Brasileiros na construção civil nos EUA adotam estratégias para driblar blitze do ICE e proteger trabalhadores imigrantes em Massachusetts.
Em Massachusetts, milhares de brasileiros que trabalham na construção civil vivem sob constante medo das blitze do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA).
Muitos imigrantes em situação irregular adotam estratégias para não serem identificados, como “parecer menos latino” e mudar a forma como se deslocam para o trabalho.
Douglas Souza, capixaba de 37 anos, que atua com instalação de pisos há um ano e meio nos EUA, resume o sentimento de sua comunidade: “A pior decisão da minha vida foi vir para cá.”
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O medo é tanto que ele evita sair de casa sem antes verificar notícias de operações do ICE em grupos de WhatsApp e observar a rua.
Como a construção civil se tornou alvo no Estado
A construção civil emprega cerca de 25,2% dos brasileiros em Massachusetts, segundo dados de 2021 do American Community Survey (ACS).
Esse índice é duas vezes maior do que a média nacional, tornando os trabalhadores brasileiros alvos fáceis para operações de imigração.
Douglas explica que eles são fáceis de serem identificados porque carregam ferramentas e usam vans com nomes das empresas.
Em resposta, muitos empresários têm alterado adesivos nas vans, removendo palavras em português ou sobrenomes que denunciam a origem latina.
Estratégias de trabalhadores e empresas para evitar prisões
Além de trocar a identidade visual de veículos, alguns brasileiros passaram a frequentar locais com menor concentração da comunidade, dirigir carros comuns nos EUA e contratar motoristas com status migratório regular.
Fernando Santos, dono de uma empresa de reformas em Miami, afirma que esta medida representa um custo extra, mas aumenta a segurança dos funcionários.
Tiago Machado, fiscal de obras em Boston, destaca outro efeito: a oferta de trabalho na construção civil diminuiu devido à insegurança. “As pessoas não querem construir, criar dívidas”, explica, apontando como a tensão afeta tanto americanos quanto imigrantes.
O impacto das deportações na comunidade brasileira
Desde que Donald Trump assumiu a presidência, o número de deportações aumentou drasticamente.
Em Massachusetts, apenas em maio, quase 1,5 mil imigrantes foram detidos, metade sem antecedentes criminais, em cidades com grande presença brasileira como Milford e Worcester.
Álvaro Lima, diretor do Instituto Diáspora Brasil, alerta para o impacto social: “Hoje, somos caçados como animais.”
A contribuição da comunidade vai além da economia, ajudando na revitalização de bairros antes abandonados, mas o clima de medo compromete atividades cotidianas e negócios.
Comércio e serviços afetados pelo medo
O receio de operações do ICE tem provocado queda no consumo em lojas e restaurantes brasileiros. Marcelo Gomez, importador de produtos brasileiros, relata que suas vendas caíram para apenas 15% do normal.
Gabriel, dono de um restaurante e marmoraria em Norwood, afirma que o movimento caiu 30% devido ao medo das famílias de frequentar estabelecimentos brasileiros.
Funcionários, inclusive, alteram horários para evitar blitz matinais e carregam documentos que permitam a guarda legal de filhos caso sejam detidos.
O Consulado de Boston já registra aumento expressivo na emissão de passaportes e certidões de nascimento.
Brasileiros buscam estabilidade e esperam retorno seguro
Douglas Souza, que entrou nos EUA pela fronteira com o México, mantém esperança de regularizar sua situação.
“Cometi um grande erro vindo para cá”, diz ele, que ainda pretende quitar a dívida de R$ 100 mil com o coiote e retornar ao Brasil em 2026.
Enquanto isso, milhares de trabalhadores brasileiros na construção civil continuam ajustando suas rotinas e empresas para sobreviver diante de operações intensificadas do ICE, equilibrando trabalho, segurança e medo em um país que, para muitos, representa oportunidades e riscos em igual medida.