Conheça a história da Paubrasilia echinata, a primeira riqueza do país, cuja exploração por mais de 300 anos devastou a Mata Atlântica e alterou para sempre a vida dos povos indígenas.
De acordo com registros históricos e botânicos, a primeira grande riqueza explorada pelos europeus na América do Sul foi uma árvore de cujo tronco se extraía um valioso corante. Essa árvore vermelha, chamada de Pau-Brasil, não apenas deu nome à nova nação, como também foi o motor do primeiro ciclo econômico do país, desencadeando uma exploração predatória que quase a levou à extinção.
A saga do Pau-Brasil é a própria história do nascimento do Brasil. Ela reflete a imensa riqueza natural encontrada, a cobiça que despertou na Europa, o profundo impacto sobre os povos originários e a devastação ambiental que marcou os primeiros séculos da relação entre o homem e a terra recém-descoberta.
Ibirapitanga, a árvore vermelha antes da chegada dos portugueses
Antes de ser batizada de Pau-Brasil, a Paubrasilia echinata já era conhecida e utilizada pelos povos Tupi que habitavam a costa. Eles a chamavam de Ibirapitanga, que em sua língua significa “pau ou árvore vermelha”, uma referência direta à cor intensa de seu cerne.
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Endêmica da Mata Atlântica, essa árvore imponente podia atingir até 30 metros de altura e viver por mais de 300 anos. Sua casca acinzentada, coberta de espinhos, escondia a madeira avermelhada que, em contato com o ar, revelava o pigmento que se tornaria tão valioso. Sua distribuição original se estendia por quase 3.000 quilômetros da costa brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro.
A primeira economia da colônia
A exploração do Pau-Brasil foi a atividade econômica dominante nas primeiras décadas da presença portuguesa. A coroa portuguesa rapidamente estabeleceu um monopólio real, conhecido como “estanco”, sobre a extração da madeira. O primeiro contrato de exploração foi concedido por volta de 1501 ao comerciante Fernão de Loronha.
A logística era baseada em feitorias, postos comerciais fortificados na costa onde as toras eram armazenadas. A partir de 1513, o sistema mudou para um modelo de licenciamento, onde qualquer comerciante português podia explorar a madeira, desde que pagasse um imposto de 20% (“o quinto”) à Coroa. Essa mudança, embora lucrativa para Portugal, acelerou a devastação, pois multiplicou o número de exploradores competindo pela árvore vermelha. Por volta de 1530, o Pau-Brasil representava cerca de 90% de tudo que era exportado da colônia.
A devastação ambiental e social
A busca incessante pela árvore vermelha deixou cicatrizes profundas. A relação inicial com os povos indígenas era baseada no escambo: os nativos cortavam e transportavam as toras em troca de objetos manufaturados, como machados de metal, facas e espelhos. No entanto, com o aumento da demanda, o escambo rapidamente deu lugar ao trabalho forçado e à escravidão.
O impacto mais catastrófico, porém, foi biológico. O contato com os europeus introduziu doenças como varíola e sarampo, para as quais os indígenas não tinham imunidade, causando um colapso demográfico. Ao mesmo tempo, a exploração predatória por mais de três séculos levou à quase extinção do Pau-Brasil e foi o ponto de partida para a destruição da Mata Atlântica, que hoje tem apenas cerca de 12% de sua cobertura original.
A quase extinção e o status atual de conservação
No século XIX, encontrar um Pau-Brasil selvagem já era uma raridade. Apenas em 7 de dezembro de 1978, através da Lei nº 6.607, a árvore vermelha foi oficialmente declarada a Árvore Nacional do Brasil. Em 1992, o IBAMA a incluiu na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, onde permanece até hoje.
Atualmente, a principal ameaça é a extração ilegal de sua madeira, que é altamente cobiçada no mercado internacional para a fabricação de arcos de alta qualidade para instrumentos de corda, como violinos e violoncelos. Esforços de conservação, como a criação do Parque Nacional do Pau-Brasil em Porto Seguro (BA) em 1999, e projetos de reflorestamento tentam garantir a sobrevivência da espécie.
Por que o Pau-Brasil era tão valioso?
O valor da árvore vermelha residia em seu corante. A madeira contém um composto chamado brasilina, que, ao oxidar em contato com o ar e a água, se transforma em brasileína, um pigmento vermelho vibrante. Na Europa do Renascimento, esse corante era um artigo de luxo, usado para tingir os tecidos caros da nobreza e do clero, como seda e veludo.
A cor vermelha era um símbolo de poder e riqueza, o que tornava a matéria-prima extremamente valiosa. O nome “Brasil”, aliás, deriva da palavra “brasa”, uma alusão à cor intensa da madeira. Assim, a identidade do país foi, desde o início, definida pelo seu primeiro e mais cobiçado produto de exportação.