Impulsionadas por descobertas na África, gigantes como Petrobras, Shell e Chevron apostam bilhões em uma nova fronteira no Sul do Brasil que pode conter uma reserva gigante de gás natural e petróleo.
Uma nova e promissora fronteira para a exploração de petróleo e gás está no centro das atenções no Brasil. A Bacia de Pelotas, no litoral sul do país, começou a ser chamada de “Arábia Saudita Brasileira” pelo seu potencial de abrigar uma reserva gigante de gás natural e petróleo, capaz de dobrar as reservas nacionais.
No entanto, é crucial entender que, por enquanto, tudo não passa de uma tese geológica de alto risco e altíssima recompensa. Não houve uma descoberta, mas sim uma aposta bilionária de gigantes como a Petrobras e a Shell, que arremataram dezenas de blocos na região em leilões recentes. A perfuração do primeiro poço, o momento da verdade, ainda está a anos de distância.
O passado: uma fronteira adormecida até 2022
Por décadas, a Bacia de Pelotas foi considerada uma região de baixo potencial. Perfurações realizadas pela Petrobras entre os anos 1950 e 1990, em águas rasas, não encontraram indícios de petróleo, deixando a área adormecida.
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O cenário mudou completamente a partir de 2022. Descoberta de reserva gigante de gás natural e petróleo feitas pela Shell e pela TotalEnergies na Bacia de Orange, na Namíbia, na costa da África, acenderam um alerta global. Geologicamente, a Bacia de Pelotas é uma “irmã gêmea” da bacia africana, pois as duas estavam conectadas antes da separação dos continentes. A tese, defendida por geólogos como Luciano Seixas, é que, se há uma imensa reserva de um lado do Atlântico, é muito provável que haja outra do outro lado.
O despertar do interesse pela reserva gigante de gás natural: o leilão de dezembro de 2023
Impulsionado pela tese da margem conjugada, o mercado voltou seus olhos para o Sul do Brasil. Em dezembro de 2023, no 4º Ciclo da Oferta Permanente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a disputa pela Bacia de Pelotas foi intensa.
A Petrobras, sob a liderança da presidente Magda Chambriard, foi a grande protagonista. A estatal, em parceria com a Shell, arrematou 26 blocos. Em outros três, o consórcio ganhou o reforço da estatal chinesa CNOOC. A gigante americana Chevron também fez uma aposta independente e adquiriu 15 blocos sozinha. A parte da Petrobras nos bônus de assinatura pagos neste leilão foi de R$ 116 milhões.
A consolidação da aposta: o leilão de junho de 2025
O interesse pela reserva gigante de gás natural na região se confirmou no leilão seguinte. Em junho de 2025, no 5º Ciclo da Oferta Permanente da ANP, a Petrobras voltou a arrematar blocos na bacia, desta vez em parceria com a portuguesa Petrogal Brasil. O consórcio levou mais três blocos, com um bônus de assinatura de cerca de R$ 139 milhões por parte da Petrobras.
Esses movimentos consolidaram a posição das maiores empresas de energia do mundo na nova fronteira, sinalizando uma aposta de longo prazo.
A fase atual (2025-2027): a longa jornada dos estudos sísmicos
Apesar da euforia, o cronograma para a exploração é longo. A expectativa de perfuração em 2025 é prematura. A fase atual, que deve se estender até 2027, é de aquisição de dados sísmicos 3D de alta tecnologia para mapear o subsolo e identificar os melhores locais para perfurar.
Empresas especializadas, como a norueguesa Shearwater, já estão na região com navios avançados, como o SW Empress, para realizar esse mapeamento.
A perfuração na reserva gigante de gás natural pós-2028
A prova definitiva do potencial da Bacia de Pelotas só virá com a perfuração do primeiro poço. Segundo um executivo da Shell, a primeira perfuração exploratória não deve ocorrer antes de 2028.
Se o petróleo for encontrado, ainda será necessária uma longa fase de avaliação para determinar se a produção é comercialmente viável. Em um cenário otimista, a produção só começaria na década de 2030. Esse cronograma é estratégico para a Petrobras, pois a produção dos supercampos do pré-sal deve começar a declinar a partir de 2030, e Pelotas surge como a principal candidata para garantir a autossuficiência do Brasil nas décadas seguintes, como destacou Roberto Ardenghi, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
Uma aposta de alto risco com uma recompensa gigante
A exploração na Bacia de Pelotas é, hoje, a maior aposta do setor de petróleo e gás no Brasil. O potencial de uma reserva gigante de gás natural, estimado em até 15 bilhões de barris, é transformador. No entanto, o risco geológico ainda é altíssimo, e a prova definitiva só virá com a perfuração do primeiro poço.
O sucesso ou o fracasso dessa empreitada não apenas definirá o futuro da Petrobras e de suas parceiras, mas também o mapa energético do Brasil para as próximas décadas. O mundo estará de olho no resultado dessa aposta bilionária no Atlântico Sul.