Kolmanskop, cidade fantasma no deserto da Namíbia, foi lar de milionários durante a corrida do diamante. Hoje, está soterrada por dunas e atrai turistas do mundo todo.
No coração do deserto da Namíbia, cercada por dunas escaldantes e ventos que nunca cessam, existe uma cidade onde o tempo parou. As janelas não têm mais vidros, mas são preenchidas por areia fina. As salas estão desertas, mas ainda guardam vestígios de luxo. E os corredores, outrora percorridos por oficiais alemães e mineradores ricos, hoje ecoam apenas o som do vento. Essa é Kolmanskop, a cidade fantasma mais icônica do continente africano — um símbolo de riqueza efêmera, abandono e natureza retomando seu espaço.
O nascimento de Kolmanskop: quando o diamante brotava da areia
O ano era 1908. A Namíbia, então sob controle colonial alemão, era um território árido e aparentemente estéril. Mas tudo mudou quando um trabalhador ferroviário chamado Zacharias Lewala encontrou um cristal brilhante enquanto limpava trilhos perto de Lüderitz. Ele entregou a pedra ao seu supervisor alemão — e, sem saber, havia descoberto um campo de diamantes a céu aberto.
A notícia se espalhou como fogo no mato seco. Logo, geólogos e aventureiros chegaram aos montes à região, e em poucos meses, uma cidade inteira foi erguida no meio do nada: Kolmanskop.
-
Cientistas acham nova espécie de inseto gigante na Austrália de 40 cm após foto viral e descobrem que ele pode ser o maior já visto
-
As 10 cidades mais violentas do Brasil — e nenhuma está fora do Nordeste!
-
Sem iPhone, Gmail e Visa? Sanção dos EUA a Alexandre de Moraes pode barrar redes sociais e qualquer transação em dólar
-
Funcionário de folga acorda com 9 ligações do chefe e viraliza ao dizer apenas “não”: relato virou revolta global
Um pedaço da Alemanha no deserto africano
Com a riqueza gerada pela mineração, Kolmanskop cresceu rapidamente. No auge, chegou a abrigar cerca de 1.300 habitantes, em sua maioria colonos alemães e suas famílias. Mas não se tratava de uma vila qualquer: era uma cidade modelo, com infraestrutura mais avançada do que muitas metrópoles europeias da época.
As casas eram construídas em estilo alemão clássico, com telhados inclinados e detalhes ornamentais. A cidade tinha:
- Hospital com máquina de raios-X (uma das primeiras da África);
- Escola, teatro e salão de baile;
- Cassino e fábrica de gelo no deserto;
- Sistema de água encanada e eletricidade própria;
- Transporte ferroviário interno.
Era um oásis urbano criado com o único objetivo de explorar e controlar as minas de diamantes da região.
Kolmanskop e o império do diamante
A área ao redor da cidade foi transformada em zona de exclusão, conhecida como Sperrgebiet (zona proibida), controlada rigidamente pelas autoridades coloniais. O acesso era restrito, e a extração era feita com técnicas cada vez mais sofisticadas — inclusive com tamises manuais no início, já que os diamantes literalmente afloravam na superfície.
Durante os anos 1910, Kolmanskop produziu cerca de 11% de todos os diamantes do mundo, sendo uma peça-chave no império econômico alemão na África.
No entanto, como acontece com todas as cidades que surgem a partir de um único recurso natural, o destino de Kolmanskop estava selado desde o início. A partir da década de 1920, novas jazidas muito mais produtivas foram descobertas ao sul, perto do rio Orange.
A cidade entrou em declínio. As operações foram gradualmente desativadas, e em 1956, Kolmanskop foi oficialmente abandonada. As famílias deixaram para trás casas, móveis, instrumentos médicos, garrafas no bar — tudo, exceto os diamantes, é claro.
O deserto, silencioso e paciente, começou sua reconquista. Sem manutenção, as dunas foram invadindo os cômodos. Hoje, em muitas casas, a areia cobre até metade das portas e janelas. As salas viraram cavernas arenosas iluminadas apenas por frestas de luz. A estrutura ainda de pé parece lutar contra o inevitável.
Um cenário surreal: o turismo em meio ao esquecimento
Apesar do abandono, Kolmanskop nunca desapareceu por completo. Graças à sua beleza única e atmosfera melancólica, a cidade passou a atrair fotógrafos, turistas e curiosos de todo o mundo.
Hoje, é um dos destinos turísticos mais visitados da Namíbia. A entrada é controlada, já que a região ainda pertence à zona de mineração protegida Sperrgebiet, agora administrada pelo governo namibiano e por empresas privadas de mineração.
Visitas guiadas são permitidas, e parte da cidade foi preservada para evitar desabamentos. No entanto, a maior parte continua à mercê da areia e do tempo, criando um cenário apocalíptico que parece saído de um filme de ficção científica.
Kolmanskop, cidade fantasma e patrimônio esquecido
Kolmanskop é muito mais do que uma cidade abandonada. Ela é um símbolo do ciclo do extrativismo colonial: uma riqueza súbita que beneficiou poucos e desapareceu com a mesma velocidade com que surgiu. Suas estruturas soterradas contam uma história de ganância, engenharia, adaptação e, por fim, desintegração.
A cidade fantasma serve como alerta e memória histórica sobre o impacto de ciclos econômicos dependentes de recursos não renováveis. E também como um retrato quase poético da natureza retomando o espaço que lhe foi tomado.