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Tarifaço dos EUA derruba o preço da comida no Brasil, mas especialistas alertam: essa calmaria não vai durar muito

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 06/11/2025 às 14:13
Tarifaço alivia o preço da comida no Brasil, mas câmbio, safra de verão e comércio exterior podem reverter. Entenda os riscos e prazos.
Tarifaço alivia o preço da comida no Brasil, mas câmbio, safra de verão e comércio exterior podem reverter. Entenda os riscos e prazos.
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A leitura mais recente indica que o preço da comida no Brasil recuou após o tarifaço de 50% aplicado pelos Estados Unidos a parte relevante das exportações brasileiras, com efeito indireto sobre oferta interna, câmbio e realocação de vendas para outros mercados, especialmente na Ásia, enquanto especialistas alertam para movimentos apenas transitórios e possíveis pressões à frente

O preço da comida no Brasil entrou em trajetória de alívio nos últimos meses, após um primeiro semestre de alta. Analistas apontam três vetores principais para a queda recente: redirecionamento de produtos antes destinados aos EUA, que aumenta a oferta doméstica, valorização do real frente ao dólar, que barateia itens importados e insumos, e safras favoráveis em grãos e proteínas. Em paralelo, exceções tarifárias e ajustes pontuais de fluxo mantiveram algumas exportações ativas, sem o impacto negativo inicialmente previsto.

A avaliação técnica, porém, é prudente. A calmaria tende a ser temporária diante de riscos conhecidos: entressafra e clima de verão, que podem reduzir produtividade, realinhamentos comerciais entre grandes compradores e o reposicionamento de preços internacionais em dólar. Em síntese, a desinflação recente melhora o curto prazo, mas não garante tendência sustentada ao longo de 2026.

O que explica a queda recente

A primeira explicação é mecânica. Com tarifas elevadas, parte da produção que teria como destino o mercado norte-americano foi absorvida por compras internas ou redirecionada para outros destinos, aliviando pressões locais.

Esse movimento reduz a disputa por oferta no varejo e contém reajustes em itens sensíveis da cesta.

A segunda explicação é cambial. A valorização do real no período diminui o custo de insumos e modera a formação de preços de alimentos com cadeias parcialmente dolarizadas.

Em paralelo, safras melhores em arroz, feijão e proteínas contribuíram para uma maior disponibilidade e arrefecimento de preços no atacado. Esse alívio também reflete câmbio mais favorável.

Como o tarifaço se propagou pelos preços

O tarifaço produz dois canais. No externo, produtores buscam novos compradores, por vezes com preços em dólar mais baixos para ganhar mercado, o que ancora cotações internacionais.

No interno, parte da oferta remanescente amortece reajustes nos pontos de venda, reduzindo a pressão imediata sobre o consumidor.

Ainda assim, o efeito não é uniforme entre cadeias. Itens com contratos e prazos logísticos mais rígidos demoram mais a repassar a nova dinâmica.

Mercadorias com substitutos próximos respondem mais rápido, já que o consumidor migra de um produto para outro quando o preço relativo muda.

Sinais de temporariedade e riscos no horizonte

Economistas chamam atenção para um conjunto de fatores de reversão.

A entressafra em proteínas e hortifrutis pode reapertar a oferta na virada do verão, enquanto eventos climáticos típicos do período afetam produtividade e logística.

Se a produção recuar, a folga de preços tende a diminuir.

O reposicionamento comercial entre grandes economias também importa.

Se acordos bilaterais alterarem fluxos de compra, especialmente em soja e carnes, a competição por mercados pode reduzir a disponibilidade doméstica e reacender pressões no varejo.

Em cenários assim, a queda recente pode perder força rapidamente. A safra de verão pode reverter parte do alívio.

Efeitos setoriais: café e carnes em foco

No café, choques anteriores e dinâmica de contratos futuros mantiveram preços elevados por longo período.

A recente melhora de oferta doméstica produziu recuos pontuais, mas especialistas lembram que o patamar ainda é alto e a sensibilidade a clima e câmbio permanece significativa.

Nas carnes, a leitura é distinta. Mesmo com alívio recente em alguns cortes, entressafra e exportações firmes podem estreitar a oferta interna.

O consumidor tende a substituir cortes mais caros por opções mais baratas, o que redistribui a pressão entre proteínas e pode elevar preços relativos de frango e ovos quando a demanda migra.

Comércio exterior e realinhamento de destinos

Com a tarifa elevada nos EUA, vendas foram reencaixadas em mercados asiáticos, com destaque para China e Índia, além de destinos menores que aumentaram compras no curto prazo.

Em alguns casos, mesmo com a sobretaxa, produtos como café e carnes mantiveram desempenho resiliente em remessas pontuais, refletindo competitividade de preço e qualidade.

Esse redirecionamento não é ilimitado. À medida que outros fornecedores disputam os mesmos clientes, preços em dólar ajustam e a margem de manobra diminui.

Se o comércio exterior recuar ou mudar de origem, a oferta doméstica pode variar com mais intensidade e reintroduzir volatilidade no preço da comida no Brasil.

O papel do câmbio e dos insumos

A taxa de câmbio segue como variável-chave. A valorização do real melhora o custo de insumos, rações, embalagens e importados, o que deprime pressões no curto prazo.

O inverso também é verdadeiro: um real mais fraco reacelera custos e pode contaminar o varejo com alguns meses de defasagem.

Além do câmbio, custos logísticos e energéticos compõem a base de preços. Fretes, armazenagem e energia mais baratos favorecem a descompressão no atacado.

Choques nesses componentes, por sua vez, apertam margens e antecipam repasses ao consumidor.

Indicadores para monitorar nos próximos meses

Para entender a tendência do preço da comida no Brasil, três frentes merecem acompanhamento. Primeiro, a safra de verão e as condições meteorológicas, que determinam oferta e custos.

Segundo, o câmbio e a dinâmica de juros, com impacto direto em insumos e planejamento de estoques.

Terceiro, fluxos de comércio em soja, carnes e café, que ajustam disponibilidade interna e preços relativos.

Além disso, é útil observar os dados de alimentos e bebidas nos índices de preços, que capturam o efeito de atacado para varejo com defasagem.

Oscilações em contratos e leilões de compras governamentais, quando ocorrerem, também podem recalibrar o curto prazo.

O tarifaço gerou um alívio tático no preço da comida no Brasil, potencializado por câmbio mais favorável e safras positivas, mas o quadro não está garantido para 2026.

A combinação de entressafra, clima, realinhamentos comerciais e câmbio pode reverter parte da queda e devolver volatilidade a itens sensíveis do carrinho de compras.

A combinação de tarifaço, câmbio, safra de verão e comércio exterior seguirá definindo o preço da comida no Brasil.

Na sua visão, qual variável pesa mais para os próximos três meses no preço da comida no Brasil: câmbio, safra de verão ou redirecionamento do comércio exterior?

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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