Pesquisadores da UFRR identificaram concentrações inéditas de terras raras em Caracaraí, no centro-sul de Roraima. O potencial é até 50 vezes maior que depósitos convencionais e pode reposicionar o Brasil como potência global em minerais estratégicos.
As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos cruciais para o mundo moderno. Usados em ímãs permanentes, baterias de lítio, catalisadores, telas de LED, supercondutores e sistemas de defesa, esses minerais são considerados insumos estratégicos para a transição energética e para a chamada indústria 4.0.
Hoje, a China domina cerca de 70% da produção global, o que gera preocupações sobre dependência e risco geopolítico. Nesse contexto, novas descobertas fora da Ásia ganham peso imediato, especialmente quando se trata de países com grande potencial como o Brasil.
A descoberta em Caracaraí
De acordo com a Revista Fórum, pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) anunciaram a identificação de concentrações de terras raras até 100 vezes superiores ao normal em amostras coletadas no Complexo Mineral Barreira, localizado na zona rural de Caracaraí, a cerca de 140 km de Boa Vista.
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Os estudos iniciais, conduzidos por Vladimir de Souza, Carlos Eduardo Lucas Vieira e Lorena Malta Feitosa, encontraram teores expressivos de elementos como ítrio, essencial na fabricação de ligas metálicas, semicondutores e dispositivos ópticos.
As medições revelaram até 296 partes por milhão (ppm) de ítrio, número que chama a atenção de laboratórios internacionais e de grandes indústrias.
Dimensão inédita da jazida
A estimativa é que a área de Caracaraí tenha 100 mil hectares de potencial mineral, com depósitos até 50 vezes maiores do que os convencionais.
Se confirmados por sondagens mais profundas, esses números colocariam o Brasil como a segunda maior reserva mundial de terras raras, atrás apenas da China.
O terreno analisado pertence ao advogado Gustavo Hugo de Andrade e ao empresário Lucergio Barreira Abreu da Silva.
A localização é considerada estratégica, pois fica a 60 km das terras indígenas mais próximas e a 50 km de áreas de preservação ambiental, reduzindo, ao menos em tese, os riscos de sobreposição direta com territórios protegidos.
Quem regula e o que vem pela frente
O processo está sendo acompanhado pela Agência Nacional de Mineração (ANM), pelo Conselho de Defesa Nacional e pela Polícia Federal, com coordenação técnica da UFRR. As próximas etapas envolvem:
Mapeamento geológico detalhado;
Coleta ampliada de amostras;
Perfurações de sondagem;
Avaliação econômica da jazida.
Somente após essa etapa será possível saber se a riqueza encontrada em laboratório se traduz em viabilidade industrial.
O marco regulatório brasileiro permite que pessoas físicas ou empresas solicitem autorização de pesquisa mineral, desde que apresentem relatórios técnicos e comprovem capacidade financeira.
O prazo é de até três anos, e o descumprimento gera multas.
Esse processo é a porta de entrada para a lavra mineral, momento em que a exploração comercial é oficialmente liberada.
Brasil no mapa global das terras raras
O Brasil já possui áreas em exploração, como os projetos de argilas iônicas em Goiás (Serra Verde Pesquisa e Mineração), e depósitos promissores em Poços de Caldas, Araxá e Tapira, em Minas Gerais.
A descoberta em Roraima, porém, adiciona um novo polo estratégico dentro da Amazônia Legal.
O presidente Lula já afirmou em discurso que “ninguém vai colocar o dedo nos nossos minerais críticos”, reforçando que o tema é de soberania nacional.
A declaração mostra que o governo enxerga os elementos de terras raras não apenas como oportunidade econômica, mas também como ativo estratégico de defesa e diplomacia.
O dilema ambiental e social
Apesar do potencial econômico, a descoberta traz preocupações ambientais.
A mineração em larga escala na Amazônia pode gerar impactos como:
Desmatamento e degradação do solo;
Contaminação de rios e aquíferos;
Pressões sobre comunidades tradicionais.
Pesquisadores alertam que a exploração só será sustentável se houver planos de recuperação ambiental, monitoramento independente e participação das comunidades locais.
Caso contrário, os ganhos econômicos podem ser anulados por perdas ambientais e sociais irreversíveis.
Consequências geopolíticas
Se confirmada a escala da jazida, o Brasil passará a ter poder de barganha internacional.
Isso porque países como Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia estão em busca de alternativas para reduzir a dependência da China.
Com terras raras abundantes, o Brasil pode se tornar um fornecedor estratégico de minerais críticos, atraindo investimentos, parcerias tecnológicas e acordos bilaterais.
Por outro lado, isso também aumenta a pressão sobre o governo para definir políticas claras de exploração, exportação e industrialização local.
A descoberta em Caracaraí, em Roraima, pode representar a maior virada do Brasil no setor de minerais críticos em décadas.
Se as estimativas de depósitos até 50 vezes maiores que os convencionais se confirmarem, o país passará a disputar protagonismo global com a China.
O desafio será equilibrar exploração econômica, preservação ambiental e interesses geopolíticos.
A riqueza está no subsolo, mas cabe ao Brasil decidir se ela será transformada em dependência externa ou em alavanca para inovação e desenvolvimento nacional.
E você, acredita que o Brasil deve priorizar a exploração das terras raras de Roraima para ganhar relevância mundial, mesmo diante dos riscos ambientais? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem acompanha de perto esse debate estratégico.