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A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro — grande parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 08/04/2025 às 08:17
Caatinga
A Caatinga é o único bioma exclusivo do Brasil e possui um patrimônio biológico riquíssimo, com espécies de fauna e flora que não existem em nenhum outro lugar do planeta. – Foto: Reprodução
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Entre os seis biomas do Brasil, a Caatinga se destaca por ser o único totalmente exclusivo do país. Presente principalmente no Nordeste, ela abriga uma biodiversidade singular, com espécies que não existem em nenhum outro lugar do planeta. Apesar disso, o bioma ainda é pouco valorizado e enfrenta sérias ameaças ambientais.

O Brasil é o país mais biodiverso do mundo. Abriga diferentes ecossistemas como a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica. No meio dessa diversidade, está a Caatinga, um bioma exclusivo do território brasileiro.

Ele ocupa mais da metade da Região Nordeste e representa 11% do território nacional. Mesmo com essa grandeza, continua sendo um dos biomas menos conhecidos e menos protegidos do país.

O que é a Caatinga

A Caatinga é um bioma típico do clima semiárido. Seu nome vem do tupi e significa “mata branca”, por conta da aparência esbranquiçada da vegetação durante a seca.

É uma floresta seca, com vegetação adaptada à escassez de água.

Árvores de pequeno porte, arbustos e plantas com mecanismos de sobrevivência ao calor e à seca fazem parte da paisagem.

Esse bioma se espalha por nove ecorregiões diferentes, incluindo áreas de todos os estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais.

Tem uma extensão de mais de 900 mil km². Apesar do clima seco, abriga uma rica biodiversidade, com espécies únicas de plantas e animais.

A vegetação da Caatinga faz parte de um sistema global chamado Florestas e Arbustais Tropicais Sazonalmente Secos, ou FATSS. Dentro desse grupo, a Caatinga se destaca como o maior núcleo no Novo Mundo em diversidade de espécies.

A diversidade da Caatinga

A Caatinga tem plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar. Entre os animais, podemos citar a onça-pintada, a onça-parda, o gato-do-mato e o guigó-da-Caatinga — o único primata exclusivo do bioma.

Já entre as plantas, destacam-se espécies como o umbuzeiro, a baraúna, a jurema-preta, a quixabeira e a imburana.

Essas plantas são adaptadas ao clima seco. Algumas perdem as folhas para evitar a perda de água. Outras armazenam umidade nos tecidos ou têm raízes longas que buscam água no subsolo. A maioria tem ciclos de floração ajustados ao período de chuvas.

Essas adaptações permitem que a vida floresça em um ambiente que, à primeira vista, parece inóspito. Mesmo assim, a Caatinga está em risco.

Caatinga – Um bioma ameaçado

A Caatinga é um dos biomas mais degradados do Brasil. Menos da metade da vegetação original está preservada. Apenas 8% da área total está em unidades de conservação, e menos de 2% está protegida integralmente.

O desmatamento, a exploração excessiva dos recursos naturais e a agricultura insustentável contribuem para essa degradação.

Além disso, as mudanças climáticas estão intensificando o problema, aumentando as temperaturas e tornando os períodos de seca ainda mais severos.

Como resultado, muitas espécies estão desaparecendo. Algumas antes mesmo de serem conhecidas pela ciência. É um processo silencioso, mas com consequências sérias para o equilíbrio ambiental.

Solos e clima

A Caatinga tem uma grande variedade de solos, em geral pedregosos e rasos.

São solos que se formaram ao longo de milhões de anos, por processos de erosão e intemperismo físico. Eles sustentam uma vegetação que, mesmo em condições duras, consegue sobreviver.

O clima é marcado por longos períodos de estiagem e chuvas irregulares. Essa variação exige muito das espécies, que precisam se adaptar ou desaparecer.

É nesse ambiente que a vida desenvolveu estratégias únicas de sobrevivência.

Relações ecológicas

A interação entre plantas e animais na Caatinga é outro ponto importante. A polinização, por exemplo, é feita por uma variedade de agentes: abelhas, beija-flores, morcegos, borboletas e até lagartos.

Essas relações são essenciais para a manutenção do ecossistema. Porém, com a fragmentação do habitat, muitas dessas interações estão se perdendo.

Isso prejudica a reprodução das plantas e a alimentação dos animais, criando um efeito dominó na biodiversidade.

Plantas resistentes

Entre as espécies que chamam atenção pela resistência à seca, destaca-se a Selaginella convoluta, também conhecida como “planta da ressurreição”.

Ela pode secar quase totalmente e, com a chegada da água, voltar à vida.

Essa planta é tema da exposição virtual “Caatinga em foco: biodiversidade, ciência e preservação”, do Museu Câmara Cascudo da UFRN. A mostra ajuda a entender melhor o bioma e a importância da sua conservação.

Espécies em risco

Além da Selaginella, outras plantas importantes da Caatinga estão ameaçadas. A baraúna, a quixabeira, a aroeira-do-sertão e a umburana-de-cheiro são exemplos de espécies que correm risco de extinção.

Elas têm papel fundamental na alimentação de animais locais, como aves, mamíferos e insetos.

A perda dessas espécies pode gerar desequilíbrios sérios no ecossistema. Sem elas, muitos animais perdem sua principal fonte de alimento, o que afeta toda a cadeia alimentar.

Iniciativas de conservação

Apesar dos desafios, existem projetos que buscam recuperar áreas degradadas da Caatinga. Um deles é o Projeto de Restauração da Caatinga, coordenado pelo Laboratório de Ecologia da Restauração (LER), da UFRN.

O projeto é liderado pela professora Gislene Ganade desde 2016.

Ele estuda espécies nativas que podem ser usadas na recuperação do bioma, como o umbuzeiro, a jurema-preta e a imburana. As pesquisas mostram que essas espécies têm alto potencial de sobrevivência e adaptação, mesmo em áreas degradadas.

Adaptação humana

A Caatinga não é apenas o lar de plantas e animais. Milhões de pessoas vivem nesse bioma. Elas desenvolveram formas próprias de lidar com a seca e os desafios do semiárido.

A relação entre o ser humano e a Caatinga é antiga e complexa.

Essa convivência exige respeito e conhecimento. A sobrevivência no semiárido depende do uso consciente dos recursos naturais. Quando esse equilíbrio se rompe, todos perdem.

Perspectivas e desafios

O futuro da Caatinga depende de ações urgentes. É preciso proteger as áreas que ainda estão preservadas e recuperar o que foi destruído.

Também é necessário promover o uso sustentável dos recursos naturais, aliando ciência, educação e políticas públicas.

As mudanças climáticas representam uma ameaça crescente. A previsão é de aumento na perda de espécies, muitas das quais ainda nem foram estudadas. Sem conservação, a Caatinga pode perder sua identidade única.

A conscientização da sociedade é fundamental. Conhecer o bioma é o primeiro passo para defendê-lo. A preservação da Caatinga não é apenas uma questão ambiental, mas também social, econômica e cultural.

Apenas 8% da Caatinga está protegida por lei. E menos de 2% tem proteção integral. Enquanto isso, espécies desaparecem, solos se esgotam e a vida local se torna cada vez mais difícil. A urgência é real. Proteger a Caatinga é proteger uma parte essencial do Brasil.

Com informações de cienciaecultura.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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