Dados de agosto revelam queda abrupta na produção industrial e no varejo, enfraquecendo a posição da China nas cruciais negociações de tarifas com os EUA.
A economia da China sofreu uma desaceleração significativa em agosto, com indicadores cruciais de produção e consumo falhando em atingir as metas, conforme dados oficiais divulgados nesta segunda-feira. O Escritório Nacional de Estatísticas (NBS) reportou o crescimento mais lento das vendas no varejo desde novembro e a menor expansão da produção industrial em um ano, pintando um quadro preocupante para a segunda maior economia do mundo.
Este declínio repentino ocorre no pior momento possível para Pequim, minando o que era considerado sua principal alavancagem: a robustez econômica. Conforme analisado pela Newsweek, a perda de força interna da China complica severamente sua posição nas negociações críticas sobre tarifas e comércio com os Estados Unidos, que buscam concessões em múltiplas frentes.
Os números da desaceleração: varejo e indústria em queda
Os dados do NBS detalham a extensão da fraqueza econômica. As vendas no varejo, um pilar do consumo interno, aumentaram apenas 3,4% em agosto em relação ao ano anterior. Este número não apenas ficou abaixo da previsão de 3,9% dos economistas consultados pela Reuters, mas também marcou o ritmo de crescimento mais lento desde novembro do ano passado.
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O setor industrial não se saiu melhor. O crescimento da produção industrial desacelerou para 5,2% na comparação anual, uma queda notável dos 5,7% registrados em julho. Além disso, a Newsweek destaca que agosto marcou a continuação das dificuldades deflacionárias de Pequim, com o índice de preços ao consumidor (IPC) caindo 0,4% e os preços ao produtor industrial despencando 2,9% em relação ao ano anterior.
Por que o ‘timing’ ameaça a estratégia da China
A principal preocupação, conforme relatado pela Newsweek, é o timing desses dados. A China utilizava sua aparente resiliência econômica como uma importante fonte de alavancagem na atual disputa comercial com os EUA. A narrativa de Pequim era de que o país poderia prosperar mesmo sem os clientes americanos, pressionando Washington por um relaxamento nas restrições às suas exportações.
Com a produção industrial e o consumo vivenciando seu pior mês de 2025, essa narrativa desmorona. A desaceleração é amplamente atribuída a uma fraqueza notável nos gastos do consumidor, um problema que já afeta o combalido mercado imobiliário chinês. Embora Pequim tenha prometido “impulsionar vigorosamente o consumo” aumentando a renda dos cidadãos, a realidade dos números de agosto coloca o governo sob intensa pressão.
Negociações EUA-China: tarifas, TikTok e pressão russa
Embora a economia chinesa tenha crescido 5,3% no primeiro semestre de 2025, alinhada com a meta oficial de 5%, as exportações já mostram sinais de fadiga. O resultado das negociações em andamento com os EUA determinará se a China conseguirá manter esse ritmo. Autoridades dos dois países acabaram de concluir uma reunião de dois dias em Madri, na Espanha.
A delegação dos EUA, liderada pelo Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e pelo Representante Comercial, Jamieson Greer, colocou várias questões controversas na mesa. Além das tarifas, a Newsweek aponta que as principais áreas de discórdia incluem a oposição dos EUA à compra de petróleo da Federação Russa pela China (uma questão que levou a Índia a ter suas tarifas dobradas em agosto) e o futuro do aplicativo de vídeos TikTok.
O que esperar: um acordo “ad hoc” e o futuro do TikTok
Apesar do clima tenso, o Secretário Bessent disse a repórteres que um “acordo-quadro” foi fechado para transferir o TikTok para uma empresa controlada pelos EUA. Embora detalhes não tenham sido fornecidos, ele afirmou que o presidente Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, “conversariam na sexta-feira para concluir o acordo”. O presidente Trump descreveu o segundo dia de reuniões em Madri como “muito bom”.
No entanto, analistas preveem resultados limitados na frente comercial mais ampla. Wendy Cutler, vice-presidente do Asia Society Policy Institute, comentou após as negociações que “há pouco tempo para firmar um acordo comercial significativo“. Ela prevê “uma série de resultados ad hoc”, como um possível compromisso chinês de comprar mais soja dos EUA em troca de adiamentos em certos controles de exportação de alta tecnologia.
Atualmente, uma trégua tarifária estendida em agosto limita as taxas sobre importações chinesas em 30% e sobre produtos americanos em 10%, válida até o início de novembro. O representante Greer indicou na segunda-feira que os EUA estariam abertos a estender esse prazo “se as negociações continuarem em uma direção positiva”, uma janela que a China pode precisar usar desesperadamente, dada sua atual fraqueza econômica.