custos, mas os benefícios superam os investimentos no prazo de seis a sete anos, tanto na produtividade quanto na resiliência climática e conservação do solo.
Raphael Costa, diretor de originação e insumos da ADM, estima que os 20 mil hectares participantes do programa devem produzir entre 70 mil e 80 mil toneladas de soja regenerativa já neste ano. O objetivo é consolidar essa prática como um novo padrão no agronegócio brasileiro.
Essa abordagem representa uma integração inédita entre sustentabilidade e produção rural de larga escala, fortalecendo a imagem do Brasil como referência agrícola global em inovação e responsabilidade ambiental.
As informações foram divulgadas em reportagem de Cibelle Bouças, publicada originalmente no Globo Rural
Sobre a ADM
A Archer Daniels Midland é um conglomerado sediado nos EUA, mas que opera em mais de 270 fábricas ao redor do mundo. Na ADM, é o local onde grãos de cereais e plantas oleaginosas são transformadas em inúmeros produtos utilizados na alimentação, bebidas, indústrias e forragem animal para mercados em todo o mundo.