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A estrada que mudou o Brasil: como a Rio–Petrópolis se tornou a primeira rodovia asfaltada do país em 1928

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 18/07/2025 às 13:29
Inaugurada em 1928 o trecho da subida da serra entre o Rio e Petrópolis
Inaugurada em 1928 o trecho da subida da serra entre o Rio e Petrópolis
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Em 1928, o Brasil dava um passo ousado rumo à modernização. A ligação entre o Rio de Janeiro e Petrópolis deixava de ser uma trilha precária para se tornar a primeira rodovia asfaltada do país. A estrada Rio–Petrópolis foi um marco não só de engenharia, mas de visão política.

Inaugurada com pompa em 25 de agosto de 1928, a estrada Rio–Petrópolis marcou um divisor de águas na infraestrutura do Brasil. Era a primeira rodovia asfaltada do país e uma vitrine da ambição do então presidente Washington Luís, cuja famosa frase — “Governar é abrir estradas” — ganhou forma literal na nova ligação entre a então capital federal e a cidade imperial.

Até então, o trajeto entre Rio de Janeiro e Petrópolis era feito por caminhos de terra batida, sujeitos a erosões, deslizamentos e alagamentos constantes, sobretudo após chuvas.

A nova rodovia, planejada e construída para vencer os desafios da Serra do Mar, transformou radicalmente esse cenário.

Com pistas de 8 metros de largura na Baixada Fluminense e 6,5 metros na serra, a estrada possuía um limite de velocidade de 60 km/h — um feito à época.

Uma obra que impressionava

A construção da estrada foi uma ousadia técnica para os padrões do início do século 20. O trecho da serra incluía túneis escavados em rocha a mais de cem metros de altura e curvas sinuosas em encostas íngremes.

Mesmo com poucos veículos circulando no Brasil — o Distrito Federal contava com cerca de 20 mil à época — a demanda por uma via segura e funcional justificava o projeto.

No dia seguinte à inauguração, 1.783 veículos passaram pela nova estrada. Um número que impressionou o governo e a população, tornando-se símbolo do progresso.

O então presidente Washington Luís, que havia assumido o poder em 1926, fez da estrada um dos marcos de sua gestão, a última da chamada República Velha.

Modernização e mudanças

Em 1931, o governo iniciou a substituição do asfalto por concreto no trecho da serra, com cerca de 22 km de extensão. Essa obra incluiu a construção de três viadutos desafiadores, lançados sobre desfiladeiros — marcos da engenharia nacional.

O conjunto da obra tornou-se referência de infraestrutura viária no país e símbolo da modernização.

Nas décadas seguintes, a Rio–Petrópolis passou por mudanças estruturais. Já nos anos 1950, foi construído o Contorno de Petrópolis, ligando Itaipava a Xerém.

A via original, então, passou a funcionar como pista de subida, enquanto o novo traçado passou a servir como pista de descida. Essa divisão permanece até hoje.

Concessão e nova fase

Em 1996, a rodovia foi concedida à iniciativa privada. A Concer (Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora–Rio) passou a administrar o trecho entre o Rio e Juiz de Fora, incluindo o segmento histórico entre o Rio e Petrópolis. A privatização previa melhorias na pista, aumento da segurança e manutenção contínua.

No entanto, o trecho da serra permaneceu um desafio. Curvas fechadas, neblina intensa e pistas estreitas geravam riscos e acidentes.

Em 2013, começaram obras para a construção de uma nova subida da serra, com túneis e viadutos modernos.

O objetivo era tornar o trajeto mais rápido e seguro, mas as obras foram marcadas por atrasos e questionamentos sobre a gestão da concessão.

Hoje, cerca de 7 mil veículos circulam diariamente pelo trecho administrado pela Concer. O nome oficial do segmento entre Rio e Petrópolis é Rodovia Washington Luís, em homenagem ao presidente que idealizou o projeto.

Parte da BR‑040, a estrada liga o Rio de Janeiro a Belo Horizonte e segue até Brasília, consolidando-se como uma via estratégica nacional.

Um legado que resiste

Mais de 90 anos após sua inauguração, a Rio–Petrópolis segue viva na memória do país.

A estrada que simbolizou o início da era rodoviária brasileira também se tornou testemunha das transformações políticas, econômicas e sociais do Brasil.

De símbolo de progresso à espera por modernização, ela continua conectando não apenas cidades, mas também capítulos distintos da história nacional.

A estrada permanece como lembrança concreta de que, para muitos governantes, o progresso começa no asfalto. E que, às vezes, uma rodovia pode carregar muito mais do que carros — ela transporta ideias, esperanças e a própria noção de desenvolvimento.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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