A construção civil no Brasil, que há anos é vista como um dos principais motores econômicos do país, está passando por uma crise que muitos não esperavam. Com recordes de venda e crescimento impressionante, o setor agora se depara com um obstáculo perigoso: a falta de mão de obra qualificada.
Essa deficiência está não apenas atrasando obras, mas também aumentando custos de forma alarmante, criando um ciclo vicioso que pode desacelerar um dos setores mais promissores da economia brasileira.
Vendas em alta, mas com um paradoxo preocupante
De acordo com dados divulgados pelo Ministério do Trabalho, as vendas de imóveis novos no Brasil cresceram 15,2% no primeiro semestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior, alcançando 180.162 unidades vendidas.
Além disso, no acumulado dos últimos 12 meses, o setor registrou a venda de 353.949 novas unidades, um recorde impulsionado por uma combinação de inflação controlada, redução da taxa de juros e aumento na geração de empregos.
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Segundo a jornalista Miriam Leitão, do jornal O Globo, esse crescimento, embora positivo, trouxe à tona um paradoxo: enquanto as empresas comemoram o aumento das vendas, enfrentam dificuldades cada vez maiores para contratar profissionais qualificados para atender a demanda.
A construção civil criou 180.779 novos postos de trabalho com carteira assinada apenas no primeiro semestre de 2024, mas, mesmo assim, o setor enfrenta sérios problemas de contratação.
grandes obras em risco com a falta de mão de obra
A situação é especialmente crítica nas grandes obras, como a construção de prédios, que representou mais de 40% dos novos empregos criados.
Conforme relatado por Sylvio Pinheiro, diretor da G+P Soluções, hub de negócios voltados para a construção civil, a falta de profissionais qualificados já está provocando atrasos significativos na entrega dos projetos e, consequentemente, elevando os custos indiretos das construções.
“Isso impacta fortemente no custo de construção, tornando-a muito mais onerosa do que deveria ser”, destacou Pinheiro.
O problema não é recente, mas se intensificou nos últimos anos. De acordo com um estudo realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) em julho de 2024, a falta ou alto custo de trabalhadores não qualificados foi apontada por 24,7% dos industriais como o segundo maior problema enfrentado pelo setor, ficando atrás apenas da carga tributária.
A transformação do setor e a exigência de qualificação
Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destacou que o setor da construção civil passou por uma transformação nos últimos anos, com novos critérios de produção, procedimentos de execução de serviços e maior ênfase na segurança do trabalho.
Essa evolução exige que os profissionais sejam mais qualificados, mas o mercado não está conseguindo acompanhar essa necessidade. “Quem é novato no setor precisa passar por uma qualificação rigorosa para se adaptar aos novos padrões”, afirmou Azevedo.
O envelhecimento da mão de obra e seus impactos
O envelhecimento da mão de obra é outra preocupação crescente. Conforme afirmou Marcelo do Nascimento, sócio da Elvas Empreendimentos, construtora responsável pela obra do Niemeyer 360º na Barra da Tijuca, a falta de qualificação se torna ainda mais evidente na fase de acabamento das obras, onde a precisão e o detalhamento são essenciais.
“A mão de obra que trabalhou comigo há uns 10 anos já não está mais na construção civil”, relatou Nascimento. “Muitos desses profissionais migraram para outras áreas e não demonstram interesse em retornar ao setor.”
Ricardo Affonseca, CEO da Aros, apontou que a combinação da falta de interesse dos jovens pela construção civil e o envelhecimento dos trabalhadores atuais agrava ainda mais a situação. Segundo ele, os profissionais qualificados que ainda estão no mercado estão, em sua maioria, próximos da aposentadoria, o que reduz ainda mais a oferta de mão de obra disponível.
Impacto no custo das obras e soluções tecnológicas
Os impactos dessa crise já começam a ser sentidos no bolso do consumidor. Conforme observou Paulo Fabbriani, vice-presidente e conselheiro da B.Fabbriani Incorporadora, a escassez de mão de obra e o consequente aumento dos custos já estão sendo refletidos nos preços dos novos lançamentos de imóveis, principalmente nas regiões mais aceleradas como Rio de Janeiro, São Paulo e litoral norte de Santa Catarina.
Para mitigar esses desafios, o setor está investindo em novas tecnologias, como automação de processos, o uso de BIM (Building Information Modeling) e drones para inspeção e mapeamento. Sylvio Pinheiro mencionou que empresas e entidades de classe estão lançando programas de treinamento e qualificação para atrair e preparar novos talentos para operar essas tecnologias.
O futuro incerto da construção civil no Brasil
A grande pergunta que fica é: será que o mercado imobiliário brasileiro conseguirá superar essa crise de mão de obra e manter o ritmo de crescimento, ou estamos prestes a ver uma desaceleração que pode afetar toda a economia? O futuro do setor pode depender das decisões que serão tomadas agora. E você, o que acha? Deixe sua opinião nos comentários!
O problema são os baixos salários da construção civil.
Já não é mais atrativo para jovens ingressar ou se especializar no ramo construção civil.
Outros setores remuneração melhor e oferecem mais benefícios.
Não vale a pena trabalhar dessa forma, a única forma que proporciona dignidade ao profissional da construção civil é trabalhar como autônomo, qual pedreiro vai trabalhar hoje nessas empresas e ganhar um salário de 5 mil?
Saĺario precisa ser compatível com a produtividade;
Custo precisa ser compatível com a capacidade de compra;
Lucro precisa ser compatível com o compromisso social, não com a ganância, assistencialismo e outras coisas mais que tornam o mercado pervesso.
Sou empresário… capacito meus parceiros que buscam uma oportunidade dectrabalho honesto; tento orientar às boas práticas e se defender da exploração (de todos os lados). Ainda assim, apenas 30% se aproveita. A maioria é como um pássaro de gaiola, é melhor ganhar esmola do que ter a liberdade mas ter que trabalhar por ela.
Vejo muitos trabalhadores sendo explorados pelos próprios “companheiros”… isso é uma cultura nesse país, não está restrita a um determinado grupo.
Eu sou empreiteiro de obras não vejo a hora da construção civil colapissa por falta de mão de obra em 2015 eu pagava o dobro de salário que e hoje as construtoras so fez ante agora foi diminuir o salário do trabalhador