Engenheiro japonês cria casa giratória de 120 m² que segue o sol, reduz 70% do consumo de energia e antecipa o futuro da arquitetura sustentável.
No Japão, um país conhecido pela harmonia entre tradição e tecnologia, um engenheiro decidiu desafiar o conceito de casa estática e criar uma obra que literalmente se move com o sol. Seu nome é Yoichi Sakamoto, e sua invenção — uma casa giratória de 120 metros quadrados — não é ficção científica e foi criada em meados de 2021. Construída na cidade de Shizuoka, a residência foi projetada para girar suavemente sobre seu próprio eixo, acompanhando o movimento solar ao longo do dia, otimizando a iluminação natural e reduzindo drasticamente o consumo de energia.
Mais do que uma curiosidade de engenharia, a “Revolving House” (Kaiten Jūtaku, em japonês) é um exemplo visionário de como a arquitetura pode se adaptar ao meio ambiente, e não o contrário. Criada nos anos 1990, ela continua sendo uma das soluções sustentáveis mais engenhosas já aplicadas em residências, muito antes de a inteligência artificial e os painéis solares dominarem o debate sobre casas ecológicas.
A casa que segue o sol: uma ideia nascida da observação da natureza
Yoichi Sakamoto cresceu em uma região montanhosa de Shizuoka, acostumado a ver as variações extremas de luz e temperatura entre o amanhecer e o entardecer. Inspirado pelas flores que se voltam para o sol e pelas fazendas que orientavam suas plantações conforme a estação, ele decidiu criar uma casa que pudesse girar lentamente, maximizando o aquecimento natural no inverno e a ventilação no verão.
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O resultado foi uma estrutura circular montada sobre uma plataforma motorizada, capaz de dar uma volta completa em cerca de dois minutos, com controle total do morador.
A rotação é tão silenciosa que quase não se percebe o movimento. O sistema é alimentado por motores elétricos de baixo consumo e sensores que calculam a posição ideal em relação ao sol.
Segundo Sakamoto, a ideia nasceu de uma frustração pessoal: “Eu percebi que passava mais tempo ajustando cortinas e janelas do que vivendo a casa. Então pensei: e se, em vez de me adaptar ao sol, a casa se adaptasse a mim?”.
Engenharia de precisão: 120 m² sobre uma base motorizada
Com 120 metros quadrados de área útil distribuídos em dois pavimentos, a Revolving House foi construída com estrutura de aço leve e madeira laminada, materiais que garantem estabilidade e flexibilidade — algo essencial em um país sujeito a terremotos.
A base circular tem 9 metros de diâmetro e pesa cerca de 40 toneladas, abrigando o sistema motorizado e os rolamentos que permitem a rotação suave. O projeto é tão preciso que, mesmo após mais de 25 anos, o mecanismo original continua funcionando.
Toda a casa é projetada em módulos. O banheiro e a cozinha, por exemplo, permanecem fixos no centro da estrutura, enquanto os ambientes externos giram em torno desse núcleo. Essa configuração garante que os canos e cabos elétricos não se enrosquem, mesmo com o movimento contínuo.
Economia de energia e conforto térmico
O sistema de rotação não é apenas um truque tecnológico — ele tem um propósito claro: reduzir o consumo energético.
Ao acompanhar o sol durante o inverno, a casa aproveita o aquecimento natural para manter o interior em temperatura agradável, enquanto no verão pode ser girada para áreas sombreadas, reduzindo a necessidade de ar-condicionado.
Estudos publicados na revista japonesa Jutaku Kenchiku mostraram que o modelo de Sakamoto reduz em até 70% o gasto com energia elétrica em comparação com uma residência convencional japonesa da mesma metragem. A iluminação natural também é amplificada, permitindo que janelas maiores sejam utilizadas sem comprometer o conforto térmico.
Com esse equilíbrio entre luz, ventilação e eficiência, o projeto antecipa os princípios da chamada arquitetura bioclimática, conceito que hoje é base para prédios inteligentes no mundo inteiro.
O impacto global da “Revolving House”
A invenção de Yoichi Sakamoto chamou atenção da mídia japonesa e rapidamente se tornou tema de reportagens em programas da NHK e exposições de arquitetura sustentável. O projeto inspirou variações na Alemanha, Austrália e Emirados Árabes, onde engenheiros desenvolveram edifícios rotativos com o mesmo princípio — mas em escala muito maior.
Um dos casos mais famosos é o Dynamic Tower, em Dubai, um arranha-céu rotativo projetado pelo arquiteto David Fisher, que prevê que cada andar gire de forma independente para otimizar luz e vista. O conceito nasceu diretamente das ideias pioneiras do engenheiro japonês, embora o projeto de Fisher nunca tenha sido concluído.
Mesmo décadas depois, Sakamoto continua sendo citado em conferências de design e tecnologia como um dos precursores da arquitetura adaptável, que busca criar ambientes vivos e mutáveis, em sintonia com o clima e o comportamento humano.
Sustentabilidade antes da moda
Nos anos 1990, sustentabilidade ainda era um termo restrito a acadêmicos e ambientalistas. Mas Sakamoto já via a casa como um organismo vivo. A Revolving House utiliza ventilação cruzada natural, aquecimento passivo, painéis solares integrados ao teto e materiais recicláveis.
O engenheiro também instalou um sistema de captação de água da chuva e reutilização de águas cinzas, tornando a casa parcialmente autossuficiente. Tudo isso em um período em que painéis solares ainda eram caríssimos e raros no Japão.
Hoje, pesquisadores da Universidade de Tóquio e da Shizuoka Institute of Technology analisam o modelo de Sakamoto como um caso pioneiro de arquitetura responsiva, ou seja, edificações que se adaptam ao ambiente sem exigir controle manual constante.
Quando a casa virou símbolo cultural
Com o tempo, a casa giratória virou atração turística local em Shizuoka. Visitantes do Japão e de outros países passaram a incluir a Revolving House em roteiros de turismo tecnológico, especialmente após sua exibição na série Innovative Japanese Architecture, da NHK World Japan.
O próprio Sakamoto, hoje com mais de 70 anos, mantém o sistema funcionando e recebe grupos de estudantes para explicar os fundamentos do projeto. “Eu não quis fazer uma casa futurista. Quis fazer uma casa que entendesse o tempo”, afirma.
Atualmente, há uma nova geração de arquitetos e engenheiros japoneses revisitando o conceito criado por Sakamoto, mas com integração de inteligência artificial e sensores climáticos em tempo real. Alguns protótipos já conseguem girar automaticamente conforme a intensidade solar, umidade ou direção do vento — algo que o inventor imaginava, mas não pôde implementar na época.
Empresas como a Misawa Homes e a Daiwa House já estudam sistemas rotativos para pequenas casas modulares, voltadas ao público de terceira idade, onde o morador pode ajustar o ambiente sem esforço físico.
Se antes parecia um sonho excêntrico, hoje a Revolving House é vista como uma precursora das smart homes ecológicas, mostrando que a sustentabilidade pode ser alcançada com criatividade e engenhosidade, sem depender de grandes corporações.
A lição de Yoichi Sakamoto
Mais do que um feito técnico, o projeto de Sakamoto é um manifesto silencioso sobre como a tecnologia pode servir à natureza. Em vez de destruir o ambiente, ele propôs que o lar se movesse com o ritmo do planeta.
Em tempos em que arranha-céus de vidro lutam contra o calor que eles mesmos produzem, a ideia de uma casa que gira para “seguir o sol” parece quase poética — e talvez, finalmente, moderna o suficiente para ser compreendida.