Durante conversa com Lula, Donald Trump admitiu que os EUA estão “sentindo falta” do café brasileiro, principal produto afetado pelo tarifaço de 50% sobre exportações do Brasil; a medida fez o preço da bebida disparar até 20% e ameaça o comércio bilateral entre os dois países
O café brasileiro entrou no centro da primeira conversa direta entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva desde o retorno do republicano à Casa Branca. Trump reconheceu que os americanos “sentem falta” do produto nacional, principal vítima do tarifaço de 50% imposto por seu governo sobre exportações do Brasil.
O aumento das tarifas já está pesando no bolso dos consumidores nos Estados Unidos: o preço do café subiu quase 21% em um ano, segundo dados do governo americano, o maior salto desde 1997. A medida reforça o impacto global da política comercial de Trump e coloca o café, símbolo da cultura brasileira, como peça-chave de uma disputa econômica bilionária.
O café brasileiro e o efeito da tarifa de 50%
O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros atingiu em cheio o café, responsável por um terço do consumo americano.
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Segundo dados oficiais, as exportações brasileiras de café para os EUA caíram 47% em volume e 31,5% em valor no último mês.
A receita total somou US$ 113,8 milhões, uma das mais baixas dos últimos anos.
Enquanto isso, os americanos passaram a pagar mais caro pelo cafezinho diário. Em agosto, primeiro mês da tarifa, os preços subiram 3,6% nove vezes mais que a inflação geral do país.
Na comparação anual, a alta chega a 20,9%, segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA.
Trump e Lula reabrem diálogo econômico
Na conversa telefônica de 30 minutos, Trump e Lula discutiram medidas para reequilibrar o comércio bilateral e negociar o fim das sanções americanas contra produtos e autoridades brasileiras.
O encontro marca um novo momento na relação entre os dois países, que vinham trocando farpas desde a imposição das tarifas.
De acordo com fontes do governo brasileiro, Trump afirmou que “gostou da conversa” e designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda).
Lula, por sua vez, reforçou o convite para que Trump participe da COP30, em Belém, e propôs um encontro presencial na Cúpula da ASEAN, na Malásia.
O impacto do café nas relações comerciais
O Brasil é o maior exportador de café do mundo, e os Estados Unidos são seu principal comprador. A bebida não é cultivada em larga escala no território americano, devido ao clima, e depende da importação de países tropicais.
Apenas pequenas áreas no Havaí, Porto Rico e sul da Califórnia produzem o grão, o que é insuficiente para atender à demanda interna de 450 milhões de xícaras por dia.
A escassez causada pelas tarifas tem provocado pressão política e econômica nos EUA, já que o café é item essencial na rotina de dois terços da população adulta americana.
O consumo da bebida cresceu 7% desde 2020, e o de cafés gourmet subiu 18%, segundo a Associação Nacional de Café dos EUA.
Exportações despencam e balança comercial piora
Com o bloqueio tarifário, o comércio bilateral entre Brasil e EUA virou deficitário para o lado brasileiro.
Em setembro, as exportações totais para os americanos caíram 20,3%, enquanto as importações cresceram 14,3%. O resultado foi um déficit de US$ 1,77 bilhão, o maior em anos.
A queda nas vendas de café, etanol e automóveis foi determinante para o recuo.
Ao mesmo tempo, Washington aumentou a compra de bens industriais e tecnológicos, ampliando a dependência brasileira de produtos de alto valor agregado.
O superávit comercial global do Brasil caiu 41% no mês, para apenas US$ 3 bilhões.
A estratégia política por trás da tarifa
Analistas avaliam que o tarifaço de 50% faz parte da estratégia de Trump para proteger produtores americanos e pressionar países emergentes em setores estratégicos.
No caso do Brasil, o republicano busca abrir acesso a minerais críticos, como lítio e terras-raras, essenciais para a indústria tecnológica e militar dos EUA.
Fontes diplomáticas afirmam que Trump pode usar a redução da tarifa sobre o café brasileiro como moeda de troca em futuras negociações sobre recursos naturais e propriedade intelectual.
O gesto de admitir publicamente que os EUA “sentem falta” do café do Brasil é visto como sinal de abertura para um acordo comercial mais amplo.
O simbolismo do café na relação Brasil–EUA
O café brasileiro sempre teve peso político nas relações com Washington. Desde o pós-guerra, o produto ajudou a consolidar laços comerciais e culturais entre os dois países.
A atual crise, provocada pelo aumento tarifário, reacende um debate histórico sobre dependência, soberania e competitividade agrícola.
Especialistas destacam que o episódio pode fortalecer a posição do Brasil nas próximas rodadas de negociação, especialmente se Lula conseguir alinhar o discurso de defesa da indústria nacional com a necessidade de estabilidade comercial para o agronegócio.
A nova diplomacia do cafezinho
Ao comentar o telefonema em tom bem-humorado, Trump disse que “pelo menos a ONU serviu para alguma coisa”, referindo-se ao breve encontro entre os dois durante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Lula respondeu que o diálogo foi uma “oportunidade para restaurar relações amistosas de 201 anos entre as maiores democracias do Ocidente”.
O “cafezinho diplomático” pode se transformar em símbolo de uma retomada mais pragmática entre os governos.
Segundo interlocutores de ambos os lados, as conversas avançam para a criação de um acordo de livre comércio setorial que inclua bebidas, biocombustíveis e produtos agrícolas.
O café brasileiro virou mais que uma commodity: tornou-se um termômetro da política externa e do impacto direto do tarifaço de 50% sobre o bolso americano.
E você, acha que Trump deve reduzir as tarifas para aliviar o preço do café ou que o Brasil precisa reagir com medidas equivalentes? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber como você vê o futuro dessa disputa que começou com um simples cafezinho.