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White Martins se posiciona a frente no mercado de hidrogênio verde, “combustível do futuro”, e já prepara segunda fábrica, mas mercado segue travado sem regulamentação do governo

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 02/08/2025 às 09:35
Primeiro hidrogênio verde (H2V) produzido na América do Sul é brasileiro e está localizado em Pernambuco
Foto: White Martins/Divulgação
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White Martins lidera a produção de hidrogênio verde no Brasil com sua primeira fábrica certificada e planeja expandir a capacidade com nova unidade em São Paulo. Apesar do avanço tecnológico, o mercado de energia limpa no Brasil enfrenta desafios pela falta de regulamentação do H2V, que dificulta o crescimento do setor.

A White Martins está na vanguarda da produção de hidrogênio verde no Brasil. Desde 2022, a empresa opera a primeira planta da América do Sul certificada para produzir H2V, instalada em Igarassu (PE). Agora, em 2025, se prepara para inaugurar sua segunda fábrica em Jacareí (SP), elevando em cinco vezes a capacidade de produção atual. Mesmo com esse avanço, o crescimento do mercado nacional segue travado devido à falta de regulamentação federal específica para o hidrogênio verde.

O cenário é emblemático: enquanto a multinacional Linde, controladora da White Martins, investe pesado no “combustível do futuro” no Brasil, o país ainda não oferece um marco legal para contratos, incentivos e certificações. O potencial para transformar o Brasil em líder mundial no fornecimento de energia limpa existe — mas depende de ações governamentais imediatas.

Primeira planta de H2V certificada de “combustível do futuro” da América do Sul

A unidade da White Martins em Pernambuco é, até hoje, a única planta certificada de hidrogênio verde em operação industrial no Brasil.

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A capacidade de produção é de 156 toneladas por ano, utilizando energia solar em um processo de eletrólise da água. O sistema é certificado pela TÜV Rheinland, segundo a norma H2.21, atestando que o combustível é produzido sem emissões de carbono.

Com essa planta, a empresa inaugurou um novo capítulo para a energia limpa no Brasil. Além de atender parte da sua demanda interna, o projeto permitiu à White Martins testar o mercado nacional, entender as limitações logísticas e iniciar conversas com potenciais clientes industriais que desejam descarbonizar suas operações.

Nova fábrica de hidrogênio da White Martins em São Paulo

A fábrica de hidrogênio da White Martins em Jacareí, no interior paulista, será equipada com um eletrolisador alcalino pressurizado de 5 MW. A planta terá capacidade de produzir cerca de 800 toneladas de hidrogênio verde por ano — mais de cinco vezes o volume da unidade de Pernambuco.

Segundo Gilney Bastos, CEO da White Martins na América do Sul, cerca de 20% da produção já está comprometida com a Cebrace, empresa do setor de vidros, que receberá o H2V por meio de gasoduto local. Os outros 80% serão direcionados para clientes dos setores químico, alimentício e automotivo nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A expectativa da empresa é que, com a escala e a proximidade dos centros industriais, o preço do hidrogênio verde seja competitivo, podendo apresentar um prêmio de apenas 10% a 15% em relação ao hidrogênio cinza — o que pode ser compensado pelos ganhos ambientais e pela pressão de mercados internacionais por cadeias produtivas descarbonizadas.

Hidrogênio verde no Brasil: potencial alto, mas regulamentação do “combustível do futuro” segue atrasada

O Brasil possui um dos maiores potenciais do mundo para a produção de hidrogênio verde, graças à sua matriz energética renovável — mais de 90% da geração elétrica nacional provém de fontes como hidrelétricas, eólicas e solares. Além disso, o país conta com abundância hídrica, infraestrutura portuária estratégica e demanda crescente por energia limpa na indústria pesada e na exportação.

Apesar dessas vantagens, o hidrogênio verde no Brasil ainda é um mercado embrionário. A ausência de regulamentação do H2V compromete a viabilidade econômica de novos projetos. Sem regras claras, contratos de longo prazo se tornam arriscados, o acesso ao financiamento é limitado e os investidores internacionais permanecem cautelosos.

O marco legal do hidrogênio verde tramita lentamente no Congresso Nacional, mesmo com pressão de associações industriais, estados produtores e empresas multinacionais. A previsão é que ele avance até a COP30, prevista para novembro de 2025, em Belém (PA), onde o governo brasileiro pretende apresentar compromissos mais robustos em relação à transição energética.

Energia limpa no Brasil: desafios e oportunidades

A produção de hidrogênio verde representa uma oportunidade única de transformar o Brasil em uma potência exportadora de energia limpa no Brasil. Com o avanço de tecnologias de eletrólise e o barateamento das fontes renováveis, o H2V pode se tornar o pilar da descarbonização global nos setores de siderurgia, fertilizantes, transporte marítimo e geração de energia.

A White Martins já iniciou conversas com os governos do Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul para futuras plantas, sendo que o projeto no Porto do Pecém pode ser até 20 vezes maior que o de Pernambuco. A ambição é criar hubs de hidrogênio nos portos brasileiros, com capacidade de exportação para Europa e Ásia, regiões que já estabelecem metas rigorosas de neutralidade de carbono.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV), o Brasil tem 60 projetos mapeados, com investimentos previstos de R$ 188 bilhões até 2050. A estimativa é de impacto de até R$ 7 trilhões no PIB ao longo de 25 anos, caso o setor se desenvolva com apoio regulatório e políticas públicas consistentes.

O papel da regulamentação do H2V no destravamento do setor

Sem a regulamentação do H2V, o setor continuará dependente de iniciativas isoladas, como a da White Martins, que opera com contratos específicos e produção limitada. O marco regulatório precisa definir parâmetros técnicos, critérios de certificação, incentivos fiscais, normas de transporte e mecanismos de rastreabilidade do carbono evitado.

Além disso, é fundamental viabilizar parcerias público-privadas, leilões de energia para eletrólise e linhas de financiamento com bancos públicos. A coordenação entre os ministérios de Minas e Energia, Meio Ambiente, Indústria e Fazenda será determinante para que o Brasil não perca a janela de oportunidade global.

Empresas como a White Martins já fizeram sua parte, investindo, testando soluções, certificando produtos e dialogando com governos locais. Cabe agora ao poder público garantir segurança jurídica e previsibilidade para transformar o hidrogênio verde em vetor estratégico da economia brasileira.

O futuro do hidrogênio verde no Brasil passa por decisões urgentes

O avanço da White Martins e hidrogênio verde revela que o Brasil tem expertise, recursos e mercado para liderar a transição energética. Com duas fábricas em funcionamento até 2025, a empresa se consolida como referência no setor e mostra que é possível viabilizar projetos industriais sustentáveis em solo nacional.

No entanto, o futuro do hidrogênio verde no Brasil depende de um passo decisivo: a aprovação de uma regulamentação clara e eficaz. Sem isso, o país continuará desperdiçando uma vantagem competitiva natural em um mercado que movimentará trilhões de dólares nos próximos anos.

A janela está aberta, mas não indefinidamente. O momento de agir é agora — para garantir que o hidrogênio verde se torne não apenas uma promessa, mas uma realidade de escala, impacto e transformação econômica no Brasil.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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