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Uma das maiores empresas de autopeças, fornecedora da Stellantis e Nissan, decreta falência após rombo de US$ 5 bilhões; confira a situação da Marelli

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 16/06/2025 às 09:43
Uma das maiores empresas de autopeças, fornecedora da Stellantis e Nissan, decreta falência após rombo de US$ 5 bilhões; confira a situação da Marelli
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Com presença global e contratos com montadoras como Stellantis e Nissan, a Marelli enfrenta uma crise sem precedentes. Entenda os motivos que levaram a uma das maiores fornecedoras de autopeças do mundo a pedir falência e os impactos no setor automotivo

A Marelli, uma das maiores fornecedoras de autopeças do mundo e parceira direta de montadoras como Stellantis e Nissan, entrou com pedido de proteção judicial contra falência nos Estados Unidos. O anúncio, feito em 11 de junho de 2025, revelou um déficit acumulado de aproximadamente US$ 5 bilhões, provocado por uma série de fatores econômicos, geopolíticos e setoriais que corroeram a saúde financeira da companhia.

Com presença global e mais de 170 unidades de operação em diversos continentes, a Marelli vinha enfrentando dificuldades desde o período da pandemia de Covid‑19. A empresa, que atua no fornecimento de componentes eletrônicos, sistemas de iluminação e módulos automotivos, agora busca viabilizar sua sobrevivência por meio de um plano de reestruturação, que inclui a conversão de dívidas e a entrada de novos investidores. A proposta tem o apoio de cerca de 80% dos credores seniores e prevê a manutenção de parte das operações.

Fatores que levaram ao colapso financeiro da fornecedora de autopeças

A Marelli se tornou um exemplo das dificuldades enfrentadas por fornecedores automotivos em um cenário de transição tecnológica, desafios logísticos e tensões comerciais globais. Três grandes fatores foram determinantes para sua crise:

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Primeiro, a pandemia global impactou duramente o setor automotivo. A interrupção nas cadeias de fornecimento, escassez de semicondutores e alta dos custos de transporte afetaram profundamente as operações da empresa. Com unidades industriais espalhadas entre Ásia, Europa e América, a Marelli enfrentou um aumento expressivo em seus custos operacionais, ao mesmo tempo em que a demanda por componentes caiu.

O segundo fator foi o impacto das tarifas comerciais impostas por países como os Estados Unidos. A empresa sofreu especialmente com as tarifas de importação implementadas nos últimos anos, que atingiram em cheio os componentes automotivos fabricados fora dos EUA. Isso reduziu drasticamente a competitividade de seus produtos em mercados estratégicos, afetando diretamente seus contratos com montadoras.

Por fim, a desaceleração da transição para veículos elétricos comprometeu boa parte da estratégia de médio e longo prazo da empresa. Embora diversas fabricantes tenham anunciado planos ambiciosos de eletrificação, a adoção em massa demorou mais do que o previsto. Muitas empresas, incluindo a Stellantis, reduziram ou adiaram pedidos de componentes eletrônicos para veículos elétricos, o que impactou diretamente os volumes encomendados à Marelli.

Estrutura global e o peso da dívida da parceira da Nissan e Stellantis

A Marelli nasceu da fusão, em 2019, entre a Calsonic Kansei, do Japão, e a Magneti Marelli, então controlada pela Fiat Chrysler. Desde então, assumiu o nome Marelli e passou a atuar como uma fornecedora de autopeças com presença significativa no mercado global.

Contudo, o projeto de crescimento agressivo foi sustentado por um elevado nível de endividamento. Com o tempo, esse passivo se tornou insustentável. O rombo acumulado de US$ 5 bilhões, divulgado em documentos apresentados à Justiça dos EUA, refletia não só os prejuízos operacionais, mas também os encargos financeiros crescentes, decorrentes da exposição a empréstimos internacionais.

