Senador Rand Paul, aliado de Trump, se une a democratas em projeto para barrar tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros imposto pela Casa Branca, segundo CartaCapital.
O comércio entre Brasil e Estados Unidos entrou no centro de um debate político inusitado em Washington. Um senador republicano aliado de Donald Trump tomou uma decisão inesperada e resolveu se alinhar a parlamentares democratas em um esforço conjunto para derrubar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros imposto pela Casa Branca.
A iniciativa chamou atenção não apenas pelo impacto econômico, mas pela rara convergência de forças políticas rivais em um Congresso marcado pela polarização. O gesto mostra como o Brasil, um dos maiores exportadores de commodities para os Estados Unidos, se tornou peça estratégica nas discussões sobre tarifas e comércio internacional.
O tarifaço de 50% contra produtos brasileiros
Segundo a reportagem da CartaCapital, o governo norte-americano anunciou a aplicação de tarifas de 50% sobre mercadorias brasileiras, utilizando como justificativa o dispositivo legal conhecido como International Emergency Economic Powers Act (IEEPA).
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Esse instrumento concede ao presidente poderes excepcionais para intervir em assuntos de comércio exterior quando considera que há uma ameaça à segurança nacional. Originalmente, o IEEPA foi criado em 1977 para lidar com crises emergenciais — como terrorismo, guerras e sanções a regimes autoritários.
No entanto, nos últimos anos, o dispositivo vem sendo usado de forma mais ampla para implementar medidas de caráter protecionista, e o caso do Brasil passou a ser um exemplo disso.
União improvável: democratas e um aliado de Trump juntos
O projeto de lei contra o tarifaço foi apresentado por um grupo de democratas liderados por Tim Kaine, Chuck Schumer, Jeanne Shaheen e Ron Wyden, todos nomes de peso dentro do Senado. A surpresa, porém, veio com a adesão de Rand Paul, senador republicano pelo estado de Kentucky e aliado de Trump.
Paul, conhecido por seu perfil conservador e alinhamento com a ala mais rígida do partido republicano, se uniu aos democratas em um movimento que contrariou expectativas. Ao assinar o projeto, ele se colocou contra a própria Casa Branca, sinalizando que o tarifaço não encontra consenso nem dentro do campo trumpista.
Essa união é interpretada como uma tentativa de reafirmar o papel do Congresso no controle da política comercial americana. Para os parlamentares, o Executivo não pode recorrer ao IEEPA de forma indiscriminada para impor barreiras sem debate legislativo.
O Brasil como peça no tabuleiro
O Brasil é um dos dez maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Em 2024, o fluxo bilateral ultrapassou US$ 100 bilhões, com destaque para produtos como petróleo e derivados, aço, café, celulose, carne bovina e produtos manufaturados.
O tarifaço de 50% colocaria em risco a competitividade brasileira justamente em setores em que o país vem ganhando espaço no mercado americano. Para Brasília, a medida soou como um revés no momento em que negociações internacionais buscam ampliar acordos comerciais e garantir previsibilidade para exportadores.
Ao mesmo tempo, nos EUA há setores industriais e agrícolas que dependem dos insumos brasileiros. Essa interdependência ajuda a explicar por que parte do Congresso decidiu se mobilizar contra a medida.
O papel de Rand Paul
A entrada de Rand Paul no debate reforçou o peso político do projeto. Aliado de Trump, ele representa um segmento do Partido Republicano que costuma defender tarifas e barreiras contra importadores. Sua adesão ao texto dos democratas foi vista como um gesto pragmático.
Paul argumentou que o uso do IEEPA nesse caso foi exagerado e indevido, extrapolando os limites legais da medida. Além disso, segundo a reportagem da CartaCapital, o senador manifestou preocupação com a possibilidade de que acusações políticas contra Bolsonaro estivessem sendo usadas como pano de fundo para justificar medidas comerciais punitivas contra o Brasil.
Essa fala reforçou a ideia de que o tarifaço tinha não apenas caráter econômico, mas também político.
Democratas e o controle do comércio
Para os democratas, o caso do Brasil é um exemplo da necessidade de conter o poder excessivo do Executivo no comércio internacional. Eles defendem que o Congresso deve deliberar sobre tarifas de grande impacto, evitando que decisões unilaterais da Casa Branca prejudiquem relações comerciais consolidadas.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, afirmou que o uso indiscriminado do IEEPA coloca em risco a credibilidade dos EUA como parceiro comercial. Já Tim Kaine destacou que medidas como o tarifaço enfraquecem alianças e geram instabilidade em cadeias globais de suprimentos.
Impactos potenciais para o Brasil
Ainda que a matéria da CartaCapital não detalhe os setores específicos atingidos, é evidente que um tarifaço de 50% teria repercussões significativas sobre a balança comercial brasileira. O país poderia perder espaço no mercado americano para concorrentes como México, Canadá e países asiáticos.
Além disso, produtos de alto valor simbólico, como café e aço, poderiam sofrer diretamente, reduzindo margens de lucro de exportadores e ameaçando empregos em setores estratégicos da economia nacional.
Um raro gesto bipartidário
No cenário de polarização política nos EUA, a união de democratas com Rand Paul chama a atenção. Para analistas, esse movimento pode ser um divisor de águas, mostrando que mesmo em pautas duras, como o protecionismo comercial, há espaço para consenso quando interesses estratégicos estão em jogo.
O episódio também evidencia como o Brasil passou a ser tratado como ator relevante nas disputas internas da política americana. O tarifaço não é apenas uma medida econômica; é também um símbolo do embate entre Congresso e Executivo sobre os limites do poder presidencial no comércio.
O que vem pela frente
O projeto bipartidário ainda precisa tramitar no Senado, mas já abriu um espaço de resistência contra a medida da Casa Branca. Caso avance, pode forçar uma revisão ou até a suspensão das tarifas.
Para o Brasil, isso representa uma oportunidade de evitar prejuízos e de reforçar a diplomacia econômica em Washington. O governo brasileiro acompanha de perto as negociações e deve intensificar diálogos com setores empresariais norte-americanos, que também seriam impactados pelo tarifaço.
Um alerta para o comércio internacional
A disputa em torno das tarifas contra o Brasil mostra como o comércio internacional se tornou um campo de batalha geopolítico. De um lado, potências utilizam medidas emergenciais como ferramenta de pressão política; de outro, países emergentes como o Brasil precisam se defender em arenas multilaterais e bilaterais.
O episódio envolvendo democratas e um aliado de Trump é, portanto, um recado claro: mesmo parceiros estratégicos podem se tornar alvos de medidas unilaterais, e a defesa do interesse nacional exige vigilância permanente.