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A “capital dos raios” no Brasil registra uma das maiores concentrações de descargas elétricas do mundo, atrai cientistas e obriga a cidade a ter um sistema de proteção único no país

Escrito por Carla Teles
Publicado em 08/10/2025 às 23:12
A capital dos raios no Brasil registra uma das maiores concentrações de descargas elétricas do mundo, atrai cientistas e obriga a cidade a ter um sistema de proteção único no país
Descubra qual é a verdadeira capital dos raios no Brasil. Enquanto cidades disputam o recorde de descargas, uma se destaca pela ciência e tecnologia de proteção. Entenda o fenômeno. Imagem: https://www.flickr.com/photos/wtrilhas/
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Enquanto cidades disputam o recorde de descargas, a verdadeira capital dos raios no Brasil se firma como polo científico que estuda e previne o fenômeno em todo o país.

A disputa pelo título de capital dos raios no Brasil revela uma complexidade que vai além dos rankings. Embora cidades como Porto Real (RJ) e Campo Grande (MS) já tenham liderado estatísticas de descargas elétricas, segundo dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do INPE e estudos com a NASA, a verdadeira identidade deste epicentro elétrico está em outro lugar. A resposta não está apenas na contagem de raios, mas na capacidade de entendê-los, prevê-los e proteger a população de seus impactos.

É em São José dos Campos (SP) que essa capacidade se concentra. Sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do ELAT, a cidade se transformou em um laboratório a céu aberto, atraindo cientistas do mundo todo. Essa combinação única de alta incidência de tempestades e excelência em pesquisa não só redefine o conceito de “capital”, mas também impulsiona o desenvolvimento de um sistema de proteção único no país, essencial para mitigar prejuízos que, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), superam R$ 29 milhões em 12 anos e colocam o Brasil como um dos países com mais fatalidades no mundo.

A disputa pelo título: mais de uma capital no radar

A definição de qual município ostenta o título de campeão em descargas elétricas é fluida e depende diretamente da metodologia e do período analisado. O Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do INPE, principal autoridade científica sobre o tema, já apontou diferentes líderes ao longo dos anos. Em um estudo referente ao biênio 2009-2010, por exemplo, o município de Porto Real (RJ) emergiu como o líder nacional, registrando uma impressionante densidade de 27 raios por quilômetro quadrado ao ano, um número atribuído às características de seu relevo.

São José dos Campos: a capital da ciência, não da estatística

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Apesar de nem sempre liderar os rankings de densidade, São José dos Campos, no Vale do Paraíba, detém um título mais robusto e funcional: o de capital científica e intelectual dos raios no Brasil. A cidade é a sede do INPE e, crucialmente, do ELAT, um centro de excelência reconhecido mundialmente. A alta incidência de raios na própria região transforma o município em um laboratório natural perfeito, onde a teoria e a prática se encontram.

Esta simbiose única entre um fenômeno natural severo e uma infraestrutura científica de ponta solidifica sua importância. A questão fundamental não é qual cidade ocupa a primeira posição, mas sim o que está sendo feito para mitigar este risco em um país com 77,8 milhões de raios por ano. São José dos Campos é o epicentro da resposta a essa pergunta, baseando seu status em capacidade e conhecimento, e não apenas em uma contagem temporária de descargas.

Por que tantos raios? A ‘receita’ perfeita para tempestades

A elevada frequência de tempestades severas no Vale do Paraíba é uma consequência direta de sua geografia. A região é um corredor natural, ladeado pela Serra do Mar e pela Serra da Mantiqueira, que canaliza massas de ar. Ao encontrar essas barreiras montanhosas, o ar é forçado a subir abruptamente — um processo conhecido como sustentação orográfica —, o que acelera drasticamente a formação de nuvens de tempestade.

Essa geografia privilegiada se soma a uma “receita” climática perfeita. A combinação de calor intenso, umidade abundante vinda do Oceano Atlântico e o mecanismo de elevação provocado pela chegada de frentes frias cria o ambiente ideal para as nuvens cúmulo-nimbo. Sobreposto a isso, o efeito da ilha de calor gerado pela urbanização de São José dos Campos e outras cidades do eixo Rio-São Paulo atua como um catalisador, intensificando ainda mais as tempestades.

