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A cidade brasileira por onde passa 90% da internet do país e que você provavelmente não imagina

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 08/07/2025 às 14:08
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Fortaleza, no Ceará, concentra 90% do tráfego internacional de dados que entra no Brasil por cabos submarinos, tornando-se um dos maiores hubs digitais do mundo.

Pouco conhecida por sua importância estratégica para a infraestrutura global de dados, Fortaleza, no Ceará, desempenha um papel crucial para a conectividade do Brasil com o restante do mundo.

Localizada no nordeste do país, a capital cearense abriga 16 cabos submarinos de fibra óptica que ligam o território brasileiro a diversos continentes, incluindo América do Norte, Europa, África e Caribe.

A concentração desses cabos ocorre, em sua maioria, na praia do Futuro, um dos principais pontos turísticos da cidade.

Essa estrutura torna Fortaleza responsável por cerca de 90% do tráfego internacional de internet que entra e sai do Brasil, de acordo com o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), entidade ligada ao Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Hub de conectividade em Fortaleza

Apesar da popularização de redes móveis como o 5G e da expressão “nuvem” associada à tecnologia digital, a realidade da internet moderna ainda é ancorada em infraestruturas físicas robustas.

A base da comunicação digital global está nos quase 600 cabos submarinos que atravessam oceanos, transmitindo dados em alta velocidade entre os data centers — centros de armazenamento e processamento de informações — distribuídos pelo planeta.

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A cidade cearense ocupa a 17ª posição no ranking mundial das localidades com mais conexões submarinas e lidera na América Latina, conforme dados da consultoria internacional TeleGeography.

Em primeiro lugar no mundo está Cingapura, com 28 cabos.

A razão para tamanha concentração em Fortaleza é, sobretudo, geográfica.

Segundo especialistas, a cidade está estrategicamente posicionada como um dos pontos do Brasil mais próximos simultaneamente da Europa, dos Estados Unidos e da África.

Além disso, o leito oceânico estável da praia do Futuro, com baixa movimentação de sedimentos e presença reduzida de habitações, favoreceu a instalação dos cabos.

Por que a praia do Futuro é estratégica

O professor Rodrigo Porto, da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que a existência de terrenos disponíveis na região e a menor especulação imobiliária, devido à alta salinidade do ar, também facilitaram a implantação dessa estrutura.

Outro fator decisivo foi o avanço do estado do Ceará como produtor de energia renovável, especialmente solar e eólica, o que atrai investimentos em infraestrutura digital.

Esses cabos funcionam como verdadeiras “rodovias submarinas”, por onde trafegam os dados digitais — desde vídeos em plataformas de streaming até arquivos salvos na nuvem.

Estima-se que cerca de 97% do tráfego global entre continentes ocorre por meio desses cabos, segundo a Agência Europeia para a Segurança das Redes e da Informação (Enisa) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Fortaleza abriga 90% dos dados da internet que entram no Brasil por cabos submarinos, sendo hoje um dos maiores hubs digitais do planeta.
Fortaleza abriga 90% dos dados da internet que entram no Brasil por cabos submarinos, sendo hoje um dos maiores hubs digitais do planeta.

Data centers e segurança digital

A importância estratégica desses equipamentos vai além da simples conectividade.

Eles conectam data centers que operam como os “cérebros” da internet.

Empresas como Google, Meta, Amazon e Netflix armazenam seus conteúdos nessas instalações, que possuem altos níveis de segurança, incluindo controle biométrico, climatização constante e vigilância reforçada.

Atualmente, seis data centers de alta certificação operam em Fortaleza, de acordo com a Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice).

Um dos maiores é operado pela Angola Cables e ocupa 3 mil metros quadrados, a menos de um quilômetro da praia do Futuro.

O acesso é controlado com rigor e todos os ambientes são monitorados em tempo integral.

Além das estruturas já em operação, outros três data centers estão em construção na capital cearense, com investimentos previstos em R$ 2,1 bilhões.

Há ainda um projeto de proporções bilionárias: um novo centro de dados na região do porto do Pecém, próximo a Fortaleza, com aporte estimado em R$ 50 bilhões.

A iniciativa, liderada pela empresa Casa dos Ventos, atraiu o interesse de gigantes da tecnologia como a ByteDance, controladora do TikTok.

Como os dados da internet chegam ao usuário

A chegada dos dados internacionais ao Brasil acontece por meio desses cabos que, após atravessarem milhares de quilômetros no fundo do oceano, são enterrados na faixa de areia até alcançar os prédios dos data centers.

A partir daí, os dados se conectam à malha terrestre de cabos de fibra óptica, seguindo até as redes locais — como o wi-fi doméstico ou as redes 4G e 5G dos celulares.

Esse processo ocorre em frações de segundo, mesmo quando o conteúdo é hospedado fora do país.

Por exemplo, ao clicar em um filme no serviço da Netflix, o sistema identifica o data center mais próximo com aquele arquivo e o envia por fibra óptica até sua residência.

Se o filme não estiver armazenado no Brasil, ele é trazido de outro continente pelos cabos submarinos.

Apesar de parecer etéreo, o conceito de “nuvem” está enraizado em estruturas físicas.

“Tudo tem meio físico, tem equipamento”, explica o professor Rodrigo Porto.

A chamada computação em nuvem é, na prática, uma rede interligada de servidores conectados por cabos que possibilitam o armazenamento e acesso remoto a dados.

Fortaleza abriga 90% dos dados da internet que entram no Brasil por cabos submarinos, sendo hoje um dos maiores hubs digitais do planeta.
Fortaleza abriga 90% dos dados da internet que entram no Brasil por cabos submarinos, sendo hoje um dos maiores hubs digitais do planeta.

Riscos e impactos de falhas nos cabos

A durabilidade média de um cabo submarino é de 25 anos, mas eles estão sujeitos a falhas técnicas ou sabotagens.

Em regiões mais rasas, mergulhadores podem realizar consertos, mas em áreas profundas o reparo exige operações mais complexas, com uso de robôs ou resgate do cabo à superfície.

A importância desses cabos na geopolítica internacional tem crescido.

Desde 2022, ao menos 11 cabos foram danificados no mar Báltico, em incidentes associados a ações militares na guerra entre Rússia e Ucrânia.

No Brasil, uma falha em cabos da praia do Futuro poderia atrasar a atualização de conteúdos em plataformas como a Netflix ou dificultar o acesso a servidores no exterior.

No entanto, segundo o NIC.br, 70% a 80% do tráfego de internet no país já é nacional, o que reduz o impacto em casos como esse.

A maior parte das redes sociais, vídeos e serviços em nuvem continua operando por meio da infraestrutura brasileira, conhecida como IX.br.

Com todos esses fatores, Fortaleza se consolida não apenas como destino turístico, mas também como um dos mais relevantes centros de conectividade da América Latina.

Você imaginava que uma praia do nordeste brasileiro pudesse ser um dos principais pontos de entrada da internet mundial?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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