Sede da maior mina de ferro do mundo, a cidade do minério no Pará tem um dos maiores PIBs per capita do país, mas convive com a pobreza e um prazo de validade: 2045.
No coração da Amazônia paraense, existe uma cidade construída sobre um paradoxo. Parauapebas, a cidade do minério, nasceu e cresceu à sombra da Mina de Carajás da Vale, a maior mina de minério de ferro a céu aberto do planeta. Essa riqueza que brota do chão lhe confere um dos maiores PIBs per capita do Brasil e um orçamento bilionário.
Contudo, essa opulência contrasta com uma realidade de profunda desigualdade social, falta de serviços básicos e um desafio existencial: o minério que a sustenta tem data para acabar. A história de Parauapebas é um estudo de caso sobre a “maldição dos recursos” e a corrida contra o tempo para construir um futuro que sobreviva ao fim da mineração.
A riqueza que brota do chão: A maior arrecadação por mineração do Brasil
Os números de Parauapebas são de uma potência econômica. Em 2021, o município registrou um impressionante PIB per capita de R$ 227.449, um dos maiores do país. A principal fonte dessa riqueza são os royalties da mineração (CFEM), que garantem à prefeitura um orçamento anual bilionário.
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Só em 2024, a cidade arrecadou R$ 1,295 bilhão em royalties. No entanto, essa dependência extrema da mineração é uma faca de dois gumes. Com a queda no preço do minério, a previsão para 2025 já é de uma retração de 37% na arrecadação, um sinal claro da vulnerabilidade de sua economia.
Onde os bilhões da mineração não chegam
Apesar da imensa riqueza, uma parte significativa da população de Parauapebas vive em condições de extrema carência. Em 2023, 14,2% dos moradores estavam em situação de extrema pobreza. O déficit de infraestrutura é o retrato mais fiel dessa desigualdade.
Apenas 12,28% da população tem acesso à rede de coleta de esgoto, e pouco mais da metade (51%) recebe água tratada. Isso significa que, na prática, o esgoto de mais de 234 mil pessoas é despejado no meio ambiente sem tratamento. A cidade tem um dos orçamentos mais ricos do país, mas falha em prover o básico.
O motor com data para parar: A Mina de Carajás e o fim anunciado para 2045
Toda a economia da cidade do minério gira em torno do Complexo de Carajás, operado pela Vale. A mina é um gigante global, responsável por cerca de 60% de todo o minério de ferro que o Brasil exporta. No entanto, esse motor tem um prazo de validade.
Relatórios da própria Vale, enviados a órgãos reguladores internacionais, são claros: as reservas de minério de ferro em Parauapebas vão se esgotar até o ano de 2045. Essa data não é uma estimativa pessimista, mas um prazo final que já considera a exploração de novas frentes e até mesmo o reaproveitamento de rejeitos. A contagem regressiva para o fim do ciclo do minério já começou.
O futuro incerto da cidade do minério e o pivô da Vale para Canaã dos Carajás
Para agravar a situação, a Vale já está executando seu plano para o futuro, e ele não está centrado em Parauapebas. A empresa está deslocando seus investimentos e o foco de suas operações para o município vizinho de Canaã dos Carajás, onde se localiza o moderno e gigantesco complexo S11D, cujas reservas de minério são mais que o dobro das que restam em Parauapebas.
Com isso, a cidade do minério vive sob a sombra do que aconteceu com Serra do Navio, no Amapá. A cidade, que também foi um polo de mineração, entrou em colapso econômico e social quando o recurso se esgotou e a empresa responsável foi embora, deixando para trás um legado de desemprego e abandono.
A corrida contra o tempo para um futuro sem minério
A sobrevivência de Parauapebas depende de sua capacidade de usar a riqueza atual para construir uma economia que não dependa da mineração. Existem planos para o desenvolvimento da agricultura e da bioeconomia, e o setor de serviços tem crescido.
No entanto, a realidade é que a mineração ainda responde por 84% do PIB da cidade. Análises do orçamento municipal mostram que a maior parte dos royalties é consumida pela máquina pública, e quase nada é investido de forma estratégica em projetos de diversificação econômica. A cidade do minério sabe de seu prazo de validade, mas a cada ano que passa, a janela de oportunidade para construir um futuro sustentável se fecha um pouco mais.