Sanae Takaichi faz história ao se tornar a primeira premiê do Japão. Conservadora e firme, a “dama de ferro” promete austeridade e reformas.
O Japão vive um marco histórico. Pela primeira vez, o país será liderado por uma mulher: Sanae Takaichi, política conservadora e defensora da austeridade fiscal. A nova premiê japonesa foi eleita nesta terça-feira (21/10/2025) para substituir Shigeru Ishiba, que deixou o cargo após a derrota do Partido Liberal Democrata (PLD) nas eleições de julho.
Com 64 anos, Takaichi encerra um período de três meses de incerteza política e assume o comando da quarta maior economia do mundo.
Admiradora da britânica Margaret Thatcher, a nova líder japonesa promete aplicar políticas firmes e conservadoras, consolidando sua imagem como a “dama de ferro” do Japão.
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Da bateria de heavy metal ao comando político do Japão
Antes de conquistar o cargo mais alto da política japonesa, Sanae Takaichi teve uma trajetória peculiar. Durante a juventude, foi baterista de uma banda de heavy metal e motociclista — traços que revelam uma personalidade determinada e independente.
Eleita pela primeira vez em 1993, por sua cidade natal Nara, a premiê construiu uma carreira sólida dentro do PLD.
Foi ministra da Segurança Econômica, dos Assuntos Internos e da Igualdade de Gênero, embora tenha se destacado mais por sua postura austera do que por causas sociais.
Em sua primeira declaração após a posse, Takaichi reafirmou seu lema de trabalho intenso:
“Abandonarei a expressão ‘equilíbrio entre vida pessoal e profissional’. Trabalharei, trabalharei, trabalharei e trabalharei.”
Conservadorismo e resistência à agenda de gênero
Apesar de quebrar uma barreira histórica ao se tornar a primeira mulher premiê do Japão, Sanae Takaichi evita associar sua vitória a pautas de igualdade de gênero.
Conhecida por posições ultraconservadoras, ela se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à mudança de sobrenome entre casais e à sucessão feminina no trono imperial.
Embora tenha prometido ampliar a presença feminina no governo, nomeou apenas duas ministras e uma assessora especial.
Essa postura reflete a estrutura política japonesa, onde apenas 15% das cadeiras parlamentares são ocupadas por mulheres.
“As políticas da Sra. Takaichi são extremamente agressivas e duvido que ela consideraria políticas que reconhecessem a diversidade”, avaliou a comentarista Chiyako Sato, do jornal Mainichi.
A premiê que segue os passos de Shinzo Abe
Discípula do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, assassinado em 2022, Takaichi deve manter a linha política de seu mentor.
Entre suas principais metas estão o fortalecimento militar, a revisão da constituição pacifista e o crescimento econômico sustentado.
Analistas acreditam que a nova premiê tentará posicionar o Japão como uma potência mais assertiva na Ásia, ainda que isso acirre tensões diplomáticas.
Takaichi já demonstrou resistência em reconhecer crimes de guerra cometidos pelo país e defendeu a remoção de referências à escravidão sexual em livros escolares — uma postura que pode complicar as relações com China e Coreia do Sul.
Recentemente, para evitar conflitos diplomáticos, enviou apenas um ornamento religioso ao Santuário Yasukuni, local simbólico para os ultranacionalistas japoneses, em vez de comparecer pessoalmente.
Desafios econômicos e o peso da austeridade
No campo econômico, Sanae Takaichi assume o poder em meio à inflação crescente e ao descontentamento popular com o custo de vida.
Ela promete um pacote de austeridade para estabilizar as contas públicas e, ao mesmo tempo, lançar estímulos fiscais que impulsionem o crescimento.
A expectativa é que as medidas de contenção também encareçam produtos e serviços, testando a popularidade da nova premiê logo nos primeiros meses de governo.
Segundo fontes internas do Partido Liberal Democrata, Takaichi deve anunciar um gabinete formado por aliados do veterano Taro Aso, um dos caciques mais influentes da legenda.
Um novo capítulo na política japonesa
A chegada de Sanae Takaichi ao poder representa mais do que uma troca de liderança: é um sinal da virada à direita que o Japão vem consolidando nos últimos anos.
Embora muitos celebrem o feito histórico de uma mulher atingir o topo da política japonesa, outros alertam que a nova premiê simboliza um retorno às políticas tradicionais, centradas na autoridade, disciplina e na defesa de valores conservadores.
Seja como a nova “dama de ferro” da Ásia ou como uma líder de transição, Sanae Takaichi inicia seu governo sob os olhares atentos de uma nação que busca estabilidade política — e de um mundo que observa como a primeira mulher premiê do Japão pretende deixar sua marca na história.