Alguns modelos populares usados chamam atenção pelo preço baixo e visual atraente, mas escondem defeitos crônicos e manutenção cara, segundo relatos de donos e análises de mecânicos especializados.
Carros usados que parecem “muita coisa por pouco dinheiro” podem esconder defeitos crônicos e custos altos de manutenção, alertam mecânicos e consumidores que relatam experiências no Reclame Aqui.
Em modelos populares na faixa de preço acessível, o barato frequentemente se explica pelo histórico de falhas e pela dificuldade de reparo.
A seguir, quatro exemplos que exigem atenção redobrada de quem está de olho em um seminovo.
-
Novo Peugeot 208 2026 estreia com câmbio automático CVT, versão híbrida, motor turbo, consumo urbano de até 13 km/l e mais barato que Chevrolet Onix, Volkswagen Polo e Honda City
-
SUV raro no mercado de usados, Hyundai Creta Sport 2.0 traz motor de 166 cv do ix35, câmbio automático de 6 marchas, consumo urbano de até 10 km/l e pode ser encontrado por menos de R$ 90 mil
-
Carro mais vendido no Brasil terá novo visual, motor híbrido e interior digital; veja como ficará a nova Fiat Strada
-
Nissan enfrenta crise e aposta no novo Kicks e SUV Kait para retomar vendas
Jeep Renegade 1.8 Flex AT Longitude 2018 — R$ 73.441
O Renegade com motor E.torQ 1.8 flex (139 cv e 19,3 kgfm) e câmbio automático de seis marchas domina as vitrines de usados e, ao mesmo tempo, soma relatos de dor de cabeça.
O ponto mais citado por mecânicos é o trocador de calor, componente que deveria resfriar o fluido da transmissão e termina por misturar o óleo do câmbio com o líquido de arrefecimento.
Quando isso acontece, o óleo adquire aspecto leitoso, perde propriedades e inicia uma sequência de sintomas.
Nas oficinas, aparecem queixas de trancos, dificuldade de engate, superaquecimento e perda de eficiência do câmbio.
Em casos avançados, a contaminação gera danos internos onerosos.
A correção costuma envolver a substituição do trocador por uma peça revisada ou a adoção de radiador externo para isolar o circuito do óleo.
Embora o restante do conjunto tenha robustez aceitável no uso urbano, esse calcanhar de Aquiles pesa no custo total, sobretudo quando o proprietário descobre o problema apenas após a compra.
Caoa Chery Tiggo 2 1.5 Flex Look AT 2020 — R$ 66.023
No papel, o Tiggo 2 entrega o que muita gente procura em um SUV compacto barato: posição de dirigir elevada, espaço razoável e conjunto simples de motor 1.5 flex (115 cv e 14,9 kgfm) com câmbio automático de quatro marchas.
Na prática, os primeiros anos do modelo acumulam falhas elétricas e mecânicas que derrubam a experiência de uso.
Entre as reclamações mais recorrentes estão problemas de chicote, infiltrações que afetam módulos e conectores, ferrugem prematura e desgaste de componentes antes do esperado.
Proprietários também relatam desligamentos repentinos do motor, falhas de troca no câmbio e dificuldade de localizar peças específicas em algumas praças.
Enquanto a marca evoluiu nos projetos mais recentes, com eletrônica melhor depurada e rede de pós-venda ampliada, as unidades do Tiggo 2 exigem vistoria minuciosa e laudo eletrônico antes de fechar negócio.
Volkswagen Golf 1.4 TSI Highline AT 2014 — R$ 76.780
Condução afiada, acabamento caprichado e motor turbo de 140 cv e 25,5 kgfm fazem o Golf 1.4 TSI parecer um achado entre os hatchbacks médios usados.
O conjunto, porém, perde pontos com o câmbio DSG de sete marchas e embreagem dupla a seco, presente nas primeiras unidades dessa geração.
Em condições típicas de ruas brasileiras — buracos, calor e trânsito intenso — o sistema apresenta superaquecimento, trancos e desgaste precoce das embreagens.
A dificuldade adicional reside no custo de reparo quando o problema evolui para substituição de embreagens ou da mecatrônica.
Em 2016, a Volkswagen migrou esse modelo para um automático convencional de seis marchas, mais adequado ao uso local.
Para quem considera um Golf anterior a essa mudança, é prudente checar o histórico de manutenção, eventuais intervenções no câmbio e realizar teste prolongado para identificar sintomas após aquecimento.
Ford Focus 2.0 Titanium AT 2018 — R$ 70.975
Bem equipado, bonito e com desempenho convincente do 2.0 flex de 178 cv e 21,5 kgfm, o Focus 2.0 Titanium atrai pelo pacote.
O obstáculo é conhecido: o câmbio PowerShift, um automatizado de dupla embreagem a seco compartilhado com outros modelos da Ford no período.
Proprietários e oficinas relatam superaquecimento, perda de potência, trancos e desgaste precoce de embreagens, quadro que também pode ser agravado por fragilidades no sistema de arrefecimento.
Mesmo após atualizações e campanhas de fábrica, o PowerShift permaneceu como ponto sensível no custo de propriedade.
Em compras de usados, é indispensável verificar se houve trocas de embreagem, reprogramações e, principalmente, como o carro se comporta no anda e para do trânsito.
Um diagnóstico preventivo por especialista em transmissões automatizadas ajuda a separar unidades saudáveis daquelas propensas a reincidir.
Como esses negócios seduzem no mercado de usados
Valores aparentemente baixos na Tabela Fipe e a boa imagem de equipamentos seduzem compradores que buscam “carro completo” sem extrapolar o orçamento.
Entretanto, preço atrativo não elimina o risco de falhas endêmicas.
Em muitos casos, consumidores só descobrem o problema depois do test-drive básico, quando o veículo enfrenta calor, engarrafamento e piso irregular — situações que expõem limitações de câmbio e arrefecimento.
Outro ponto é a disponibilidade de peças e a experiência das oficinas com certos sistemas.
Transmissões de dupla embreagem, trocadores de calor integrados e eletrônica sensível exigem reparadores especializados e scanners atualizados.
Quando a rede técnica conhece pouco o defeito específico do modelo, o conserto tende a se alongar e encarecer, ampliando a frustração de quem esperava um custo de uso semelhante ao de rivais mais simples.
O que observar antes da compra
Vistoria criteriosa reduz o risco, mas não substitui a avaliação de transmissão e arrefecimento sob carga.
Em Renegade 1.8, inspeção do fluido de câmbio e do reservatório pode revelar contaminação. No Golf com DSG a seco, testes após aquecimento ajudam a flagrar trancos e mensagens de erro.
No Focus com PowerShift, saídas em baixa velocidade e manobras repetidas expõem patinação.
No Tiggo 2, análise de chicotes, sinais de infiltração e pontos de corrosão é indispensável. Documentos de manutenção são igualmente relevantes.
Registros de substituição de embreagens, trocadores de calor, mecatrônica ou radiadores externos indicam que o proprietário anterior tratou problemas típicos.
Já a ausência de histórico confiável pode ser um sinal de alerta, especialmente em carros com quilometragem compatível com o surgimento desses sintomas.