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A China está desenvolvendo uma espécie porta-aviões gigantesco e “inafundável” com reatores nucleares, que está sendo visto como uma ameaça clara aos Estados Unidos

Escrito por Lucas Carvalho
Publicado em 01/10/2024 às 16:02
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Foto: Reprodução

Um porta-aviões “inafundável” da China está gerando preocupações nos Estados Unidos, sendo considerado uma ameaça direta à supremacia naval americana

Após mais de uma década de pesquisas, a China está desenvolvendo um projeto ambicioso que tem causado inquietação nas potências mundiais, especialmente nos Estados Unidos: a construção de reatores nucleares flutuantes em ilhas artificiais no disputado Mar da China Meridional.

Embora o projeto possa ter finalidades comerciais, como apoio à exploração de petróleo e fornecimento de energia para áreas remotas, as intenções militares por trás desses reatores estão se tornando cada vez mais evidentes.

Desde 2016, a China não esconde suas pretensões de que as plataformas nucleares, além de sua utilidade civil, também serão de grande vantagem militar.

Em declarações feitas pela Administração Nacional de Segurança Nuclear da China, uma ilha artificial com uma plataforma nuclear seria “equivalente a um porta-aviões movido a energia nuclear“.

Equipado com aeronaves de combate e sistemas de mísseis, esse novo tipo de infraestrutura militar teria, segundo o governo chinês, uma superioridade muito maior que a frota de porta-aviões de longa distância dos Estados Unidos.

Essa afirmação pode parecer exagerada para alguns, mas especialistas em defesa reconhecem a gravidade da situação.

Robert Bunker, Ph.D. da consultoria estratégica C/O Futures, aponta que a capacidade chinesa de manter uma presença militar prolongada com uma fonte contínua de energia é uma vantagem considerável. “Ter uma fonte infinita de energia em uma pequena ilha artificial fornece aos militares chineses uma vantagem significativa“, disse ele. De fato, esses reatores flutuantes como uma espécie de porta-aviões é representam uma nova e clara ameaça para os Estados Unidose outras nações.

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Ilha militar chinesa – uma espécie de porta-aviões infundável – Foto: Google

A disputa no Mar da China Meridional

O Mar da China Meridional é uma região extremamente contestada. A China, com outras nações como Vietnã, Malásia, Filipinas, Taiwan e Indonésia, reivindica partes do território.

No entanto, as ambições chinesas se destacam pela sua escala. Em 2009, a República Popular da China reivindicou cerca de 90% do Mar da China Meridional, uma posição que mantém até os dias de hoje, apesar das críticas e protestos internacionais.

Nos últimos anos, a China intensificou sua militarização da região, construindo ilhas artificiais e instalando bases militares nelas. A partir de 2014, com o uso de dragas gigantes, o país expandiu ilhas já existentes e criou novas estruturas.

Embora, inicialmente, Pequim tenha afirmado que as novas ilhas seriam de uso civil, essa promessa foi rapidamente quebrada, dando lugar a uma crescente infraestrutura militar, incluindo radares, mísseis e pistas de pouso para aeronaves.

As tensões aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Aviões chineses frequentemente voam perigosamente perto de aeronaves militares dos Estados Unidos, Austrália e outros países, provocando incidentes que, segundo Gregory Poling, especialista em Mar da China Meridional do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, fazem parte de uma estratégia deliberada.

O Pentágono estava relatando um número recorde de interceptações de aeronaves inseguras pela China”, afirmou Poling, destacando que o aumento dos incidentes aumenta as chances de uma colisão “acidental“, que poderia levar a uma escalada militar.

No mar, a situação não é menos tensa. A China tem assediado embarcações de pesca das Filipinas com o uso de canhões de água, lasers e manobras perigosas, resultando, em alguns casos, em colisões. Poling alerta que um incidente fatal pode ser a faísca que a China precisa para justificar uma ação militar mais agressiva na região.