Vigilância 24/7: como o Brasil monitora o céu elétrico

Para cumprir sua missão, o ELAT, sediado em São José dos Campos, opera um dos mais sofisticados sistemas de monitoramento do mundo. O coração deste sistema é a Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas (BrasilDAT), composta por cerca de 70 sensores que mapeiam os raios em tempo real com altíssima precisão. Esses dados de solo são complementados por informações de satélites, oferecendo uma visão completa do fenômeno.

Indo além do monitoramento, o ELAT desenvolveu um serviço pioneiro de previsão de raios com 24 horas de antecedência, usando modelos numéricos que simulam o comportamento da atmosfera. Na fronteira do conhecimento, o grupo utiliza câmeras de ultra-alta velocidade, capazes de capturar dezenas de milhares de quadros por segundo, para filmar o exato momento em que um raio se forma, aprimorando diretamente as tecnologias de proteção usadas em todo o país.

O alto custo das tempestades: vidas e bilhões em jogo

O impacto das descargas atmosféricas no Brasil é devastador. O país registra uma média de 110 óbitos por ano, e as estatísticas são alarmantes: a cada 50 mortes por raio no mundo, uma ocorre em território nacional. Segundo o ELAT, as atividades de agronegócio são o cenário mais perigoso (26% das mortes), mas estar dentro de casa próximo a redes elétricas ou hidráulicas representa um risco surpreendente, com 21% dos casos fatais.

Economicamente, os prejuízos anuais se aproximam de R$ 1 bilhão. O setor de infraestrutura elétrica é um dos mais afetados, com apagões e queima de equipamentos. No entanto, é o setor agropecuário quem arca com a maior parte das perdas, respondendo por R$ 22,5 milhões dos R$ 29,1 milhões em prejuízos projetados pela CNM. A mortalidade de rebanhos é um problema crônico, com um único raio podendo dizimar dezenas de animais.

Engenharia e prevenção: o escudo contra a fúria dos raios

A principal resposta técnica à ameaça dos raios é a implementação de Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA), os para-raios. No Brasil, sua instalação é rigorosamente regulamentada pela norma ABNT NBR 5419, que exige desde uma análise de risco detalhada até a manutenção periódica por engenheiros qualificados, fomentando um mercado de alta especialização.

Reconhecendo sua vulnerabilidade, São José dos Campos desenvolveu um sistema integrado de Defesa Civil que é referência. O Centro de Segurança e Inteligência (CSI) monitora dados em tempo real e, em parceria com o Cemaden, emite alertas via SMS para a população. A tecnologia é aliada ao engajamento comunitário através dos Núcleos de Proteção e Defesa Civil (NUPDEC), que capacitam moradores de áreas de risco para criar um ecossistema de proteção robusto.

Navegando um clima em mudança

A análise aprofundada revela que o título de capital dos raios no Brasil pertence menos à estatística e mais à ciência. São José dos Campos se consolida como o epicentro do conhecimento, onde o risco ambiental severo catalisou a excelência em pesquisa, engenharia e políticas públicas, transformando sua maior vulnerabilidade em uma fortaleza de expertise para todo o país.

O desafio, no entanto, tende a se intensificar. Projeções do INPE indicam que o aquecimento global pode fazer o número de raios no Brasil saltar dos atuais 78 milhões para até 200 milhões anuais até o fim do século. Diante deste cenário, a adaptação será a chave. O modelo de gestão de risco desenvolvido em São José dos Campos oferece um roteiro valioso, demonstrando que é possível construir uma sociedade mais segura sob um céu cada vez mais elétrico.

Você mora em uma área com muitas tempestades? Já teve algum aparelho queimado por um raio ou se sente seguro com a estrutura da sua cidade? Compartilhe sua experiência nos comentários — queremos saber como é conviver com esse fenômeno na prática.

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Carla Teles

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