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Kolmanskop, a cidade fantasma no deserto da Namíbia onde casas seguem soterradas por dunas desde o fim da corrida do diamante

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 03/07/2025 às 07:56
Kolmanskop, a cidade fantasma no deserto da Namíbia onde casas seguem soterradas por dunas desde o fim da corrida do diamante
Foto: Kolmanskop, a cidade fantasma no deserto da Namíbia onde casas seguem soterradas por dunas desde o fim da corrida do diamante
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Kolmanskop, cidade fantasma no deserto da Namíbia, foi lar de milionários durante a corrida do diamante. Hoje, está soterrada por dunas e atrai turistas do mundo todo.

No coração do deserto da Namíbia, cercada por dunas escaldantes e ventos que nunca cessam, existe uma cidade onde o tempo parou. As janelas não têm mais vidros, mas são preenchidas por areia fina. As salas estão desertas, mas ainda guardam vestígios de luxo. E os corredores, outrora percorridos por oficiais alemães e mineradores ricos, hoje ecoam apenas o som do vento. Essa é Kolmanskop, a cidade fantasma mais icônica do continente africano — um símbolo de riqueza efêmera, abandono e natureza retomando seu espaço.

O nascimento de Kolmanskop: quando o diamante brotava da areia

O ano era 1908. A Namíbia, então sob controle colonial alemão, era um território árido e aparentemente estéril. Mas tudo mudou quando um trabalhador ferroviário chamado Zacharias Lewala encontrou um cristal brilhante enquanto limpava trilhos perto de Lüderitz. Ele entregou a pedra ao seu supervisor alemão — e, sem saber, havia descoberto um campo de diamantes a céu aberto.

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A notícia se espalhou como fogo no mato seco. Logo, geólogos e aventureiros chegaram aos montes à região, e em poucos meses, uma cidade inteira foi erguida no meio do nada: Kolmanskop.

Um pedaço da Alemanha no deserto africano

Com a riqueza gerada pela mineração, Kolmanskop cresceu rapidamente. No auge, chegou a abrigar cerca de 1.300 habitantes, em sua maioria colonos alemães e suas famílias. Mas não se tratava de uma vila qualquer: era uma cidade modelo, com infraestrutura mais avançada do que muitas metrópoles europeias da época.

As casas eram construídas em estilo alemão clássico, com telhados inclinados e detalhes ornamentais. A cidade tinha:

  • Hospital com máquina de raios-X (uma das primeiras da África);
  • Escola, teatro e salão de baile;
  • Cassino e fábrica de gelo no deserto;
  • Sistema de água encanada e eletricidade própria;
  • Transporte ferroviário interno.

Era um oásis urbano criado com o único objetivo de explorar e controlar as minas de diamantes da região.

Kolmanskop e o império do diamante

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A área ao redor da cidade foi transformada em zona de exclusão, conhecida como Sperrgebiet (zona proibida), controlada rigidamente pelas autoridades coloniais. O acesso era restrito, e a extração era feita com técnicas cada vez mais sofisticadas — inclusive com tamises manuais no início, já que os diamantes literalmente afloravam na superfície.

Durante os anos 1910, Kolmanskop produziu cerca de 11% de todos os diamantes do mundo, sendo uma peça-chave no império econômico alemão na África.

No entanto, como acontece com todas as cidades que surgem a partir de um único recurso natural, o destino de Kolmanskop estava selado desde o início. A partir da década de 1920, novas jazidas muito mais produtivas foram descobertas ao sul, perto do rio Orange.

A cidade entrou em declínio. As operações foram gradualmente desativadas, e em 1956, Kolmanskop foi oficialmente abandonada. As famílias deixaram para trás casas, móveis, instrumentos médicos, garrafas no bar — tudo, exceto os diamantes, é claro.

O deserto, silencioso e paciente, começou sua reconquista. Sem manutenção, as dunas foram invadindo os cômodos. Hoje, em muitas casas, a areia cobre até metade das portas e janelas. As salas viraram cavernas arenosas iluminadas apenas por frestas de luz. A estrutura ainda de pé parece lutar contra o inevitável.

Um cenário surreal: o turismo em meio ao esquecimento

Apesar do abandono, Kolmanskop nunca desapareceu por completo. Graças à sua beleza única e atmosfera melancólica, a cidade passou a atrair fotógrafos, turistas e curiosos de todo o mundo.

Hoje, é um dos destinos turísticos mais visitados da Namíbia. A entrada é controlada, já que a região ainda pertence à zona de mineração protegida Sperrgebiet, agora administrada pelo governo namibiano e por empresas privadas de mineração.

Visitas guiadas são permitidas, e parte da cidade foi preservada para evitar desabamentos. No entanto, a maior parte continua à mercê da areia e do tempo, criando um cenário apocalíptico que parece saído de um filme de ficção científica.

Kolmanskop, cidade fantasma e patrimônio esquecido

Kolmanskop é muito mais do que uma cidade abandonada. Ela é um símbolo do ciclo do extrativismo colonial: uma riqueza súbita que beneficiou poucos e desapareceu com a mesma velocidade com que surgiu. Suas estruturas soterradas contam uma história de ganância, engenharia, adaptação e, por fim, desintegração.

A cidade fantasma serve como alerta e memória histórica sobre o impacto de ciclos econômicos dependentes de recursos não renováveis. E também como um retrato quase poético da natureza retomando o espaço que lhe foi tomado.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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