Segundo fontes ouvidas pelo Wall Street Journal, a empresa tentou, ao longo dos últimos dois anos, cortar custos e renegociar dívidas, mas sem sucesso. A deterioração do ambiente de negócios e a queda na confiança dos investidores aceleraram o processo de colapso.

Reestruturação: plano prevê nova injeção de capital

O pedido de proteção judicial visa permitir que a Marelli reestruture suas operações e suas finanças sem ser imediatamente pressionada pelos credores. O plano, que conta com o apoio de aproximadamente 80% dos detentores de dívidas seniores, inclui as seguintes medidas principais:

  • Conversão de parte da dívida em participação acionária, com reconfiguração da estrutura societária da empresa;
  • Captação de até US$ 1 bilhão em novos aportes, a serem obtidos junto a fundos de investimento e parceiros estratégicos;
  • Renegociação de contratos de fornecimento com clientes como Stellantis e Nissan, com revisão de prazos e volumes;
  • Venda de ativos considerados não essenciais, como unidades produtivas pouco eficientes ou ativos imobiliários ociosos;
  • Ajustes na estrutura operacional, incluindo eventuais demissões e relocação de atividades para regiões mais vantajosas.

O objetivo é permitir que a empresa continue operando, honrando compromissos com clientes e mantendo parte relevante de sua base produtiva e de empregos.

Impactos para Nissan, Stellantis e cadeia automotiva global

O colapso da Marelli levanta preocupações importantes na indústria automotiva global. A empresa era uma fornecedora essencial para diversas montadoras e sua falência pode causar impactos em série na cadeia de suprimentos.

A Stellantis, que depende de diversos módulos e sistemas fornecidos pela Marelli, já estuda alternativas para minimizar os riscos de desabastecimento. A Nissan, por sua vez, também monitora os desdobramentos e avalia formas de proteger sua produção em mercados como Japão e Estados Unidos.

Com a Marelli enfrentando incertezas, outras fornecedoras de autopeças podem ocupar o espaço deixado por ela, especialmente empresas asiáticas com forte capacidade de produção e menores custos. Contudo, o processo de homologação de novos fornecedores pode ser demorado, e não há garantia de que o padrão de qualidade seja mantido.

Além disso, a situação cria um novo foco de pressão sobre os preços de componentes, o que pode afetar os custos finais dos veículos e, por consequência, os consumidores.

O que a falência Marelli ensina sobre os riscos do setor

A falência da Marelli é mais do que um caso isolado: é um alerta para os riscos crescentes enfrentados por empresas do setor automotivo, em especial as que atuam como fornecedoras de autopeças.

O cenário atual exige das empresas não apenas solidez financeira, mas também flexibilidade operacional, visão estratégica e capacidade de inovação.

A dependência excessiva de contratos com grandes montadoras, somada à vulnerabilidade diante de oscilações econômicas e geopolíticas, tornou-se uma equação arriscada para companhias como a Marelli.

O caso mostra que, mesmo grandes grupos com presença global e décadas de história, podem sucumbir diante de uma combinação desfavorável de fatores externos e decisões estratégicas mal calculadas.

Impacto duradouro e mudanças que vêm por aí

O pedido de falência da Marelli deve causar efeitos duradouros no setor. Além dos ajustes que serão necessários na cadeia de produção das montadoras, haverá também um redesenho nas estratégias de suprimentos e produção de componentes críticos.

Empresas como Stellantis e Nissan provavelmente acelerarão processos de diversificação de fornecedores e poderão investir em verticais próprias para reduzir a exposição a riscos externos. Já os demais players do setor precisarão avaliar com mais cautela seus níveis de alavancagem, estrutura de custos e capacidade de resposta a cenários de crise.

A falência da Marelli deixa um recado claro: num setor em transformação acelerada, sobreviver não depende apenas de escala, mas de inteligência estratégica, inovação constante e capacidade de adaptação. O caso se tornará referência nos próximos anos — e um estudo obrigatório para líderes e analistas da indústria automotiva.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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