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Três gigantes globais produtores de carne bovina se alinham, seguram fêmeas, e o preço ameaça novo recorde em 2026

Escrito por Geovane Souza
Publicado em 25/08/2025 às 11:14
Três gigantes globais produtores de carne bovina se alinham, seguram fêmeas, e preço ameaça novo recorde em 2026
Foto: Pela primeira vez na história recente, Estados Unidos, Brasil e Austrália caminham na mesma direção dentro do ciclo da pecuária.
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Retenção de fêmeas nos três maiores exportadores indica menos oferta de carne bovina e sustentação de preços em 2026. Tarifas de 50% dos EUA ao Brasil adicionam pressão no comércio e nos custos.

Pela primeira vez na história recente, Estados Unidos, Brasil e Austrália caminham na mesma direção dentro do ciclo da pecuária. Analistas destacam que a retenção de novilhas para recompor rebanhos está acontecendo simultaneamente nas três potências, encurtando a oferta no curto prazo e reprogramando o mercado para os próximos anos, podendo ocasionar aumento no preço da carne bovina.

Nos EUA, o USDA revisou para baixo as projeções de produção de 2025 e 2026 e registrou forte alta de preços do boi gordo, reflexo de abates mais lentos e menos bezerros disponíveis para confinamento. O relatório de agosto já fala em importações menores de carne do Brasil, reforçando o aperto no abastecimento norte-americano.

No Brasil, o IBGE confirmou recorde de abates em 2024 e crescimento em 2025, enquanto a ABIEC registrou confinamento recorde de 8,8 milhões de cabeças, equivalente a 19,2% dos abates. A estrutura exportadora segue forte, mas o ambiente ficou mais complexo com as novas tarifas de 50% dos EUA.

Na Austrália, a MLA projeta queda do rebanho para 30,1 milhões em 2025 e elevação histórica do turn-off grainfed, o que confirma a fase de ajuste do ciclo e ajuda a explicar a pressão global sobre cortes de maior valor.

Ciclo da pecuária 2025 e retenção de fêmeas: por que isso encarece a carne

O ciclo pecuário tem movimentos conhecidos: períodos de liquidação de rebanho são seguidos por retenção de fêmeas para reconstrução, o que reduz abates e a oferta de carne no curto prazo. Quando três líderes globais fazem isso ao mesmo tempo, o impacto se amplifica.

Segundo análise setorial, os três maiores exportadores estão entrando na mesma fase do ciclo, fenômeno raro que tende a encurtar a oferta mundial por alguns anos. Para o consumidor, o efeito costuma aparecer em preços mais altos de cortes demandados em food service e varejo.

Além do volume menor, muda também o mix de carne. Menos animais prontos em sistemas intensivos reduz a disponibilidade de carne grainfed de padrão premium, sustentando cotações justamente nos cortes de maior valor.

Estados Unidos: rebanho no menor nível em décadas e produção menor em 2026

O estoque bovino norte-americano em 1º de janeiro de 2025 foi de 86,7 milhões de cabeças, com 27,9 milhões de vacas de corte, o que coloca o rebanho no menor patamar em mais de 70 anos. A seca desde 2022 e o abate de vacas aceleraram a queda.

Em agosto, o USDA-ERS reduziu a projeção de produção para 2025 e 2026. Para 2026, cortou 345 milhões de libras, para 25,470 bilhões de libras, citando retenção maior de novilhas e menos bezerros para colocação no fim de 2025 e início de 2026. Esse quadro ajuda a manter os preços do gado em níveis historicamente elevados.

O mesmo relatório ajustou para baixo as importações de carne em 2025 e 2026, com destaque para menor origem do Brasil. Em paralelo, reportagens mostram que a inflação da carne bovina passou a superar a dos demais alimentos, sinalizando que o consumidor pode começar a ajustar o carrinho de compras em 2026.

Brasil: recorde de abates, confinamento em alta e mais pressão com tarifas

O IBGE registrou recorde histórico de abates em 2024, com 39,27 milhões de cabeças, e divulgou que 2025 começou com novo crescimento nas comparações trimestrais. Isso confirma a fase forte do ciclo brasileiro, após anos de exportações robustas.

A ABIEC reporta que 8,8 milhões de animais foram terminados em confinamento em 2024, o que corresponde a 19,2% dos abates totais. Esse avanço da terminação intensiva aumenta a capacidade de resposta a picos de demanda, mas não neutraliza um cenário internacional de oferta curta quando EUA e Austrália também reduzem abates de fêmeas.

O ambiente externo ficou mais difícil com a tarifa de 50% anunciada pelos EUA em agosto de 2025 sobre a maior parte das importações brasileiras. O caso já chegou à OMC e a imprensa financeira relata um impasse diplomático, com potencial de encarecer e redirigir fluxos comerciais.

Austrália: rebanho menor e boom do grainfed sustentam preços globais

A Meat & Livestock Australia projeta o rebanho em 30,1 milhões em 30 de junho de 2025, com FSR acima do patamar de equilíbrio e tendência de queda adicional até 2027. Isso sinaliza destocking prolongado e menos oferta exportável no horizonte.

Ao contrário de percepções antigas, a Austrália vem batendo recordes de lotação e turn-off de confinamentos. No segundo trimestre de 2025, a utilização nacional de feedlots atingiu 93%, com 894 mil cabeças de turn-off e 112,9 mil toneladas de exportação de beef grainfed, 29% do total exportado.

Esse reforço do grainfed ajuda a suprir mercados premium, mas o ajuste de rebanho limita o volume total. Em paralelo, a MLA destaca picos de abate em 2024 e 2025, seguidos de recuo adiante, quadro típico de transição de ciclo que tende a sustentar preços internacionais.

Tarifas dos EUA sobre o Brasil e o redesenho do comércio de carne bovina

As tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil em agosto de 2025 foram aceitas para consulta na OMC e já aparecem nos relatórios do USDA como fator de redução de importações originadas do Brasil. Think tanks agrícolas estimam impacto bilionário no segundo semestre para frigoríficos brasileiros.

A imprensa internacional descreve um impasse político e econômico entre os dois países, com negociações travadas e pressão de empresas por uma saída diplomática. Enquanto isso, o mercado precifica custos maiores e desvios de rota em cargas que antes iam para os EUA.

Para o consumidor americano, a combinação de rebanho enxuto e tarifas ajuda a explicar a alta da carne bovina observada em 2025. Para o Brasil, a tendência é realocar volumes e proteger margens via mix e câmbio, sem perder de vista a demanda asiática.

O que esperar para 2026: preços, consumo e cortes premium

O USDA projeta uma nova queda de 2% na produção de carne bovina dos EUA em 2026, para 25,470 bilhões de libras, devido à maior retenção de fêmeas e menos bezerros para confinamento. Em um mercado já pressionado por tarifas e por ajustes na Austrália e no Brasil, o cenário favorece preços firmes.

Cortes premium e carne grainfed devem permanecer valorizados, com restaurantes e varejo readequando oferta e preço. Em paralelo, substituições por outras proteínas podem aparecer, mas historicamente o ajuste pleno do consumo ocorre de forma gradual.

Para o Brasil, o desafio é equilibrar demanda externa forte, custos logísticos e um ambiente comercial mais protecionista. A expansão de sistemas intensivos e a gestão de risco de preço podem amortecer choques e preservar competitividade no ciclo atual.

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Geovane Souza

Geovane Souza é especialista em criação de conteúdo na internet, ações de SEO e marketing digital. Nas horas vagas é Universitário de Sistemas de Informação no IFBA Campus de Vitória da Conquista.

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