Em Minas Gerais, um município de pouco mais de 11 mil habitantes se tornou símbolo de uma curiosa herança familiar: uma cidade onde o nome “Andrade” define não só a genealogia, mas também a identidade coletiva.
Nas montanhas do Sul de Minas Gerais, uma cidade brasileira chama atenção por uma característica singular: em Andrelândia, seis em cada dez moradores carregam o sobrenome Andrade. O dado, ainda que envolto em folclore, revela mais do que coincidência é o reflexo de séculos de história familiar, isolamento geográfico e endogamia social que moldaram o perfil da população local.
Hoje, o sobrenome virou símbolo de pertencimento, orgulho e identidade. Em Andrelândia, ser um Andrade é ser parte da história viva da cidade, onde laços de sangue se confundem com as raízes culturais e econômicas que sustentaram o desenvolvimento regional desde o século XVIII.
A origem do nome e o mito dos “Andrade”
Andrelândia nasceu como Arraial do Turvo, em 1755, quando o fazendeiro André da Silveira, de origem açoriana, ergueu uma capela dedicada a Nossa Senhora do Porto.
-
Estas 10 cidades brasileiras provam que dá para ganhar mais e viver melhor com menos
-
Em 2009, um estudante canadense roubou um Cessna, invadiu os Estados Unidos e voou por horas esperando ser abatido por caças F-16
-
O menino superdotado que construiu uma calculadora aos 19 e transformou a dúvida em fé
-
Honda lança Cortador de grama que custa mais que um Civic mas promete tecnologia como sensores LiDAR, radar e operação independente
O povoado cresceu em torno desse núcleo religioso e, no século XIX, tornou-se Vila Bela do Turvo. Só em 1930, a cidade ganhou o nome atual Andrelândia, que significa literalmente “Terra de André”.
Curiosamente, o nome não tem relação direta com o sobrenome Andrade, mas com o primeiro nome de seu fundador. A confusão surgiu mais tarde, quando a família Andrade passou a dominar o cenário local.
A presença marcante do clã foi tamanha que a memória coletiva associou o nome da cidade à linhagem familiar, apagando parcialmente a origem histórica do topônimo.
Como o sobrenome se espalhou pela cidade
O sobrenome Andrade, de origem portuguesa e galega, chegou à região no início do século XIX, quando famílias migrantes se fixaram no Sul de Minas.
A partir daí, alianças matrimoniais, propriedades rurais e o isolamento geográfico transformaram o clã em um verdadeiro império de parentesco.
Com o declínio do ciclo do ouro, a terra virou o principal ativo econômico. Os Andrade se tornaram grandes proprietários rurais, casando-se frequentemente entre si ou com outras famílias influentes como os Silveira e Arantes para preservar riqueza e poder local.
Documentos e registros eclesiásticos indicam casamentos consanguíneos autorizados pela Igreja, uma prática comum entre as elites mineiras do período colonial.
Essa combinação de “efeito fundador” (poucos sobrenomes iniciais) e endogamia social criou o cenário perfeito para o predomínio dos Andrade em Andrelândia.
Com o passar das gerações, casar-se com um Andrade deixou de ser exceção e virou regra resultado direto da limitação do número de famílias locais.
O isolamento que manteve o sobrenome vivo
O relevo montanhoso e o isolamento histórico do Sul de Minas ajudaram a preservar essa configuração. Durante séculos, as estradas precárias e a distância de grandes centros reduziram a entrada de novos moradores e dificultaram a diversificação dos sobrenomes.
Esse isolamento geográfico reforçou o ciclo de casamentos entre parentes e vizinhos, perpetuando o sobrenome Andrade e fortalecendo os laços entre os ramos familiares.
O resultado é uma cidade em que o sobrenome virou parte do DNA cultural, presente nas relações sociais, na política e até na linguagem cotidiana.
Verdade ou lenda: os “6 em 10” Andrades
A famosa estatística de que seis em cada dez moradores de Andrelândia são Andrade não é oficialmente comprovada o IBGE não coleta dados sobre sobrenomes.
Ainda assim, a proporção faz sentido no contexto da cidade: pequena, com cerca de 12 mil habitantes, e fortemente marcada por gerações interligadas.
Em termos absolutos, Andrelândia não tem o maior número de Andrades de Minas Gerais, mas sim a maior concentração relativa.
O dado, portanto, funciona como símbolo cultural, e não como medição exata. A “cidade dos Andrade” é menos uma estatística e mais um retrato social um caso raro de como parentesco e memória moldam a identidade de uma comunidade inteira.
Um sobrenome que virou cultura e modo de vida
Na prática, viver em uma cidade onde quase todos se chamam Andrade traz situações curiosas. Cartórios, escolas e serviços de saúde enfrentam desafios para distinguir homônimos.
A solução local é criativa: apelidos e referências familiares se tornaram parte do vocabulário. Expressões como “Andrade do Zé”, “Andrade do ramo dos Salgado” ou “Andrade da venda” são comuns e funcionam como uma espécie de sistema paralelo de identificação social.
Ao mesmo tempo, o sobrenome é motivo de orgulho e pertencimento. Os moradores veem no nome Andrade um elo com o passado colonial e com a própria fundação da cidade.
Em encontros familiares e festas regionais, o tema da genealogia é frequente há quem mantenha árvores genealógicas que remontam aos primeiros colonos e registros de casamento do século XIX.
Identidade, turismo e o futuro dos Andrade
Hoje, Andrelândia combina tradição e modernidade. Com pouco menos de 12 mil habitantes e um IDH em crescimento (0,700), o município aposta em sua história única como atrativo turístico.
Visitantes curiosos buscam conhecer o “reduto dos Andrade”, percorrendo casarões coloniais, igrejas do século XVIII e arquivos públicos que preservam a memória do clã.
A cidade usa sua singularidade como vantagem competitiva: genealogistas, historiadores e descendentes visitam o local para rastrear raízes familiares.
O sobrenome, antes um traço demográfico, se tornou marca cultural e patrimônio imaterial um símbolo de como o interior brasileiro preserva histórias complexas de colonização, família e identidade.
A cidade brasileira de Andrelândia é um microcosmo do Brasil profundo: um lugar onde o tempo, o parentesco e a história caminham juntos.
O domínio do sobrenome Andrade é fruto de tradições familiares, isolamento e memória coletiva, e não de acaso.
Mais do que curiosidade estatística, o caso revela como um sobrenome pode moldar uma cultura inteira, dando origem a uma identidade local única e orgulhosa.
E você, viveria em uma cidade onde quase todos têm o mesmo sobrenome? Acha que essa ligação familiar reforça a união ou limita a diversidade? Deixe sua opinião nos comentários queremos ouvir sua visão sobre essa curiosa cidade mineira.