Desenvolvido pela brasileira Nova Kaeru, o biocouro beLEAF, feito de folhas, é a nova aposta de gigantes como Louboutin. Mas sua composição, que inclui plástico de origem fóssil, levanta um debate crucial sobre o que é, de fato, sustentável.
A Nova Kaeru, uma pioneira em curtimento orgânico, está no centro das atenções com o beLEAF, um material inovador que transforma a folha da planta ‘Orelha de Elefante’ em um artigo de luxo. Utilizado por marcas cobiçadas como Loewe e Christian Louboutin, o material fascina pela estética única. No entanto, apesar do seu processo de produção com impacto ambiental positivo, o uso de um revestimento de poliuretano de origem fóssil e um forro de poliamida reciclada o coloca no centro das controvérsias que cercam o termo ‘couro vegano‘.
A trajetória da Nova Kaeru e o futuro do couro vegano
A busca por alternativas sustentáveis ao couro animal tem impulsionado a inovação na indústria da moda. Nesse cenário, a empresa brasileira Nova Kaeru se destaca com o beLEAF, um biocouro produzido a partir de folhas de plantas que tem conquistado o mercado de luxo global. Este artigo explora a trajetória da Nova Kaeru, a tecnologia por trás do beLEAF e os desafios e oportunidades que moldam o futuro dos couros veganos.
Da pele de rã ao palco global da sustentabilidade
A história da Nova Kaeru é marcada pela inovação e pela visão de seu cofundador, Eduardo Filgueiras. Longe do universo dos curtumes, Filgueiras era um guitarrista que, nos anos 90, se envolveu no negócio de criação de rãs da família. A beleza das peles de rãs, que eram descartadas, despertou sua curiosidade e o levou a buscar uma forma de aproveitá-las.
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A jornada de Eduardo Filgueiras e a criação do Processo Kaeru®
Filgueiras iniciou uma jornada autodidata, frequentando uma escola de curtume onde se chocou com o uso de químicos tóxicos. Essa experiência moldou sua filosofia empresarial. O desafio inicial era o tamanho das peles de rã, muito pequenas para o uso comercial. A solução foi o desenvolvimento de uma técnica exclusiva para “soldar” as peles, criando mantas maiores e sem costuras. Nascia o “Processo Kaeru®”, a base tecnológica da empresa.
O modelo de negócio focado em “Bio Leathers” e o impacto na economia local
Fundada em 2006, a Nova Kaeru se especializou em “Bio Leathers” exóticos, utilizando processos naturais e sustentáveis. A empresa, sediada em Três Rios e Petrópolis (RJ), tornou-se um importante empregador na região, com mais de 150 pessoas envolvidas na produção. A Nova Kaeru opera com licenciamento de todos os órgãos ambientais e possui uma estação de tratamento de água, reforçando seu compromisso com a sustentabilidade.
Um modelo de economia circular e impacto social na Amazônia
Para entender a credibilidade da Nova Kaeru, é fundamental analisar seu produto mais emblemático: o couro de pirarucu. A empresa foi pioneira na transformação das peles de pirarucu, antes consideradas resíduos da indústria alimentar, em um couro de luxo. Este ato de upcycling é um pilar da identidade da empresa.
A transformação de resíduos em couro de luxo
A Nova Kaeru implementou um exemplo prático de economia circular ao dar um novo destino às peles de pirarucu. O modelo de negócio envolve uma complexa cadeia de abastecimento que se estende até a Amazônia, com parcerias com 280 comunidades indígenas e ribeirinhas, envolvendo cerca de 4.000 pescadores.
A colaboração com as comunidades locais é fundamental para o manejo sustentável do pirarucu, uma espécie que esteve ameaçada de extinção. Graças a práticas de manejo sustentável, as populações de pirarucu selvagem registraram um aumento superior a 427% nos últimos dez anos. A venda das peles à Nova Kaeru representa uma fonte de renda vital para as famílias locais.
O “couro de folha” que revoluciona o mercado de luxo
O beLEAF é um biotecido patenteado desenvolvido pela Nova Kaeru a partir das folhas da planta Alocasia Macrorrhiza, conhecida como “Orelha de Elefante”. O material preserva a textura natural das nervuras da folha, o que torna cada peça única.
O beLEAF possui características semelhantes às do couro animal em termos de versatilidade, toque, peso e maleabilidade. É comercializado como vegano, natural e biodegradável, uma “co-criação com a natureza”.
A ciência por trás do curtimento orgânico e os compromissos do material
O processo de curtimento do beLEAF é 100% isento de metais pesados, utilizando uma formulação própria que combina óleos orgânicos, polímeros de origem vegetal e resinas naturais. Para garantir a resistência, a folha curtida é reforçada com um forro de poliamida 100% reciclada. O acabamento, no entanto, utiliza uma camada de poliuretano (PU) derivado do petróleo, uma limitação que a empresa busca superar.