Com poltronas confortáveis, restaurante e belas vistas, o trem da EFVM oferece uma experiência rara e acessível no transporte de passageiros.
Em um país onde os trilhos foram quase esquecidos no transporte de passageiros, a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) resiste como um símbolo vivo da história ferroviária nacional, oferecendo uma autêntica viagem de trem que atravessa paisagens e memórias do Brasil.
Operada pela Vale, essa linha conecta Belo Horizonte (MG) à região metropolitana de Vitória (ES) em um percurso de 664 quilômetros. É a maior viagem de trem diária do Brasil, percorrida por mais de dois milhões de passageiros todos os anos.
O trem parte todos os dias às 7h da manhã de cada ponta da linha — da Estação Central de Belo Horizonte e da Estação Pedro Nolasco, em Cariacica, região metropolitana de Vitória.
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A viagem completa leva cerca de 13 a 14 horas, passando por mais de 40 municípios mineiros e capixabas, atravessando vales, serras, rios e florestas de Mata Atlântica.
Para quem busca uma experiência lenta e contemplativa, essa viagem de trem oferece uma rara oportunidade de cruzar o interior do Brasil de forma segura, confortável e acessível.
Como funciona o embarque e a compra de passagens
O Canal Melhores Destinos mostrou como funciona a viagem. A compra das passagens é feita diretamente pelo site da Vale.
O bilhete custa em torno de R$ 73 na classe econômica e R$ 105 na executiva.
No momento da compra, é preciso atenção: é necessário escolher o vagão e o assento, e em trechos longos pode ser necessário trocar de lugar em Governador Valadares caso outro passageiro tenha reservado parte do percurso.
O embarque fecha 15 minutos antes da partida, e é obrigatório apresentar um documento com foto.
Cada passageiro pode levar uma mala e uma bagagem de mão, sendo responsável por seus pertences durante o trajeto. Por isso, recomenda-se manter objetos de valor sempre por perto, principalmente para quem viaja sozinho.
Estrutura e conforto a bordo
A EFVM oferece dois tipos de classe. A econômica tem assentos fixos, com bom espaço para as pernas, mesinha retrátil e tomadas 220V.
Já a executiva é mais espaçosa, com poltronas largas no formato 2-1, apoio para os pés, tomada individual, mesa maior e reclinação elétrica.
Nessa classe, o conforto é perceptível e a experiência da viagem de trem fica menos cansativa, principalmente para quem faz o trajeto completo.
Ambas as classes contam com ar-condicionado, cortinas, telas de entretenimento (com áudio via fones na executiva e legendas na econômica) e acesso a um sistema de streaming via wi-fi, que pode apresentar instabilidade.
Cada vagão possui dois toaletes, com pia, espelho e até apoio para troca de fraldas. Há ainda um vagão adaptado para cadeirantes.
Alimentação durante o trajeto
Durante o percurso, um carrinho circula pelos corredores oferecendo salgadinhos, bebidas e café com pão de queijo assado a bordo. Também existe um vagão-restaurante, que serve refeições completas, como marmitas de frango com arroz, feijão, farofa e salada.
O pagamento pode ser feito em cartão, PIX (quando há sinal de celular) ou dinheiro em espécie, recomendado para evitar imprevistos. É proibido embarcar com alimentos perecíveis, mas é permitido levar lanches industrializados.
Como a viagem de trem é longa, com poucas paradas e embarques breves de dois minutos (exceto cerca de oito minutos em Governador Valadares), é importante planejar as refeições com antecedência.
Os funcionários passam logo no início oferecendo os pedidos do almoço e jantar para entrega posterior.
Pontualidade e dinâmica da viagem
Embora o serviço seja bem organizado, atrasos podem ocorrer. No relato do Melhores Destinos, o trem chegou a Governador Valadares com cerca de 50 minutos de atraso.
A capacidade dos trens varia conforme a demanda: em temporadas de férias e feriados, a Vale adiciona vagões extras para atender o aumento de passageiros.
No total, a viagem costuma durar quase 14 horas — mais longa que o trajeto de ônibus ou carro, que leva cerca de 10 horas — mas com a vantagem de ser mais segura, previsível e sem os congestionamentos comuns das estradas.
Uma janela para o Brasil profundo
A grande atração dessa viagem de trem é o próprio caminho. Entre os vales do Rio Doce, as montanhas da Serra do Espinhaço e os trechos de Mata Atlântica, o trem revela paisagens raramente vistas por quem viaja de avião ou ônibus.
A velocidade mais baixa e o ritmo constante permitem observar rios, pontes, pequenas fazendas, cidades históricas e estações centenárias ao longo do percurso.
Mesmo com os vidros das janelas às vezes empoeirados, como relatado no vídeo, o visual compensa: são dezenas de túneis e viadutos cortando o relevo acidentado, um testemunho vivo da engenharia ferroviária brasileira do início do século XX.
Um símbolo da resistência ferroviária
As viagens longas de passageiros são raríssimas no Brasil atual, resultado de décadas de abandono do setor.
Até os anos 1920, os trens dominavam o transporte de pessoas e cargas, impulsionados principalmente pela economia cafeeira.
A crise de 1929 e a queda no preço do café iniciaram o declínio das ferrovias privadas, agravado pela estatização posterior e pela priorização das rodovias e da indústria automobilística a partir dos anos 1950.
Enquanto estradas se multiplicavam, a malha ferroviária encolhia e as viagens de trem desapareciam quase por completo.
Hoje, restam apenas algumas poucas linhas de longa distância ativas no país, e a EFVM se destaca como uma das últimas sobreviventes — um elo raro entre passado e presente.
Viagem de trem como alternativa segura e acessível
Além do charme histórico e da beleza cênica, essa rota ferroviária é também uma alternativa viável de transporte.
Os preços das passagens são significativamente mais baixos que os de ônibus ou avião, o embarque é organizado e seguro, e os acidentes são praticamente inexistentes.
O serviço se tornou essencial para dezenas de comunidades do interior que dependem dele para chegar a hospitais, escolas e mercados em cidades maiores.
Essa combinação de segurança, baixo custo e conforto ajuda a explicar por que mais de dois milhões de pessoas ainda utilizam essa linha todos os anos — um número expressivo em um país onde quase todas as viagens de longa distância são feitas por rodovias ou aviões.
Uma experiência que vale a pena
Ao final da jornada, ao chegar na estação Pedro Nolasco, na região metropolitana de Vitória, fica clara a sensação de ter vivido algo raro no Brasil de hoje.
A viagem pode ser longa, mas também é segura, tranquila e recheada de paisagens que contam a história do país.
Para quem puder, vale a pena dividir o trajeto em duas partes, dormindo em Governador Valadares, para torná-lo menos cansativo. E, se possível, investir na classe executiva garante mais conforto.
Essa viagem de trem entre Belo Horizonte e Vitória é mais do que um deslocamento: é uma travessia pelo tempo, uma lembrança viva do Brasil dos trilhos, das janelas abertas e das histórias compartilhadas ao longo do caminho.