Erguido entre colinas verdes e de frente para o rio Yangtze, o Templo Wuhuo permanece intocado há séculos, guardando a arquitetura e os vestígios de um dos mais antigos santuários da região oriental de Sichuan.
O Templo Wuhuo, conhecido como um santuário de 400 anos escondido nas montanhas de Chongqing, desafia o tempo e o esquecimento. Construído durante o período Wanli da Dinastia Ming, o mosteiro foi um dos três grandes templos antigos do leste de Sichuan. Apesar de sua imponência e localização privilegiada apoiado por montanhas e de frente para o Yangtze, há muito não abriga monges nem rituais. A estrutura permanece de pé, mas o silêncio domina o que antes foi um centro espiritual vibrante.
Explorar suas escadarias cobertas de musgo e salões vazios é mergulhar em um passado que sobreviveu quase intacto. O local, situado no condado de Fengdu, mantém inscrições da Dinastia Qing, relevos esculpidos e tanques de pedra usados no combate a incêndios vestígios de uma engenharia antiga feita para durar.
Arquitetura moldada pela montanha

O templo segue o padrão clássico dos mosteiros Ming e Qing: dois portões, três corredores e pátios interligados. A construção “voltada para o sul” era símbolo de harmonia e equilíbrio, um princípio essencial da arquitetura chinesa tradicional.
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A visita começa por uma escadaria irregular de pedra, tomada pelo verde. Os portões exibem ângulos de cornijas elegantemente curvados e esculturas em relevo.
Na trave principal, uma inscrição indica o nono ano de Tongzhi, datando o último grande restauro para meados do século XIX.
Dentro, pilares de pedra sustentam o salão principal, onde o som ecoa com intensidade quase ritual. A ausência das antigas estátuas de Buda muitas quebradas ou removidas revela o abandono, mas também a resistência das formas.
Cada rachadura no piso e cada viga desgastada contam uma história de séculos de chuva, vento e reverência esquecida.
De Yongxing a Wuhuo: três vidas de um mesmo templo

Antes de se tornar o atual Templo Wuhuo, o mosteiro teve duas relocações históricas. O primeiro erguimento, conhecido como Templo Guguan, ficava no topo da montanha e foi destruído por incêndios causados pelos ventos intensos.
No reinado de Kangxi, mudou-se para a encosta, sob o nome de Templo Yongxing. Décadas depois, sob o comando do monge Miaojian, estabeleceu-se definitivamente onde está hoje, assumindo o nome que carrega há mais de dois séculos.
Essas mudanças não foram apenas geográficas, mas espirituais: cada reconstrução simbolizou a continuidade do budismo local em meio às adversidades.
O Templo Wuhuo é, em essência, uma narrativa de persistência arquitetônica e religiosa.
Ecos de um tempo imóvel
Os tanques de pedra talhados em blocos únicos, ainda cheios de água e musgo, revelam o engenho dos monges que viveram ali.
As inscrições em caracteres tradicionais e as esculturas em pedra formam um mosaico histórico. Ao redor, as salas Zen e a antiga cozinha guardam vestígios da rotina monástica fogões, moedores, tigelas e armários de madeira ainda no lugar.
O sistema de drenagem, projetado para conduzir a água da chuva montanha abaixo, mostra a integração do templo com o relevo natural.
Nada ali é aleatório: cada canal, cada porta, cada pedra fala de um tempo em que espiritualidade e arquitetura eram uma só linguagem.
Hoje, o Templo Wuhuo não é destino turístico nem local de culto. Está deserto, mas não esquecido. Sua preservação quase total é um paradoxo: o abandono protegeu o que o excesso de visitantes destruiria.
O templo continua de pé como testemunha de uma era que unia arte, fé e natureza.
O santuário de 400 anos escondido nas montanhas de Chongqing é mais do que uma ruína é um arquivo vivo, uma pausa no ritmo do mundo moderno, um lembrete de que o tempo não apaga o que o espírito humano constrói com devoção.
Você acha que templos esquecidos como o Wuhuo deveriam ser restaurados ou permanecer intocados como parte da memória silenciosa do passado?



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