Reatores Nucleares Flutuantes

A introdução de reatores nucleares flutuantes no Mar da China Meridional adiciona um novo elemento ao conflito. Esses reatores fornecem energia abundante para bases remotas e são vistos como uma forma de consolidar ainda mais a presença chinesa na região.

Michael Bluck, Ph.D. e chefe do Grupo de Pesquisa Nuclear do Imperial College London, aponta que, embora a China esteja avançando com seus projetos de reatores flutuantes, a Rússia já possui experiência nessa área com o Akademik Lomonosov, um reator flutuante que opera no Ártico desde 2019.

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Akademik Lomonosov, um reator flutuante – Foto: Reprodução

No entanto, os novos reatores chineses, os protótipos ACPR50S e ACP100S, com capacidade de 60 e 125 megawatts, respectivamente, representam um avanço tecnológico significativo. Eles utilizam sistemas de resfriamento passivo, que reduzem o risco de falhas catastróficas e tornam os reatores mais seguros em comparação com os designs anteriores.

Essas usinas são vistas como uma evolução nas capacidades militares da China. Inicialmente, elas foram projetadas para apoiar a exploração de petróleo no Mar da China Meridional, mas seu uso militar não passou despercebido.

Em 2016, o governo chinês anunciou que essas usinas forneceriam energia a uma série de bases militares insulares, que formariam a espinha dorsal de suas operações na região.

O que torna essas bases ainda mais ameaçadoras é que, com energia nuclear, elas se tornam autossuficientes.

Ao contrário de outros tipos de energia, como solar ou eólica, que têm limitações, ou geradores a diesel, que exigem reabastecimento constante, os reatores nucleares garantem que essas bases possam operar indefinidamente. Isso também permite que essas bases alimentem sistemas de alta demanda energética, como armas a laser ou de micro-ondas, que podem se tornar essenciais nas guerras futuras.

Além disso, o uso de reatores nucleares como fonte de energia cria um novo tipo de desafio para possíveis ataques.

Qualquer ataque a uma usina nuclear flutuante envolve o risco de contaminação radioativa, tornando as decisões de ataque mais complicadas e, possivelmente, mais arriscadas para os Estados Unidose outras potências.

Robert Bunker observa que “qualquer ataque a uma usina nuclear significa de fato que o atacante ‘se tornou nuclear’ de uma perspectiva narrativa da mídia“.

Consequências geopolíticas e futuras implicações das ilhas com reatores nucleares

Embora a construção de reatores flutuantes pela China ainda esteja em fase de desenvolvimento, suas implicações geopolíticas já estão sendo sentidas. A criação dessas bases fortalece a posição chinesa na disputa territorial, consolidando o controle sobre o Mar da China Meridional.

Além disso, a introdução de tecnologia nuclear na região aumenta a probabilidade de um conflito armado, seja por causa de um incidente com outra nação ou pelo simples aumento da tensão entre as potências globais.

Outro aspecto importante a ser considerado é o impacto econômico que a tecnologia de reatores flutuantes pode ter. Assim como a China expandiu sua presença global com a construção de ilhas artificiais e sua frota de dragas, os reatores flutuantes podem se tornar uma commodity valiosa no mercado internacional.

Gregory Poling destaca que “a assistência a desastres é um caso de uso óbvio” para esses reatores, que poderiam ser utilizados para fornecer energia temporária em áreas afetadas por desastres naturais.

Embora o uso civil dos reatores flutuantes seja benéfico para a China, o aspecto militar é o que preocupa as potências ocidentais.

À medida que as tensões aumentam no Mar da China Meridional, a construção de bases militares fortificadas com energia nuclear eleva ainda mais a temperatura política na região. A escalada desse conflito parece inevitável, e a comunidade internacional aguarda para ver como os Estados Unidos e seus aliados reagirão ao novo desafio apresentado pela China.

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Lucas Carvalho

Jornalista experiente com ampla atuação na cobertura de temas relacionados a petróleo, gás e energia renovável. Especialista em análises aprofundadas e tendências do setor, com enfoque em inovações tecnológicas e impacto ambiental. Autor de artigos relevantes na área.

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