Criada por um cartógrafo apenas para proteger seus direitos autorais, a cidade falsa de Agloe acabou se tornando um lugar real quando viajantes começaram a visitá-la, confundindo ficção com geografia
A história de Agloe, uma pequena localidade nas montanhas de Catskills, em Nova York, é um dos episódios mais curiosos da cartografia moderna. O que nasceu como uma simples armadilha de direitos autorais em um mapa, criada por um cartógrafo para evitar plágios, acabou se transformando em uma cidade real, ainda que por acaso, quando pessoas começaram a visitar o local acreditando que ele realmente existia.
Essa cidade é o exemplo clássico do conceito de “cidade falsa”, ou “cidade de papel” (paper town), criado propositalmente em mapas como forma de identificar cópias não autorizadas.
O caso de Agloe, porém, extrapolou o papel e mostrou o poder que a repetição da informação pode ter até mesmo para fazer surgir um lugar que nunca existiu.
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O que é uma cidade de papel
O termo “cidade de papel” descreve pontos geográficos falsos inseridos em mapas como mecanismo de proteção de direitos autorais.
Essa técnica é utilizada desde o século XIX por cartógrafos que queriam identificar plágios: se outro mapa reproduzisse a mesma informação inexistente, ficaria evidente que o trabalho havia sido copiado.
Essas “marcas fantasmas” podiam ser ruas, vilarejos ou rios inventados, normalmente posicionados em áreas pouco conhecidas.
No caso de Agloe, o truque acabou saindo do controle, mostrando como a confiança cega nos mapas pode dar origem a realidades inesperadas.
Como nasceu Agloe, a cidade falsa que ganhou vida
Em 1925, a empresa General Drafting Company, responsável pelos mapas oficiais da Standard Oil, decidiu inserir uma cidade inventada chamada Agloe em um cruzamento de estradas rurais no norte do estado de Nova York.
O nome era um anagrama das iniciais dos criadores do mapa, Otto G. Lindberg e Ernest G. Alpers.
Anos depois, na década de 1950, uma empresa concorrente, a Rand McNally, publicou um novo mapa da região que também incluía Agloe.
A General Drafting acusou os rivais de plágio, já que acreditava ser impossível incluir a mesma cidade falsa por coincidência.
Mas a defesa da Rand McNally surpreendeu: Agloe havia se tornado real.
Ao longo dos anos, motoristas que viram o nome no mapa começaram a visitar a região, e comerciantes locais aproveitaram a oportunidade para abrir um posto de gasolina e um empório com o nome “Agloe General Store”.
Assim, a cidade fictícia se transformou, de forma espontânea, em um ponto geográfico legítimo.
A confusão entre mapa e realidade
O caso de Agloe revelou o quanto a percepção humana pode transformar ficção em realidade.
Nos anos 1950, um nome impresso em um mapa tinha autoridade suficiente para atrair viajantes e até inspirar empreendimentos.
Por um tempo, Agloe constou oficialmente em mapas de diferentes editoras e chegou a ser considerada uma localidade reconhecida no condado de Delaware.
O episódio também levantou debates jurídicos sobre a fronteira entre a criação intelectual e o mundo físico.
Como o mapa original havia inventado o nome, mas a presença humana o tornou real, nenhum dos lados pôde reivindicar total propriedade sobre o lugar.
No fim, Agloe permaneceu como uma curiosa fusão entre invenção cartográfica e consequência social.
Outras cidades falsas e o legado cultural de Agloe
Agloe não foi o único exemplo de uma cidade fictícia que ganhou notoriedade.
Décadas depois, Argleton, uma suposta cidade em West Lancashire, na Inglaterra, apareceu no Google Maps e gerou confusão mundial antes de ser removida.
O caso demonstrou que mesmo com tecnologia digital, os erros e truques da cartografia persistem.
Além disso, a história de Agloe ultrapassou os limites da geografia e chegou à cultura pop.
O escritor John Green usou o caso como inspiração para o romance “Cidades de Papel”, que se tornou um best-seller e foi adaptado para o cinema em 2015.
Na obra, Agloe simboliza a fragilidade das percepções humanas e a linha tênue entre o real e o imaginado.
Um símbolo entre a ficção e o mundo físico
Hoje, Agloe é considerada uma “cidade fantasma de papel”.
O posto e o empório desapareceram, restando apenas o cruzamento onde a cidade teria existido.
Mesmo assim, o nome continua a aparecer em publicações, livros e artigos sobre cartografia, como um lembrete de que os mapas não apenas representam o mundo, às vezes o criam.
Para os estudiosos, Agloe se tornou um símbolo da relação entre a informação e a realidade.
O episódio mostra que um simples ato de registro pode transformar a imaginação em fato, especialmente quando acreditamos coletivamente naquilo que vemos mesmo que tenha nascido de um erro ou de uma estratégia de proteção intelectual.