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Você sabe como cabos de internet são colocados a 3.000 metros de profundidade no oceano? A resposta é um navio de R$ 1,5 bilhão, com 171 metros de comprimento e robôs escavadores

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 21/07/2025 às 15:27
Atualizado em 22/07/2025 às 10:22
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Gigante dos mares que ninguém vê: com tecnologia militar e robôs de escavação, este navio já começou a mapear e enterrar a nova espinha dorsal da internet global

À primeira vista, parece apenas mais um navio navegando pela costa do Atlântico. Mas por trás de sua estrutura se esconde um dos sistemas tecnológicos mais avançados do planeta. Seu nome é Monna Lisa e, junto de seu irmão Leonardo Da Vinci, é o maior e mais sofisticado navio cablero já construído. Projetado para instalar milhares de quilômetros de cabos submarinos em profundidades extremas, esse colosso é uma peça fundamental – e invisível – da infraestrutura que mantém o mundo conectado.

Por trás da navegação global, do comércio digital e das videochamadas em tempo real, existe uma rede física de cabos ópticos que serpenteiam pelos fundos oceânicos. Mais de 95% do tráfego mundial da internet não passa por satélites, mas sim por essas artérias submarinas. E é exatamente aí que entra o papel do Monna Lisa.

Um gigante construído para uma missão invisível

O Monna Lisa é uma joia da engenharia naval especializada. Sua construção começou em 2022 nos estaleiros da Vard Tulcea, na Romênia, sob encomenda da companhia italiana Prysmian Group, líder mundial em sistemas de cabos. O navio custou mais de 250 milhões de euros e iniciou suas operações em 2024, justamente quando os projetos de cabeamento transatlântico entre a Europa e a América do Norte se intensificaram.

Com 171 metros de comprimento e 34 metros de largura, este navio impressiona não só pelo tamanho, mas também por sua capacidade operacional. Ele pode transportar ao mesmo tempo duas bobinas gigantes de cabos: uma de 7.000 toneladas e outra de 10.000 toneladas, prontas para serem lançadas em rotas oceânicas que ultrapassam os 6.000 quilômetros.

Segundo o site oficial da Prysmian, o navio conta com infraestrutura para abrigar até 120 tripulantes durante missões prolongadas de até 90 dias ininterruptos em alto-mar. E embora não seja projetado para velocidade, pode alcançar até 16 nós quando navega sem carga pesada.

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Tecnologia de precisão no fundo do oceano

O trabalho do Monna Lisa vai muito além de simplesmente soltar cabo no mar. O processo de instalação exige precisão cirúrgica. Para isso, o navio está equipado com um sistema de posicionamento dinâmico DP3, o mais avançado disponível atualmente na indústria naval. Esse sistema usa uma combinação de sensores GPS, radares, giroscópios e propulsores automáticos para manter o navio exatamente no lugar, com precisão de apenas centímetros, mesmo em mar aberto e sob condições adversas.

Essa estabilidade é crucial: qualquer deslocamento acidental pode comprometer o cabo durante sua instalação, colocando em risco anos de planejamento e milhões de euros em investimento. Para reforçar a posição em manobras delicadas, o Monna Lisa utiliza um sistema de ancoragem de oito pontos, fixando-se diretamente ao leito marinho em águas rasas.

Cavando trincheiras a 3.000 metros de profundidade

A inovação do Monna Lisa se estende para muito além da superfície. Diferente das práticas antigas — quando os cabos eram apenas depositados sobre o fundo do mar —, o padrão atual exige que eles sejam enterrados para proteção, evitando danos causados por âncoras, redes de pesca ou correntes submarinas.

Para isso, o navio usa um sistema chamado Hydroplow, uma espécie de arado subaquático que cava uma trincheira de 2 a 3 metros de profundidade, dependendo do tipo de solo. À medida que o navio avança, o cabo é depositado na vala, que se fecha naturalmente com o próprio fluxo da terra, protegendo-o.

Quando o solo é mais rochoso ou irregular, entram em ação robôs subaquáticos autônomos, que escavam com precisão em áreas onde o Hydroplow não é eficiente. Esses sistemas alternativos permitem que o navio opere mesmo em terrenos geológicos complexos.

Uma missão que vai além da tecnologia

A expansão das redes de cabos submarinos não tem apenas implicações técnicas — ela também envolve aspectos geopolíticos e estratégicos. Em um mundo cada vez mais polarizado, esses cabos tornaram-se infraestrutura crítica para a soberania digital dos países. Alguns projetos intercontinentais, como o Grace Hopper, do Google, ou o 2Africa, da Meta, já causaram disputas diplomáticas por conta do acesso e vigilância de dados.

O Monna Lisa está no centro dessa corrida silenciosa por controle das artérias digitais do século XXI. Seu primeiro grande projeto foi a instalação de um cabo entre Santander (Espanha) e a costa leste dos Estados Unidos, operação iniciada em abril de 2024 e ainda em andamento. Segundo dados do Submarine Cable Map, essa nova rota vai reduzir significativamente a latência de dados entre os dois continentes, além de servir como via de backup para cabos mais antigos que se aproximam do fim da vida útil.

Uma frota para dominar os mares digitais

A Prysmian tem planos ainda mais ambiciosos. Além do Monna Lisa e do Leonardo Da Vinci — ambos já em operação —, a empresa anunciou a construção de um terceiro navio ainda mais moderno, com previsão de entrega para 2027. Trata-se de uma estratégia de longo prazo que visa consolidar a Europa como protagonista global na infraestrutura digital submarina.

Enquanto isso, na China, já está sendo montado um navio similar que terá 215 metros de comprimento, mas que só deverá entrar em operação em 2026. A disputa por esses navios especializados é intensa: existem poucos estaleiros no mundo capazes de fabricá-los — e ainda menos operadores com experiência para comandá-los com segurança.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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