Com uma fortuna que ultrapassa R$ 17 bilhões, a família Feffer comanda a maior produtora de celulose do mundo, a Suzano, mantendo um perfil recluso e um controle rigoroso sobre a sucessão do império.
Em São Paulo, o sobrenome Feffer tornou-se sinônimo de papel e celulose. Com um patrimônio avaliado em R$ 17 bilhões, o clã Feffer controla a Suzano S.A., a maior produtora de celulose do planeta. A trajetória da família é uma saga de quatro gerações marcada por inovação, crescimento estratégico e uma notável discrição. Eles construíram um colosso global, mas evitam os holofotes, focando na governança e na perpetuação de seu poder através de um plano de sucessão meticuloso.
A visão revolucionária de Leon Feffer
A história do império Feffer começou com a coragem de um imigrante. Leon Feffer, nascido na Ucrânia, chegou ao Brasil em 1920 e iniciou sua jornada como mascate no Brás, em São Paulo. Ele se especializou no comércio de papel. A virada ocorreu em 1939, quando as dificuldades de importação impostas pela Segunda Guerra Mundial o levaram a uma decisão ousada: tornar-se um fabricante.
Leon vendeu todos os seus bens, incluindo a casa e as joias da esposa, para financiar sua primeira fábrica. Seu maior legado, no entanto, foi revolucionar a indústria global. Desafiando o consenso da época, sua equipe foi a primeira a produzir celulose de alta qualidade a partir de 100% de fibra de eucalipto, uma inovação que transformou o Brasil em uma potência no setor. Sua filosofia era resumida no lema “Reporto-me”, que significava assumir total responsabilidade por suas decisões.
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As gerações que expandiram e profissionalizaram a Suzano
Se Leon foi o fundador visionário, seu filho, Max Feffer, foi o arquiteto da expansão. Max impulsionou a comercialização global da celulose de eucalipto e infundiu na empresa uma cultura de sustentabilidade e humanismo, sendo pioneiro no conceito de responsabilidade socioambiental no Brasil.
A terceira geração, liderada por David Feffer, implementou uma revolução na governança. Ao assumir a presidência em 2001, David iniciou uma profunda modernização. Em 2003, ele tomou a decisão estratégica de deixar o cargo de CEO para se tornar Presidente do Conselho de Administração.
Este movimento separou a gestão executiva do controle familiar, um passo crucial para a profissionalização. Sob sua liderança no conselho, a Suzano realizou a aquisição da rival Fibria em 2019, criando a líder mundial em celulose.
Hoje, a quarta geração do clã Feffer atua principalmente como “proprietários-investidores” e guardiões do legado. Eles não estão na gestão diária, um reflexo do sucesso da profissionalização.
O modelo de negócio por trás da maior produtora de celulose do mundo
O poder da Suzano se baseia em um modelo de negócio verticalmente integrado. A empresa gerencia mais de 2,8 milhões de hectares no Brasil, onde pratica o “plantio em mosaico”, intercalando eucalipto com vegetação nativa para garantir a saúde do ecossistema. O ciclo de crescimento do eucalipto no Brasil, de seis a sete anos, confere uma vantagem de custo drástica sobre os concorrentes.
A inovação é um pilar central, resumido no termo “Inovabilidade”. A empresa usa sua base de madeira renovável para criar bioprodutos que substituem materiais de origem fóssil. Seus produtos, da celulose vendida a mais de 100 países ao papel higiênico líder no mercado brasileiro, alcançam mais de 2 bilhões de pessoas. A China é um mercado crítico, absorvendo 43% de suas exportações de celulose.
As chaves do poder duradouro do Clã Feffer
A fortuna do clã Feffer é estimada em R$ 17 bilhões, com algumas fontes indicando valores que podem chegar a R$ 29,1 bilhões. Os irmãos David, Daniel, Jorge e Ruben são todos bilionários. Apesar da imensa riqueza, a família é extremamente reservada. Essa discrição é uma escolha estratégica que protege a família e a empresa de controvérsias, garantindo que o nome Feffer seja associado quase exclusivamente ao seu império empresarial.
O controle é exercido através da Suzano Holding, presidida por David Feffer. Essa estrutura permite que a família defina a visão de longo prazo, enquanto um CEO profissional executa a gestão. O poder da dinastia é solidificado por um acordo de acionistas que garante o comando da família sobre a empresa até o ano de 2042, proporcionando uma estabilidade rara e protegendo a companhia de pressões de curto prazo do mercado.
Desafios e oportunidades no próximo século
Ao completar 100 anos, a Suzano, sob o comando do clã Feffer, está posicionada para o futuro, mas enfrenta riscos. A forte dependência do mercado chinês cria uma vulnerabilidade geopolítica, e a empresa permanece exposta à volatilidade dos preços das commodities.
A grande oportunidade reside na estratégia de “Inovabilidade”, capitalizando na transição global para uma economia verde. O desafio para o clã Feffer será manter a unidade familiar e a visão de longo prazo pelas próximas gerações. Seu modelo de governança, que equilibra controle familiar com gestão profissional, se apresenta como um plano para a longevidade de outros impérios familiares em um mundo em constante mudança.