Futuro do transporte de cargas pode ser decidido nas estradas da China, onde a tecnologia de hidrogênio para caminhões ganha força, e o mundo observa os passos dessa revolução energética silenciosa.
Enquanto muitos ainda discutem qual será o combustível do futuro, a China já toma a dianteira em uma corrida silenciosa que pode redefinir a indústria automobilística global.
A Toyota, uma das maiores fabricantes de veículos do planeta, soou um alerta sobre o avanço chinês no setor de caminhões movidos a hidrogênio, tecnologia tida como promissora para o transporte de longa distância.
Segundo Mitsumasa Yamagata, presidente da divisão de hidrogênio da montadora japonesa, o mundo corre o risco de repetir o mesmo erro cometido com os carros elétricos a bateria: permitir o domínio chinês sobre cadeias produtivas e infraestrutura.
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“A China é, hoje, o país mais avançado do mundo em caminhões a hidrogênio”, afirmou Yamagata durante uma conferência.
Ele destacou que o governo chinês tem investido massivamente na transformação das principais rotas logísticas em rodovias específicas para veículos movidos a hidrogênio, criando uma rede de abastecimento robusta e eficiente.
Combustível do futuro em jogo
Os veículos com célula de combustível de hidrogênio utilizam uma reação química com oxigênio para gerar eletricidade, tendo como subproduto apenas vapor d’água.
Por isso, são considerados uma alternativa limpa aos caminhões movidos a diesel.
Enquanto baterias são eficientes para carros de passeio, seu peso e tempo de recarga ainda são entraves para veículos pesados.
Por isso, o hidrogênio é visto como uma solução ideal para o transporte de cargas em longas distâncias, oferecendo reabastecimento mais rápido e maior autonomia.
Apesar disso, a adoção em larga escala esbarra em desafios logísticos e econômicos, como o custo do combustível, a escassez de postos de abastecimento e a necessidade de reduzir o valor de produção dos veículos.
China acelera enquanto o Ocidente hesita
De acordo com a Interact Analysis, a China vendeu 7.069 ônibus e caminhões com célula de combustível em 2024 — mais do que todas as outras regiões somadas.
Essa liderança é alimentada por subsídios estratégicos, apoio estatal e um mercado interno robusto.
Em abril de 2024, a mídia estatal chinesa anunciou a inauguração da primeira rota inter-regional de caminhões a hidrogênio do país, conectando Chongqing ao porto de Qinzhou em um trajeto de 1.150 km.
Na prática, o custo do hidrogênio na China é de 500 a 1.000 ienes por quilo (aproximadamente US$ 3,50 a US$ 7), enquanto no Japão o preço pode chegar a 2.000 ienes (cerca de US$ 14).
Parte dessa diferença se deve à produção do hidrogênio como subproduto da indústria siderúrgica chinesa, o que reduz significativamente os custos.
A corrida global por autonomia energética
Yamagata foi direto: “Não temos muito tempo restante. É importante acelerar rapidamente.”
Ele defende que, para reduzir o custo do hidrogênio e ampliar sua viabilidade, governos, empresas e institutos de pesquisa devem atuar de forma coordenada — algo que a China já faz com eficiência.
Em contraste, os Estados Unidos enfrentam incertezas sobre o futuro dos fundos para projetos de hidrogênio, especialmente se Donald Trump retomar a presidência.
Na Europa, a meta de produzir e importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável até 2030 é vista por especialistas como “irrealista.” E o Japão, mesmo pioneiro na pesquisa da tecnologia, caminha de forma lenta e hesitante.
Toyota, Hyundai e outros ainda acreditam
Mesmo com o crescimento dos veículos a bateria, montadoras asiáticas como Toyota, Hyundai e Honda ainda apostam no hidrogênio como o verdadeiro combustível do futuro.
A Toyota, por exemplo, investe na tecnologia há mais de 30 anos, tendo vendido 28 mil unidades do modelo Mirai desde 2014.
Recentemente, a montadora apresentou sua célula de combustível de terceira geração, com durabilidade equivalente à de um motor a diesel. A nova unidade pode ser acoplada em caminhões como um sistema único, reduzindo custos e facilitando a adoção por fabricantes de veículos comerciais.
A BMW também demonstrou interesse, e parcerias internacionais começam a se formar, com foco especial no mercado chinês.
O plano da Toyota para voltar ao topo
Apesar de reconhecer que o hidrogênio não revolucionará o mercado de carros de passeio no curto prazo, a Toyota redirecionou seus esforços para o segmento de caminhões e ônibus, onde a tecnologia pode se destacar.
Para isso, a montadora abriu uma fábrica em Pequim em parceria com a chinesa SinoHytec, com capacidade para produzir até 10 mil sistemas de célula de combustível por ano.
A ideia é usar o exigente mercado chinês como campo de testes, aprimorando os produtos antes de lançá-los no Japão, Europa e Estados Unidos.
“Ao refinar nossos produtos no difícil ambiente de mercado da China, lançaremos soluções competitivas globalmente”, explicou Yamagata.
Hidrogênio: aposta ou utopia?
O futuro do hidrogênio no transporte ainda levanta debates.
Por um lado, seu uso em veículos comerciais pode ser a chave para uma logística global descarbonizada.
Por outro, o avanço veloz dos carros elétricos a bateria e os altos custos de infraestrutura podem ofuscar sua adoção em massa.
Mesmo dentro da China, a ascensão dos ônibus e caminhões elétricos movidos a bateria indica que nada está garantido, e que a competição entre as duas tecnologias segue acirrada.
O alerta da Toyota é claro: sem ação coordenada e investimento, o Ocidente poderá mais uma vez assistir à liderança chinesa se consolidar — agora sobre o hidrogênio.
Você acredita que o hidrogênio ainda pode se tornar o principal combustível do transporte de cargas ou o futuro já pertence aos veículos elétricos a bateria?