Sem perceber, gigantes como a Apple financiaram e treinaram a concorrência que hoje ameaça a liderança tecnológica dos EUA.
A decisão de empresas como a Apple de transferir sua produção para a China foi, por décadas, vista como uma jogada de mestre. A lógica era simples: custos menores resultavam em lucros maiores. Contudo, essa estratégia acabou por fortalecer seu futuro concorrente. Ao fabricar produtos para o Ocidente, a China desenvolveu uma capacidade industrial e tecnológica que hoje compete diretamente com os Estados Unidos.
A estratégia inicial: lucros ocidentais e a ascensão industrial da China
Para se tornar uma forte concorrente dos Estados Unidos, a China contou com a ajuda de empresas ocidentais. Há décadas, companhias como a Apple decidiram mover sua produção para o país asiático. A equação era clara: produzir na China era mais barato, aumentando a margem de lucro.
No entanto, as empresas americanas passaram anos alimentando seus futuros concorrentes. A China não via essa parceria como uma simples oferta de mão de obra barata. Segundo Kyle Chan, pesquisador da Universidade de Princeton, o país asiático teve um esforço deliberado para usar essas empresas para desenvolver sua própria economia.
-
Governo intervém e investe R$300 milhões no mercado de arroz para garantir o preço ao produtor antes mesmo do início do plantio da safra.
-
Dá para aposentar aos 55 anos ou antes usando regras já previstas em lei: professor, pessoa com deficiência, aposentadoria especial por risco, regra de pontos (86), pedágio de 50% e direito adquirido
-
O INSS não busca provas por conta própria: quem entrega três documentos esquecidos PPP, carteira de trabalho antiga e carnês de contribuição pode elevar o valor da aposentadoria
-
O Tribunal brasileiro paralisou há 4 anos milhares de processos de aposentadoria e revisão em todo o Brasil, e agora em setembro de 2025 o julgamento vai acontecer
“Nunca foi simplesmente dizer: ‘OK, venham fabricar aqui, fiquem ricos e todos ficamos satisfeitos'”, explica Chan. A exigência era uma contribuição para o desenvolvimento da China, envolvendo não apenas a Apple, mas também gigantes como Volkswagen, Bosch e Intel.
De fábrica do mundo a concorrente direta na tecnologia
O centro de gravidade da indústria tecnológica mundial está mudando. A era em que os EUA dominavam sozinhos a produção de tecnologias inovadoras acabou. Hoje, a concorrência é acirrada em todos os setores. Han Shen Lin, diretor da consultoria The Asia Group, afirma que “não se trata mais de uma corrida com um só cavalo“.
No livro “Apple in China”, Patrick McGee revela que a decisão da Apple de fabricar mais de 90% de seus produtos na China gerou lucros imensos, mas também financiou e capacitou os fabricantes chineses. Com o tempo, fornecedores chineses substituíram os estrangeiros na cadeia de produção da Apple, desde peças de cristal até os próprios chips. Uma análise de 2024 indicou que 87% dos fornecedores da Apple possuem fábricas na China. A dependência é tão grande que o governo chinês poderia, se quisesse, paralisar a produção da Apple.
A batalha pela inteligência artificial e a resposta da China às sanções
A inteligência artificial (IA) é a joia da coroa na disputa tecnológica. Os EUA pareciam liderar com o ChatGPT da OpenAI. No entanto, o chatbot chinês DeepSeek surgiu como um concorrente poderoso, desenvolvido com uma fração do custo.
Esse avanço desafiou as restrições americanas à exportação de chips avançados de IA para a China. Desde 2022, os EUA impedem a venda de chips como o H100 da Nvidia. Para os chineses, criar um modelo de IA competitivo se tornou uma questão de “patriotismo”.
Medidas como essa, embora eficazes a curto prazo para desacelerar a China, impulsionam o país a desenvolver sua própria tecnologia e cadeia de fornecimento. Um exemplo claro é a Huawei, que, após sofrer sanções, desenvolveu seu próprio sistema operacional e chips.
As vantagens competitivas da China na corrida tecnológica
Quais são as vantagens da China? Primeiramente, uma política industrial decidida, que usa recursos do Estado para investir em setores estratégicos a longo prazo, mesmo sem lucros imediatos. Além disso, o país promove uma “concorrência interna muito, muito feroz“, onde governos regionais apoiam empresas locais, criando competidores fortes em nível global.
Outra vantagem crucial é a “magnitude”. A enorme população da China permite testar tecnologias emergentes em larga escala. Han Shen Lin destaca que “a China pode colocar em prova tecnologias emergentes com toda a sua população”. Isso acelera o desenvolvimento em áreas como a farmacêutica, onde o recrutamento para testes clínicos é muito mais rápido.
O futuro da liderança e os riscos para a China
Tudo isso coloca a China em uma posição privilegiada para definir o futuro da tecnologia. Em cidades como Xangai, a tecnologia avançada já está perfeitamente integrada ao cotidiano, desde a logística baseada em IA até pagamentos digitais.
Contudo, este caminho apresenta riscos. Sem colaboração global e aceitação de padrões internacionais, a China corre o perigo de ficar isolada em uma “câmara de eco”. Para evitar isso, o país tem ampliado sua influência no Sul Global com projetos como a Iniciativa Cinturão e Rota e busca dominar organismos de padronização em entidades como a ONU.