Com preços agressivos e logística turbinada, Shein e Shopee criaram novos hábitos de compra, avançaram sobre o mercado local e acirraram a disputa por preço, prazo e experiência.
O avanço de Shein e Shopee no Brasil não é mais tendência: é realidade com efeitos profundos no bolso do consumidor e na estratégia das lojas nacionais. Plataformas asiáticas tornaram a compra pelo celular um reflexo cotidiano, com variedade quase infinita, cupons, jogos e entregas cada vez mais rápidas.
Ao mesmo tempo, a pressão competitiva cresce. Para sobreviver, varejistas brasileiras aceleram marketplaces, investem em logística e tentam equilibrar preço, atendimento e sustentabilidade. O resultado é um varejo em mutação, com novas regras tributárias, players chegando e um consumidor mais informado e exigente.
O que mudou no comportamento de compra
A explosão de Shein e Shopee consolidou um padrão de compra frequente, impulsiva e mobile-first. O usuário abre o app, recebe ofertas personalizadas, testa cupons, soma moedas virtuais, e conclui a compra em poucos toques.
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A “gamificação” virou motor de tráfego e conversão, mantendo a audiência ativa por mais tempo.
Outro ponto é a massiva variedade. O modelo de marketplace (caso da Shopee) e o fast fashion data-driven (caso da Shein) aumentam a sensação de “tudo tem e barato”.
Isso reduz o atrito de busca e empurra o consumidor para o digital até para itens de baixo tíquete, antes dominados pelo comércio de bairro.
Preço baixo como arma e como risco
O diferencial mais visível é o preço. Custos de produção na Ásia e escala global permitiram rótulos “impossíveis” para o varejo local, especialmente em moda e utilidades.
Ao mesmo tempo, o programa Remessa Conforme criou um canal formal de importações de pequeno valor com tributação antecipada o que agiliza a liberação e dá previsibilidade ao consumidor.
Em 2025, o ambiente ficou mais duro: alíquota do ICMS subiu para 20% nas remessas (em empresas aderentes ao programa) e o Imposto de Importação para compras até US$ 50 foi fixado em 20%.
Plataformas anunciaram ajustes de preços para repassar parte do custo. Ainda assim, a percepção de “barato” segue, porque a experiência e o sortimento continuam a atrair.
Impacto direto no varejo nacional
Para as marcas brasileiras, o choque é amplo. De um lado, pressão por preço e prazo; de outro, a necessidade de diferenciar-se por qualidade, curadoria e serviço.
Muitas redes transformaram seus sites em marketplaces, abrindo espaço a vendedores terceiros (inclusive internacionais) para ampliar sortimento e diluir risco de estoque.
A logística virou campo de batalha. Centros de distribuição, rotas dedicadas e parcerias locais encurtam prazos e reduzem o “medo da espera”.
No varejo nacional, dark stores e ship-from-store (expedir direto da loja) ajudam a competir no “D+1”, enquanto atendimento e pós-venda viram fatores decisivos para reter clientes fora da “guerra de cupons”.
Os números que explicam a disputa
A escala ajuda a entender o cenário. A Shopee dobrou o volume de vendas no Brasil em 2024, alcançando cerca de R$ 60 bilhões.
Já a Shein reportou mais de R$ 15 bilhões em faturamento no Brasil em 2023, e acelerou a produção local, com a meta de 85% das vendas fabricadas no país sendo anunciada como alcançada já em 2024.
Em 2025, novos players intensificaram a competição caso da Temu, que ganhou tração rápida em acessos.
Em paralelo, e-commerces asiáticos passaram a responder por uma fatia relevante da audiência e do GMV no país, ampliando a pressão por eficiência e preço nas redes brasileiras.
Tributação e “campo neutro”: ainda há disputa
A crítica mais recorrente do varejo nacional é a isonomia tributária. Com o Remessa Conforme, Shein e Shopee aderiram ao recolhimento antecipado, reduzindo a assimetria e a informalidade nas encomendas de baixo valor.
Mas a discussão não acabou: entidades setoriais defendem ajustes para equilibrar custos entre importado de pequeno valor e produto nacional.
Outro ponto é a fiscalização de quem não aderiu ao programa. Antes, práticas como subfaturamento e fragmentação de pacotes distorciam a concorrência.
A fiscalização ficou mais eficiente, mas brechas persistem fora do sistema o que mantém o tema no centro do debate regulatório.
Sustentabilidade e trabalho: o custo que não aparece no preço
No fast fashion, o impacto ambiental é parte da conta: resíduos, emissões e microplásticos crescem com ciclos de coleção acelerados.
Além disso, condições trabalhistas na cadeia de fornecedores voltam e meia viram alvo de reportagens e auditorias independentes.
Consumidores começam a ponderar preço x impacto, e marcas locais tentam usar transparência de cadeia e durabilidade do produto como vantagem competitiva.
Essa é a fronteira do “valor além do preço”: quem convence o cliente de que compra consciente compensa, abre espaço para margens melhores e fidelidade.
Estratégias que funcionam no Brasil
Varejistas que crescem com rentabilidade têm apostado em três linhas:
- Curadoria e marca própria: menos guerra por preço unitário, mais valor percebido.
- Omnicanal de verdade: retirar na loja, trocar fácil, pós-venda ágil. Conveniência retém.
- Comunidade e conteúdo: live commerce, influenciadores e programas de relacionamento que recompensam recorrência, não só a primeira compra.
Do lado asiático, tropicalização real importa: CDs nacionais, parcerias com vendedores locais, atendimento em português, prazos de D+X e pagamento “à brasileira” (Pix, parcelado) reduzem atrito e ampliam adesão.
E o consumidor, o que ganha e o que perde?
Ganha preço menor, variedade e competição. Ganha também prazos melhores e mais opções de pagamento.
Por outro lado, enfrenta mais decisões, riscos de qualidade e pós-venda distante em parte das compras internacionais.
Ler avaliações, checar política de devolução e desconfiar do “bom demais” segue imprescindível.
No médio prazo, o Brasil tende a manter um varejo híbrido: plataformas globais competindo com redes locais digitalizadas.
Quem entregar valor total preço, prazo, produto e propósito vai liderar.
A disputa entre Shein e Shopee e o varejo nacional está redefinindo o preço de referência, a régua de serviço e o que significa comprar bem.
Para os brasileiros, nunca houve tanta oferta e tanta responsabilidade na escolha.
Agora queremos te ouvir: você migrou boa parte das suas compras para plataformas asiáticas? O que mais pesa na sua decisão preço, prazo, qualidade ou confiança no pós-venda? E lojas brasileiras: o que elas precisam mudar para te reconquistar? Deixe seu relato nos comentários opiniões de quem compra todo mês valem ouro nessa conversa.