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Nova lei ambiental da União Europeia ameaça exportações brasileiras de madeira tropical e derivados até 2030 — produtores temem barreiras comerciais, enquanto China amplia espaço no mercado

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 21/08/2025 às 07:55
Nova lei ambiental da União Europeia ameaça exportações brasileiras de madeira tropical e derivados até 2030
Foto: Nova lei ambiental da União Europeia ameaça exportações brasileiras de madeira tropical e derivados até 2030
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Lei ambiental da UE ameaça exportações brasileiras de madeira tropical até 2030; produtores temem sanções, enquanto China amplia espaço no mercado.

A União Europeia deu um passo que pode mudar radicalmente o destino de setores estratégicos do Brasil. Aprovada em 2023 e com aplicação definitiva até 2030, a nova regulamentação ambiental europeia — conhecida como EUDR (European Union Deforestation Regulation) — estabelece que apenas produtos livres de desmatamento poderão entrar no bloco. A medida mira diretamente cadeias de alto risco, como madeira tropical, derivados de celulose, couro, carne bovina e soja.

Para o Brasil, maior exportador de madeira tropical do mundo, o impacto pode ser profundo. Estima-se que até 20% das exportações destinadas à Europa corram risco de bloqueio, caso não haja comprovação rigorosa de origem sustentável. Produtores já acendem o alerta: se não houver adaptação rápida, o país pode perder bilhões em divisas e abrir espaço para concorrentes asiáticos, sobretudo a China, que se move silenciosamente para ocupar o mercado.

A lei que pode mudar o comércio global

A EUDR exige que todos os produtos exportados para a União Europeia venham acompanhados de comprovação de origem, rastreabilidade georreferenciada e certificação de que não estão vinculados ao desmatamento após 31 de dezembro de 2020. Isso significa que qualquer madeira tropical, couro ou soja produzidos em áreas que tiveram supressão de vegetação nativa após essa data serão automaticamente barrados.

Na prática, a medida coloca nas mãos da UE um poder de fiscalização global sobre cadeias produtivas inteiras. O Brasil, com seus 5 milhões de km² de florestas tropicais e status de potência agroflorestal, será um dos países mais vigiados.

O peso da madeira tropical brasileira

O Brasil é líder mundial na produção e exportação de madeira tropical, movimentando um mercado estimado em US$ 1,6 bilhão anuais. Estados como Pará, Rondônia e Mato Grosso são responsáveis por grande parte dos embarques para Europa e Ásia.

Na União Europeia, essa madeira é usada na indústria moveleira, em acabamentos de luxo e na construção civil de alto padrão. Produtos como compensados, pisos e móveis de design dependem fortemente da matéria-prima brasileira. A eventual restrição europeia pode redesenhar esse comércio, deslocando compradores para fornecedores alternativos na África e no Sudeste Asiático.

Produtores em alerta: risco de barreiras e custos bilionários

Para atender às exigências da UE, os produtores precisarão investir em certificação, sistemas de rastreabilidade digital e monitoramento por satélite. Estimativas do setor falam em custos adicionais de até 15% no valor final da madeira, o que pode reduzir a competitividade do Brasil no mercado europeu.

A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada (Abimci) já declarou que muitos pequenos produtores podem não resistir ao peso da burocracia. Sem capacidade de comprovar origem com tecnologia de ponta, correm risco de ficar de fora do mercado internacional.

O temor é que a nova lei funcione como uma barreira comercial disfarçada, punindo principalmente países em desenvolvimento. Para o setor, a Europa impõe regras rígidas sem oferecer apoio financeiro ou tecnológico proporcional, criando uma desigualdade entre produtores europeus e latino-americanos.

A sombra da China

Enquanto o Brasil encara as novas exigências, a China se movimenta com agilidade. O país é hoje o maior importador mundial de madeira tropical, absorvendo parte significativa da produção brasileira. Com a possível restrição da UE, exportadores podem desviar seus embarques para atender à demanda chinesa, que é menos exigente em termos de certificação ambiental.

Mas esse redirecionamento não vem sem riscos. Ao concentrar exportações para a Ásia, o Brasil se torna ainda mais dependente do mercado chinês, aumentando sua vulnerabilidade geopolítica e reduzindo o poder de barganha no comércio global.

O que parece uma solução imediata pode se transformar em armadilha de médio prazo: menor diversificação, preços mais baixos e maior pressão política de Pequim sobre os rumos da economia brasileira.

Europa endurece, Brasil reage

O governo brasileiro considera a medida europeia discriminatória. Em 2025, o Itamaraty classificou a regulamentação como “excessivamente onerosa e de caráter unilateral”, defendendo que o Brasil já possui sistemas de monitoramento ambiental robustos, como o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e a fiscalização via satélite do INPE.

Ainda assim, a pressão internacional aumenta. ONGs ambientais veem a EUDR como um marco global e cobram que outros países adotem legislações semelhantes, ampliando o cerco ao desmatamento. O Brasil, que depende fortemente de commodities agrícolas e florestais, pode se tornar alvo preferencial dessas medidas.

O dilema entre sustentabilidade e competitividade

No coração do debate está o dilema: como equilibrar a proteção ambiental com a competitividade econômica.

Se por um lado o Brasil precisa preservar sua imagem internacional e se alinhar às exigências ambientais globais, por outro não pode comprometer uma cadeia que gera milhões de empregos diretos e indiretos, especialmente em regiões vulneráveis da Amazônia.

Para especialistas, a saída pode estar em uma transição tecnológica acelerada. Isso inclui investimento em rastreabilidade digital por blockchain, integração de dados do CAR com plataformas internacionais e certificação em tempo real via satélite. Mas esses projetos exigem bilhões em investimento e, até agora, não há um plano nacional robusto para financiá-los.

O futuro das exportações brasileiras

Se o Brasil conseguir se adaptar, pode sair fortalecido. A madeira certificada tende a ganhar valor agregado, abrindo espaço para exportações premium. Mas se não houver coordenação entre governo e setor privado, o país corre o risco de perder espaço para concorrentes africanos e asiáticos, que já estão se posicionando para suprir a demanda europeia.

Ao mesmo tempo, a China pode se beneficiar dessa brecha, consolidando ainda mais sua influência sobre os fluxos comerciais globais. O resultado seria uma mudança estrutural: a Europa mais rigorosa, a China mais dominante, e o Brasil no meio de uma disputa bilionária que vai muito além da madeira.

A nova lei ambiental pode ser um desafio

A nova lei ambiental da União Europeia é, ao mesmo tempo, um chamado e um desafio para o Brasil. Pode ser a chance de reposicionar o país como fornecedor confiável de produtos sustentáveis, conquistando mercados de alto valor. Mas também pode se tornar uma armadilha, expulsando produtores do comércio internacional, ampliando custos e aprofundando a dependência de um único parceiro comercial.

O Brasil está diante de uma escolha histórica: se adaptar, inovar e liderar ou assistir à sua vantagem competitiva se esvair no compasso da política ambiental global. O tempo corre — e 2030 já não parece tão distante.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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