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Tinta revolucionária reflete 97% da luz solar, reduz em até 6 °C a temperatura interna e ainda produz 4,7 litros de água potável por dia diretamente do ar

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 03/11/2025 às 12:00
Tinta reflete 97% da luz solar, reduz calor em 6 °C e produz até 4,7 L de água por dia a partir da umidade do ar
Tinta reflete 97% da luz solar, reduz calor em 6 °C e produz até 4,7 L de água por dia a partir da umidade do ar
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Criada por pesquisadores da Universidade de Sydney, a nova tinta reflete 97% da luz solar, reduz a temperatura interna das casas em até 6 °C e ainda transforma o vapor do ar em água potável, oferecendo uma solução sustentável e sem consumo de energia

Uma tinta de telhado capaz de refletir quase toda a luz solar e coletar água fresca diretamente do ar promete revolucionar a forma como resfriamos e abastecemos nossas casas. Desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Sydney em parceria com a startup Dewpoint Innovations, o novo revestimento de polímero nanoestruturado reflete até 97% dos raios solares e, simultaneamente, condensa o vapor d’água em gotas que podem ser coletadas.

Em testes, o material conseguiu manter a temperatura interna até 6 °C mais baixa que a do ambiente externo. Essa diferença térmica cria o efeito de condensação semelhante ao embaçamento de um espelho frio, resultando em um fluxo contínuo de pequenas gotas d’água.

No telhado do Sydney Nanoscience Hub, onde foram conduzidos os testes, a tinta coletou orvalho em mais de 30% do ano, gerando até 390 mL de água por metro quadrado diariamente.

Embora pareça modesto, um telhado de 12 m² pode produzir cerca de 4,7 L de água por dia em condições ideais — quantidade suficiente para cobrir as necessidades básicas de uma pessoa.

A Dewpoint Innovations afirma que um telhado residencial comum poderia gerar água suficiente para uso diário, especialmente se combinado com sistemas tradicionais de coleta de chuva.

Em Sydney, por exemplo, a precipitação anual permite coletar cerca de seis vezes mais água da chuva do que a condensada, mas a proporção mudaria em regiões mais áridas.

Um avanço para o futuro sustentável

A pesquisadora líder, professora Chiara Neto, do Instituto de Nanotecnologia e da Escola de Química da Universidade de Sydney, destacou que a tecnologia representa um marco na ciência dos “telhados frios” e nas soluções hídricas sustentáveis.

“Essa tecnologia não apenas aprimora a ciência dos revestimentos de telhados frios, mas também abre caminho para fontes de água doce descentralizadas e de baixo custo, uma necessidade crítica diante das mudanças climáticas”, afirmou Neto.

Durante seis meses, a equipe monitorou o desempenho do revestimento em testes externos, coletando dados minuto a minuto sobre a eficiência de resfriamento e captação de água. O estudo mostrou que o orvalho podia ser coletado em mais de 32% do ano, inclusive durante períodos sem chuva.

A tinta também demonstrou resistência ao sol intenso e às condições climáticas severas, sem sinais de degradação.

Estrutura que reflete a luz sem agredir o meio ambiente

A aparência do material lembra a de uma tinta branca comum, mas sua estrutura é a chave para o desempenho. Enquanto as tintas comerciais usam dióxido de titânio como pigmento para refletir luz ultravioleta, o novo revestimento utiliza uma estrutura porosa de fluoreto de polivinilideno-co-hexafluoropropeno (PVDF-HFP).

Essa composição cria bolsas microscópicas de ar que dispersam a luz solar em múltiplas direções, evitando brilho excessivo e dispensando produtos químicos absorventes de UV, que tendem a se degradar com o tempo.

O resultado é uma superfície durável, autolimpante e resistente às intempéries, capaz de manter desempenho elevado por longos períodos. Segundo Dr. Ming Chiu, diretor de tecnologia da Dewpoint Innovations, o projeto alia eficiência energética e conforto visual.

“Nosso design alcança alta refletividade por meio de sua estrutura porosa interna, oferecendo durabilidade sem as desvantagens ambientais dos revestimentos à base de pigmentos”, explicou.

“Removendo os materiais que absorvem raios UV, superamos os limites tradicionais de refletividade solar, evitando o ofuscamento e tornando o produto mais adequado a aplicações práticas.”

Captação de orvalho e múltiplos usos da água gerada

A superfície lisa da camada superior facilita o escoamento das gotas de água até pontos de coleta. Assim, grandes áreas pintadas poderiam funcionar como sistemas de captação de orvalho em larga escala.

A equipe vê potencial para o uso da água gerada em horticultura, sistemas de nebulização para resfriamento e até na produção de hidrogênio.

A professora Neto destacou que a tecnologia é particularmente útil em locais com umidade noturna, mesmo que situados em regiões áridas ou semiáridas.

Embora as condições de umidade sejam ideais, o orvalho pode se formar mesmo em regiões secas, onde a umidade aumenta durante a noite”, disse. “Não se trata de substituir a chuva, mas de complementá-la, fornecendo água quando outras fontes são escassas.”

Da pesquisa ao mercado

Diferente de muitas inovações que permanecem restritas aos laboratórios, essa tecnologia já está sendo ampliada para uso comercial. A Dewpoint Innovations desenvolve agora uma versão à base de água, aplicável com rolos ou pulverizadores convencionais, o que deve facilitar sua adoção em residências e construções industriais.

“Na Dewpoint, temos orgulho de firmar parceria com a Universidade de Sydney para tornar realidade essa inovação na captação passiva de água atmosférica”, afirmou Perzaan Mehta, CEO da empresa. “É uma solução escalável e sem consumo de energia, capaz de transformar telhados e infraestruturas remotas em fontes confiáveis de água potável.”

A equipe acredita que o produto chegará ao mercado em breve. Segundo Chiara Neto, o impacto potencial vai muito além da economia de energia. “Imagine telhados que não apenas se mantêm mais frescos, mas também produzem sua própria água potável — essa é a promessa dessa tecnologia.”

O estudo completo foi publicado na revista científica Advanced Functional Materials, reforçando o caráter inovador e o potencial global dessa tinta inteligente que alia eficiência térmica e geração sustentável de água.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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