Tarifa de 50% imposta por Donald Trump já afeta o agronegócio brasileiro. Produtores de café, mel e uva enfrentam cancelamentos e perdas.
O agronegócio brasileiro enfrenta um dos momentos mais delicados dos últimos anos. Há exatamente um mês, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs um imposto de 50% sobre a exportação de produtos brasileiros, medida que já provoca perdas milionárias para produtores do país.
O tarifaço, em vigor desde 6 de agosto, tem afetado diretamente agricultores de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, que relatam queda nas vendas, cancelamento de contratos e incerteza quanto ao futuro de seus negócios.
Produtores perdem clientes conquistados em anos de trabalho
A empresária Daniele Alkmin, diretora da exportadora de cafés especiais Agrorigem, de Santa Rita do Sapucaí (MG), foi uma das primeiras a sentir os impactos.
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No dia 9 de julho, quando Trump anunciou a tarifa de 50%, ela já tinha dois navios programados para enviar mais de 34 toneladas de café aos Estados Unidos.
O contrato, que representava 30% de seu faturamento anual, foi cancelado após diversas renegociações. “Foi um dia desesperador”, relembra.
O cliente norte-americano chegou a sugerir que ambos dividissem o custo da tarifa, mas a margem de lucro da empresa não permitia. “Não é justo. O imposto de importação é do importador, não do exportador”, desabafa.
Além da perda financeira, Daniele conta que o golpe foi emocional. Foram dez anos de viagens, feiras e consultorias para abrir mercado nos EUA. Agora, seus clientes têm buscado fornecedores no Vietnã e na Colômbia.
Mel brasileiro também sofre com tarifas
A situação não é diferente no interior da Bahia. O apicultor Joaquim Rodrigues, de Cipó, viu o preço pago pelo seu mel cair 18% após o tarifaço. O quilo, que antes era vendido por cerca de R$ 17, agora rende apenas R$ 14.
Com uma produção anual de 20 mil quilos, ele depende quase exclusivamente das exportações. “Antes, 80% do mel ia para os Estados Unidos. Agora, não sabemos como será”, afirma.
O governo federal anunciou que pretende comprar parte da produção afetada por meio de programas como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos). Mesmo assim, Joaquim teme que o socorro não seja suficiente.
Incertezas no Vale do São Francisco
No sertão de Pernambuco, o produtor de uvas Jailson Lira, do Vale do São Francisco, também se vê em situação de risco.
Cerca de 40% do seu faturamento depende dos Estados Unidos, mas ele ainda não sabe qual será o impacto das tarifas, já que o preço final da fruta é definido apenas quando chega ao mercado americano.
O sistema de consignado, em que as uvas são enviadas para uma distribuidora que revende e repassa o valor ao produtor, torna o negócio ainda mais incerto. “O negócio é feito sempre no escuro. E agora fica mais ainda”, afirma Jailson.
Ele busca alternativas em outros países e até mesmo no mercado interno. No entanto, ressalta que a migração em massa de produtores para os mesmos destinos pode gerar excesso de oferta. “Os Estados Unidos pagam bem. São excelentes clientes. Estamos perdendo uma grande oportunidade”, lamenta.
Exportadores buscam novos mercados
Apesar das dificuldades, parte do agronegócio tenta reagir. Daniele Alkmin já enviou amostras de café para Dubai e Noruega, enquanto mantém clientes em Hong Kong, Japão e Irlanda.
No entanto, ela precisa fechar negócios até outubro para que o café seja comercializado como “especial”. Depois desse prazo, a qualidade do grão pode se deteriorar e perder valor.
Enquanto isso, produtores como Joaquim e Jailson esperam medidas mais efetivas do governo brasileiro para reduzir os efeitos das tarifas.
A incerteza permanece, e muitos temem que o embargo tarifário de Donald Trump provoque perdas duradouras.
O peso das tarifas no agronegócio brasileiro
O tarifaço americano expôs a dependência de parte do agronegócio brasileiro do mercado externo, especialmente dos EUA.
Para especialistas, a medida mostra a importância da diversificação das exportações e da criação de políticas de apoio que garantam competitividade em momentos de crise.
Por enquanto, o sentimento no campo é de apreensão. Produtores que levaram anos para conquistar espaço no mercado americano agora veem clientes se afastarem por causa do aumento dos custos. E, mesmo que surjam novos destinos, a relação construída ao longo de décadas dificilmente será substituída da noite para o dia.